quarta-feira, 24 de abril de 2013

FAZER BEM O BEM

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Em 24-04-2013, às 11hs.

Pensei muito sobre o que me ocorrera na Reunião Mediúnica, a minha reação diante da morte, meu pensamento em desistir da caminhada, era demais para mim. Percebi que morrer é difícil para aquele que morre e, a minha dor não era maior do que a sua. A dor de não poder abraçar um filho e sentir o calor do corpo onde o fluido vital permeia. Constatar que não se é mais dono de bens quaisquer, não se é dono da casa onde se residia, do automóvel que se dirigia, que, muitas vezes, levou-se uma vida inteira trabalhando para se conquistar, privando-se do gozo de se estar ao lado de quem se ama, da família, dos amigos, e, ainda, morrer sem nem ao menos ter terminado de pagá-lo.

Reconhecer que nem mesmo o seu próprio corpo lhe pertenceu, foi uma aquisição momentânea para que se pudesse trafegar na Terra: "o carro físico". Perceber que se perdeu anos de uma existência buscando uma felicidade que não estava no mundo, pois que, o mundo terreno é transitório. A verdadeira felicidade está onde nunca nos colocamos, dentro de nós mesmos. Então, vem a morte sem aviso prévio, e só se recebe pelo bem que se fez: "onde está o teu coração aí está o teu tesouro" (Jesus). Contudo, a dor por mais terrível que seja, ela é passageira.

Refleti sobre fazer o bem. Como estou praticando os Ensinamentos de Jesus? O que é ser médium? O que Deus deseja que eu faça enquanto instrumento de sua Seara? Quantas vezes tenho deixado de agir com doçura e paciência com o meu semelhante, e, comigo mesma? Sim, devemos ser tolerantes conosco, reconhecendo que somos seres imperfeitos. Contudo, compreender que ser tolerante não é ser conivente. Eu posso errar, o outro pode errar, mas, é necessário fazer desse erro algo melhor, uma lição de vida,  transformar o erro em aprendizado. Deus não permite um mal, se não por um bem maior.

O erro não acontece em nossas vidas para desanimarmos e nem para desistirmos de seguir, sentindo-nos seres inferiores, deve servir de alavanca impulsionando-nos à frente, ao Alto. Quando desanimamos frente aos obstáculos que a vida nos impõe, estamos fadados ao fracasso, é morte prematura da semente sem florescer. É preciso coragem e fé. Não a fé simplória do cotidiano, mas, a fé inabalável, a confiança de que podemos contar com Jesus em qualquer situação: "Eu sou contigo" (Jesus). Acreditar-se capaz porque Deus está consigo.

Não é preciso ser médium e nem ser Espírita para se fazer o bem. O médium nada tem de especial. "Os médiuns são almas com passado desorganizado" (Emmanuel). A mediunidade não é uma missão, e sim, uma prova a serviço da renovação do próprio médium. O médium a serviço do bem deve deixar de "brincar de ser espírita" e adquirir um domínio sobre si mesmo. Não se deixar levar pela vaidade própria do médium, nem se deixar melindrar por comentários maldosos, intrigas, inveja, maledicência, comum a todos os lugares onde encontra-se muitos reunidos.

Seguindo a orientação de Emmanuel: "Se abraçaste a mediunidade, previne-te contra o orgulho como quem se acautela contra um parasita destruídos". O orgulho, está no Livro dos Médiuns, questão 228, de todas as imperfeições morais é a que mais os maus Espíritos gostam de explorar por ser aquela que mais gostamos de ocultar, se pudéssemos esconderíamos de nós mesmos. Faz-se necessária uma conduta ética para evitar a implantação das trevas nos trabalhos mediúnicos. É preciso estar bem consigo para bem poder servir. Fazer bem o bem.

