sábado, 26 de novembro de 2011

Vigiai e Orai


Despertei no meio da noite, sentia um calor e arrepios de frio momentâneos. Esforçava-me para pegar no sono, o que não aconteceu. De certo que havia dormido mais cedo do que o de costume, por conta de uma  gripe. O corpo estava quebrado.

Na noite anterior, na desobsessão, recebi uma comunicação onde aquele espírito padecia de sangramento nasal. Pude perceber o sangue escorrelher-lhe a face a ponto de acreditar que eu estava lavada de sangue, depois daquele instante, o meu nariz começou a escorrer, "corizar", e arder. Fiquei em dúvidas após socorrê-lo, não sabia se era dele ou minha a percepção, e agora, diante da gripe que me acompanhou, inquietei-me ainda mais. Havia estado antes com renite alérgica pelo uso sem proteção de pesticida, o qual sou extremamente alérgica. Contudo, segui para o trabalho evitando fazer uso do anti hinstâminico. Esse conjunto de fatores deixaram em mim, esta interrogação, quem de nós dois sofriamos naquele percalço?

Segue que, quando ocorre assim, sigo para casa com a insatisfação de quem falhou no cumprimento do dever. Fico com a incerteza de ter sido um bom instrumento de trabalho na Seara do Senhor. Sempre procuro deixar os meus problemas do lado de fora do portão de entrada da Casa, num ritual sempre alegre com os meus amigos obsessores, brinco: "aqui nos separamos, tenho que trabalhar" e, damos risadas. "Recordai-vos de que Jesus disse que somos todos irmãos, e pensai sempre nisso, antes de repelirdes o leproso ou o mendigo. Adeus! Pensai naqueles que sofrem, e orai" (cap. XIII; 4).

Eles parecem compreender muito bem. Sei que muitos dos que me acompanham serão atendidos  pela Espiritualidade da Casa, de acordo com a sua necessidade e urgência, mas não cabe a mim está decisão, pois que sou mero instrumento de trabalho, e a mim só cabe cumprir com a responsabilidade assumida com todos: Espiritualidade, dirigentes da Casa, especialmente, com os sofredores e, para comigo mesma, porque disso depende a minha evolução espiritual. Logo, se algo não saiu bem, preocupa-me .

Acordei, então, irritada com alguns problemas, com a noite mal dormida, devido ficar sufocada com a gripe.  Em um dado momento, ao transferir o arroz da embalagem para o pote de guarnição, o saco parecia ter esticado na minha mão, e o arroz  espalhou-se pela cozinha. Então, perdi o contrôle e entrei em confronto com os meus pensamentos: "você não vai me irritar com seus conselhos". Limpei a cozinha e saí sem dar-lhe mais atenção. Tomada pelo cansaço e sono, antes da 12hs, dormi, acordando somente passando das 14 hs. No momento em que almoçava, um ex-amor, hoje amigo, telefonou-me. Um amigo comum havia falecido. Então, convidou-me para sair, queria conversar. Sabendo de sua amizade com o falecido,  em condolência, resolvi aceitar. Acreditava que em mim, não havia mais ressentimentos por conta do rompimento daquela relação afetiva, há um ano.

Paramos para conversar, passeamos, parecia realmente que não mais havia mágoa entre nós, que já haviamos  nos perdoado e que seriamos bons amigos agora. Ledo engano. Na volta para casa, de um instante para outro, começamos a falar do passado, das falsas promessas, das juras de amor eterno, do sentir-nos traídos, e sem perceber, a paz esvaíra-se. Quando dei por mim, estava  aos berros, alterada aos extremos, com um arrependimento enorme de ter-lhe aceito o convite. As lágrimas já corriam a minha face, de tão ofendida estava com aquele ser arrogante, do qual um dia preferi a distância. Percebi neste momento o quanto é difícil perdoar de coração. O quanto amor e ódio andam juntos, de mãos dadas. Cheguei em casa arrasada depois de um reencontro que deveria selar a paz entre nós.

Motivo pelo qual coloquei-me mais cedo na cama, despertando a está hora, com tantas inquietações, colocando-me a escrever para vocês, amigos queridos. "Você pensa realmente que é fácil perdoar aquele que lhe traiu, riscou sua alma?", interrogou-me aquela voz que vez ou outra acompanha-me (amigo obsessor). "Não, não é!". Respondi-lhe. Bastou uma provocação apenas para que explodisse em mim, toda mágoa, ressentimento e arrependimento de ter-lhe dado, mais uma vez, a oportunidade de ofender-me. "Estúpida!", pensei . Aquela voz cobrava-me atitude. 

"Perdão, amor, caridade são palavras doces na boca e amargas no coração. Palavras pequenas de grande valor, porém, na prática, tornam-se entraves na nossa caminhada. Basta um só momento de invigilância, e explodimos em raiva, ódio, vingança, palavras não doces e que pelo seu alto teor de amargor, sobressaem às nossas decisões",  alertou-me o meu amigo obsessor, quase a rir-se de mim.

Porém, agora aquela voz  mais benevolente aconselhou-me: "Por isso, Vigiai e Orai Sempre! Os obsessores estão sempre a espreitar-lhe,  para lhe por a prova as intenções da alma. Dê-lhe as costas, mostre-se superior, então, conhecerás a  sua irá. Falar de perdão é fácil, viver o perdão requer desvelamento da alma, resignação, fé ardúa.  Para ensinar é preciso antes tomar para si a lição. Ensina-se pelo comportamento, e não adianta querer esconder de si mesmo, pois há quem esteja atento e que lhe cobrará, colocando-o em prova. Nada acontece por acaso. A vida não é uma sucessão de acasos.  Dai a necessidade de oração e vigilância constante do nosso coração. É ele que devemos sempre atingir, porque é nele que seremos sempre atingidos. É no coração que estão guardadas as nossas fraquezas, mas também a nossa vitória" (Espírito Protetor).

Abrindo o Evangelho, prosseguiu: "Quero que compreendais bem o que deve ser a caridade moral, que todos podem praticar, que materialmente nada custa, e que não obstante é a mais difícil de se por em prática. A caridade moral consiste em vos suportardes uns aos outros, o que menos fazeis nessse mundo inferior, em que estais momentâneamente encarnados. Há um grande mérito, acreditai, em saber calar para que o outro mais tolo possa falar: isso é também uma forma de caridade. Saber fazer-se de surdo, quando uma palavra irônica escapa de uma bôca habituada a caçoar; não ver o sorriso desdenhoso com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se julgam superiores a vós, quando na vida espírita, a única verdadeira, estão às vezes muito abaixo: eis um merecimento que não é de humildade, mas de caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é a caridade moral."(Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita, cap. XIII; 9. O Evangelho segundo o Espiritismo).

Fora exatamente o que havia ocorrido naquele reencontro. Estamos sempre medindo forças, numa incessante "queda de braços" conosco mesmo. Somos uma mistura de amor sublime e ódio eterno. Está foi a lição passada para mim e, para o meu amigo obsessor, nesta noite de trabalho, por meu  Mentor Espiritual. Creiam ou não, para todos vocês da  Seara Espírita. Assim Seja!

Luz e Amor!

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.