Estava passando por um conflito interno, confirmar o desencarne de alguém querido. Depois dos sonhos, prenúncio de sua partida, disse a mim mesma: "Eu sou espírita, já tenho algum entendimento sobre a vida, eis que o Espírito não morre, não devo chorar". Porém, "chorar é a expressão mais pura dos nossos sentimentos. Chorar é trazer esses sentimentos ao mundo. Deixar de chorar é impedir que esses sentimentos se manifestem". Parece que ser espírita nos dá um aval que nos liberta dos sofrimentos terreno. Eu sou alma, ser espírita não me tornou imune as dores, nem as vicissitudes da vida. É normal que eu sinta a sua partida, a diferença, hoje, está em saber como agir diante desse sentimento. A dor é involuntária, o sofrimento eu posso escolher. A Doutrina Espírita não nos liberta das dores, mas, ensina a compreendê-las, contribuindo para que consigamos transformá-las em remédio para a nossa alma.

O que me trouxe a esta reflexão sobre estar bem para bem servir, foi a seguinte passagem de uma palestra de Agnaldo Paviani, ele conta: "Uma senhora, trabalhadora de um Centro Espírita, responsável pela sopa para distribuir aos pobres, preparava a sopa como sempre, cantarolando enquanto mexia. Um dia entrou na cozinha o dirigente da Casa e disse-lhe: "a senhora precisa melhorar a sopa, há três dias estão reclamando que a sopa não está indo boa", e, saiu dando-lhe as costas. Neste instante, a senhora melindrada com o seu comentário, fechou-se e deixou de cantarolar, pensando: "a sopa está ruim, pois que arrume outra sopeira, aqui eu não trabalho mais".

Ela, no seu íntimo, não estava bem, apesar de tentar não transparecer. Se estivesse, não deixaria se magoar pelo comentário e faria, antes, uma prece pelo dirigente, continuaria o seu trabalho a cantar com amor. Que energia ela estava doando naquele alimento? Então, é preciso estar bem para se fazer o bem. Muitas vezes, sufocamos sentimentos dentro de nós e não nos apercebemos. E, ao menor agravo, estouramos, entramos em desarmonia, "fechamos a cara" e desistimos.

É preciso olhar para dentro de nós, e analisar se estamos dando o melhor que há em nós. Se estamos fazendo o bem da melhor maneira. Quem não sabe se autoperdoar facilmente cairá no poder das trevas. Fiscalizar os nossos pensamentos para atrair os Bons Espíritos. "Bater os pés", como ensina o Cristo, é não levar mágoas consigo. Se reclamo porque no dia do trabalho mediúnico chove muito, e, fica intransitável. Contrario-me com a natureza e com o motorista do carro que me "fechou" no trânsito e penso em desistir, será que estou servindo bem?

Se eu consegui a minha reforma íntima, nenhuma contrariedade irá me tirar a alegria em servir. Sei que vou seguir a vida terrena com preocupações, mas, já não me deixo contaminar por elas. Como ensina um provérbio: "As preocupações são passarinhos que pousam em nossa testa, a grande sabedoria da vida é não deixar que eles façam ninhos". Preocupações e problemas todos temos neste mundo de provas e expiações. A grande sabedoria e saber vencê-los com a alegria de quem dá o melhor de si.

Como saber se fiz bem o meu trabalho? Certeza nunca haverá. Se as pessoas estiverem  mais alegres; se o grupo estiver mais alegre; se há um maior interesse pelo trabalho, então, fiz bem o meu trabalho. "... seja qual for o talento que te enriquece, busca primeiro o bem, na convicção de que o bem, a favor do próximo é o bem irrepreensível que podemos fazer. Desse modo ainda mesmo te sintas imperfeito e desajustado, infeliz ou doente, utiliza a força mediúnica de que a vida te envolve ajudando e educando, amparando e servindo, no auxílio aos seus semelhantes, porque o bem que fizeres retornará dos outros ao teu próprio caminho, com a benção de Deus a trilhar sobre ti" (Seara dos Médiuns, pelo Espírito Emmanuel). Que Assim Seja!

Luz e Amor!


"Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se reunem sob o olhar do Senhor, implorando a assistência dos Bons Espíritos. Purificai, portanto, os vossos corações. Não deixai que pensamentos fúteis ou mundanos os perturbem. Elevai o vosso espírito para aqueles a quem chamais, a fim de que eles possam, encontrando em vós as disposições favoráveis, lançar em profusão as sementes que devem germinar nos vossos corações, para neles produzir os frutos da caridade e da justiça" (Sede Perfeitos, cap. XVII; 10. O Evangelho Segundo o Espiritismo).




segunda-feira, 22 de abril de 2013

ENTRE O CÉU E A TERRA


"Sinto você como se  minha alma gêmea" (JL)

Em 18-04-2013, às 23hs

Com dói o reencontro com o ser amado sem poder mais tocá-lo. Oh, dor inclemente! Não compreendi, naquele momento, esse reencontro em planos opostos, aquela barreira intransponível a separar-nos. Aconteceu na Reunião Mediúnica, sem nenhum aviso prévio, ou, talvez, eu não tenha dado atenção ao aviso precedente. Há um mês, aproximadamente, acordei no meio da noite com a presença de seu amigo, desencarnado há um ano, via-o passar por mim e, seguir em frente. Em seguida, outro amigo, também desencarnado, há mais tempo, recebendo-o e os dois dando muita risada. E, ele me mostrava o amigo, o qual costuma chamar de “Rei Bantu” (rei africano). Acordei sobressaltada: “Meu Rei Branco (como se autodenominava) partiu!”, e chorei em silêncio.

Ao amanhecer telefonei para ele, nenhuma chamada atendida, nenhum retorno. Ele nunca deixou de atender as minhas ligações, nunca passou tanto tempo em silêncio (quatro meses), mesmo depois de termos rompido com o relacionamento há dois anos. Era uma relação de muita amizade e amor. Não compreendendo, passei a pedir por ele na Casa Espírita. Colocava sempre o seu nome no pedido de prece. Não queria nem ao menos supor que ele pudesse partir dessa vida. E, muito menos, ainda, sem nos despedirmos. Disse-me numa última mensagem: “Não lhe procuro porque preciso, lhe preciso porque lhe amo” (Outubro/2012).

Era a última ficha a ser chamada. Todo o trabalho mediúnico havia transcorrido harmoniosamente bem. Nunca sabemos, na verdade, quando tudo ocorre bem, mas, desejamos que o nosso esforço em servir resulte, de alguma forma, em benefício para alguém, encarnado ou desencarnado. Então, abriu-se em minha frente uma luz intensa, e, uma força arrastou-me, como o vento de um tufão, até ela. Queria atravessar desesperadamente aquela barreira energética que nos separava, uma parede em forma de um espelho d'água: eu e o meu grande amor, agora, do outro lado da vida.

Como aquela ficha veio cair em minhas mãos? Por que eu teria que vê-lo do outro lado da vida, sem nada poder fazer? Por que partiu sem ao menos dizer-me “adeus”. E agora terei que seguir sem o seu olhar, sem o seu carinho pra viver. Eu pude vê-lo através daquela barreira, quieto, pensativo. Havia muita luz à sua volta, mas, não pude lhe chegar perto, somente vê-lo, percebê-lo através daquela parede magnetizada. Pareceu-me um desencarne recente, morte  natural, talvez ainda não pudesse ter esse encontro comigo, para o seu bem. Talvez esse choque o colocasse em desequilíbrio e, trouxesse-lhe alguma perturbação como trouxe à mim. Senti-me arremessada, literalmente, ao chão. Perdi o chão. Perdi a consciência de mim mesma. Vaguei no espaço vazio, que dor! Não sei o que mudou em mim, no meu retorno, mas, sinto que já não sou mais a mesma.

Meu Amigo Benfeitor acompanhava-me num magnetismo de amor, nada podia fazer, a não ser acompanhar-me e, trazer-me de volta ao espaço terreno. No meu desequilíbrio, não permiti a sua aproximação. Sem compreender o acontecimento, culpava-o pelo sofrimento que me permitiu passar. Gritava-lhe em prantos: “_ Eu não estava preparada, por que você deixou?”. Já em casa, tranquilizou-me, segurando minha mão e afagando minha cabeça: “_ Durma, amanhã tudo terá passado e não sentirá mais esta dor”. Acordei com a sensação de ter voltado de um hospital, ainda sedada. Passei o dia como se anestesiada, sentindo uma tristeza contida, sem o desespero da noite anterior.

Ele não acreditava na comunicação com os Espíritos. Materialista ao extremo, dizia que era “coisa de gente sem formação”. Não admitia que eu, ou, alguém com alguma formação acadêmica, pudesse absorver essa ideia. Não rezava, mas, falava em “Deus Pai”, do Antigo Testamento. Acreditava num Deus austero e não no “Deus Filho”, como chamava a Jesus. Conhecia todas as passagens da Bíblia e os seus ensinamentos. Conhecia o “Latim”. Inteligente ao extremo. Gostava de brincar com ele dizendo: “_ namorar com você é cultura”. Nunca havia conhecido uma mente tão brilhante. Era firme em suas decisões sem jamais perder a doçura nos gestos. Um dia, quando passei por uma cirurgia de reconstrução da face, vi lágrimas em seus olhos. Revelou-me sentir medo de me ver morrer. Quando retornei, disse-me: “_ Tive tanto medo de te perder que, pela primeira vez, rezei”. Depois, sorrindo, confessou-me: “Eu não rezei, mas, paguei uma dessas senhora para rezar”.

Não está sendo fácil a separação, muito menos suportar a angústia que senti ao percebê-lo do outro lado da vida. Desejei que aquele portal tivesse se aberto, que eu pudesse penetrá-lo, tocá-lo, dizer-lhe o quanto eu o amo. Mas, não foi permitido. Retornei para a sala da mediúnica como se nunca a tivesse deixado. Era só pranto.

Afônica, completamente desequilibrada emocionalmente, implorava por auxílio da Espiritualidade. Queria que me dissessem o por quê? Que não era verdade, era um embuste ou um espírito perverso para desarmonizar o trabalho. Queria não mais está ali, achei cruel. O doutrinador não entendendo a minha aflição, acreditava ser “animismo”, e, assim, não me permitiu o auxílio urgente e necessário. Encerrou-se o trabalho da noite sem que eu fosse devidamente acolhida. Passei uma semana com a garganta completamente inflamada, parecia queimadura, o palatino (céu da boca) estava intocável. Somente passada uma semana, recuperei a nitidez da voz. Ainda encontro-me em desalinho, mas, esforçando-me para superar essa passagem. A vida continua!

Neste instante em que escrevo, as lágrimas cobrem o meu rosto. Mesmo conhecendo a Doutrina Espírita, trabalhando na desobsessão, entendo que existem coisas entre o Céu e a Terra, como disse o filósofo, que a vã filosofia é incapaz de explicar. Existem mistérios no Universo inexploráveis, os quais nem o saber filosófico, nem o conhecimento científico conseguem revelar: a essência do que há além da vida. Continuo a afirmar o que já mostrara Allan Kardec: “Espíritas: Amai-vos, esse é o primeiro ensinamento. Instruí-vos, o segundo”.

Conhecimento sem amor não resulta em caridade. O amor não julga, o amor não condena. O amor a tudo compreende, porque em tudo há uma razão de ser. Razão que ainda desconhecemos pelo grau da nossa evolução. Somente a fé em uma Inteligência Maior, dá-nos a credulidade que precisamos para seguir em frente, mesmo sem conhecer. “Feliz aquele que sem ver, acredita” (Jesus).

O amor é o maior de todos os Ensinamentos. O “outro” é o maior livro da vida. Somente em contato profundo com o “outro” aprendemos a verdadeira lição deixada pelo Mestre maior, Jesus – AMOR. Estudai cada caso, conhecei cada caso, “cada caso é um caso” e não deve ser pesado com a mesma medida. Para conhecer cada caso é preciso ouvir quem o vivencia. Egoísmo, vaidade, inveja, mágoa é próprio do ser humano. Bem como, o amor, pois que, todos os trazemos latentes na alma. Não somos maus, estamos maus. Porém, as causas de suas manifestações são distintas em cada ser humano, pois que, cada ser é único (indivíduo), aquilo que feriu e contribui para que florescesse o mal em um, não é necessariamente o que tornou o outro endurecido. Escutai com atenção, permita que o outro lhe fale, escutar o outro ajuda na compreensão das nossas próprias dores. Escutar o outro é escutar a si mesmo, e escutar-se ajuda a curar, 

Ser levada naquele instante para vê-lo em seu estágio atual não foi crueldade da Espiritualidade. Era necessário enxergar o outro lado para conhecer a dor que sente aquele que partiu na ignorância, para recebê-lo com maior compreensão e amor no acolhimento fraterno. Era necessário para o meu próprio fortalecimento espiritual. São aprendizados que os livros não ensinam, apenas corroboram para uma maior compreensão e discernimento da Doutrina. Ser Espírita é ser Cristão. No entanto, para compreender o outro é preciso posicionar-se no lugar do outro, isto se traduz em conhecimento, isso é sabedoria de vida. Esse aprendizado não pode ser extraído de Compêndios, somente o amor ensina. É enxergar a vida pela luz dos olhos do outro. É o que ensina Jesus: "Amar ao próximo como a si mesmo!.

A vida que pulsa em mim é a mesma vida que pulsa em meus semelhantes, somos feitos da mesma essência, centelha do amor divino. Os efeitos do orgulho, da vaidade e do egoísmo são os mesmos que corroem a alma e destroem o coração, mas, as causas são distintas em cada ser. Todos na Terra sofremos os efeitos do orgulho, do egoísmo e da vaidade em graus diferentes. São as causas desses sentimentos deletérios que precisam ser conhecidas, ouvidas e, muitas vezes, sentidas para se poder ajudar. A sombra não se encontra no espaço em que habitamos, a sombra habita dentro de nós, assim como a luz.

Pode-se estar de olhos abertos num dia de sol de verão e só conhecer a escuridão. Bem como, pode-se fechar os olhos e ver claramente a luz. É preciso trabalhar a escuridão da alma. Por que a luz se apagou? Quando se deu o “blecault”? Conhecer os "fusíveis" queimados e trocá-los para que a luz se acenda novamente. Estamos aqui na Terra para esse reparo, trocarmos os vícios pela virtude para que o amor renasça. A Casa Espírita contribui para essa reforma íntima, pois, ajuda a elevar o nosso padrão vibratório, afastando a obsessão e ensinando que o amor é a verdadeira luz. Este é o fundamento primeiro da reencarnação, evoluir no amor.  Que Assim Seja!

Luz e Amor!


 "O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da Criação, animados e inanimados, estarão submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece, para os homens, o fim das coisa é  apenas um meio de levá-las, pela transformação, a um estado mais perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada volta para o nada" (Santo Agostinho)

( Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai, Cap. III; 19. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Relato de um obsessor


 "Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, com efeito, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais frequentemente nossa consciência, veriamos quantas vezes falimos sem o perceber, por falta de perscrutar a natureza e o móvel de nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais precisa do que uma máxima que, frequentemente, não aplicamos a nós mesmos. Ela exige respostas categóricas, por um sim ou por um não, que não deixamos alternativa; são igualmente argumentos pessoais e pela soma das respostas pode-se calcular a soma do bem e do mal que está em nós" (L. E., Livro III, cap. XII, questão 919).

O depoimento que se segue abaixo, chegou até a mim, enquanto A D M (por uma questão ética, não devo revelar nomes) que passa por um processo obsessivo grave, dormia. Para minha surpresa, ao acordar, ela relatou-me o que tanto a perturbava: a aparição constante da tia falecida, em sua infância, e, disse-me, da mesma forma de quando dormia: "Eu não entendo! Eu era uma criança! Por que?". Buscava entender.

Em 07-03-2013, às 8hs.

"Por que minha tia teria ódio de mim? Por que me perseguiria por ciúme de um amor, que nem mesmo eu ainda pensava em conhecer? Eu era uma criança, com um pouco menos de cinco anos de idade. Eu estava a observá-la em seu leito de morte, com o seu bêbe entrelaçado em seus braços. Partiu após o parto prematuro. Então, àquela imagem instalou-se em minha memória sem que eu percebesse.

Cresci, e, ainda adolescente conheci aquele que seria o pivô dessa história, a causa do seu desafeto por mim. Então, passou a perseguir-me, não permitindo que fossemos felizes nesse enlace matrimonial. Reconheceu em mim, àquele que destruiu a sua vida, em uma de suas existências terrena. Aparições, desarmonia, desequilíbrios de toda à sorte (emocional, físico, espiritual...), uma vida conjugal e familiar destruídada pelo ódio e vingança. Eu não entendo! Eu era apenas uma criança a olhá-la em seu leito de morte, com a curiosidade de qualquer criança, em tenra idade.

Desesperada com as aparições busquei auxílio em uma casa de Umbanda, onde essa visão mórbida que me atormentava desaparecera. Mas, o tormento da obsessão continuava a exaurir a minha existência. Passado alguns anos, sua imagem retornou com força total. Em todos os lugares eu a vejo a me perseguir. Mesmo agora, que todos os laços famíliares se romperam, em que a idade e a solidão já pesam sobre os meus ombros, ela revive na minha lembrança. Para onde quer que eu olhe a vejo como em seu leito de morte. Procuro um lugar, um pensamento para desviá-la da minha visão, mas, ela se faz incessantemente presente, a assombrar os meus dias. Não descansou e nem me deixa descansar. É um verdadeiro tormento a sua presença a perseguir-me por toda a minha existência. Eu não entendo! Eu era apenas uma criança a contemplá-la em seu leito de morte.

Não, naquele dia fatídico, eu não havia alcançado o estado de infância espiritual, na minha existência corpórea . Era um Espírito adulto e lúcido que tripudiava em cima do seu leito de morte. Fora o seu algoz. Ela, agora liberta do seu invólucro corpóreo podia reconhecer-me. O meu corpo físico em desenvolvimento não era capaz de esconder o Espírito que nele habitava. Ela podia enxergá-lo de forma nítida e reconhecê-lo. Naquela figura inocente, de criança curiosa, escondia-se um inimigo odioso, que se deleitava com a sua dor".

Neste cenário que é a vida terrena, dava-se a inversão de papéis. O que estava preso, agora é livre e o que era liberto agora está em cárcere corpóreo. O Espírito adulto e lúcido perdia a consciência de si, tornando-se, finalmente, uma criança inocente sob o véu do esquecimento. Agora era a sua vez de sofrer as penas às quais submetera aquele que retornava a Pátria Espiritual. Compreender esse processo de desenvolvimento moral do Cristo não é algo que exija uma inteligência fora do comum. Vê-se pessoas sem conhecimento notório compreenderem perfeitamente a relação de causa e efeito nas manifestações espíritas. Para a compreensão da prática moral cristã é preciso, apenas, certo grau de sensibilidade, ou seja, "maturidade do senso moral" que não depende da idade e nem do grau de instrução (E. S. E.).

O Espírito que desencarnara pós-parto, levando consigo o seu rebento, reconhecera naquele instante do desencarne, o ser que destruíra a sua felicidade terrena, roubando-lhe o seu afeto, causando-lhe com isso, profunda dor e sofrimento. Colocou-se a espreitá-lo dia a dia, incansavelmente, até conseguir executar a sua frívola vingança, levá-lo ao desequilíbrio emocional e psíquico, até vê-lo perder tudo o que lhe houvera roubado em outra existência. Desejoso de tripudiar de sua dor assim como houvera sido tripudiado em seus sentimentos. O amor que lhe foi roubado, a família destruída, a vida que perdera, enfim, tudo se tornara objeto de sua vingança.

"Então, sentindo-me cansado de expurgar a minha culpa, em um corpo tomado por doenças, fruto de uma psicopatia infindável, recorro agora ao auxílio espiritual em uma Casa de Acolhimento Fraterno. Somente hoje pude perceber que não sou vítima do acaso, mas, consequência da ignorância. Sim, eu fui o seu algoz inclemente em outra existência. Feri-lhe de morte arrancando-lhe o filho do ventre, fruto de sua união afetiva com aquele que se tornou o meu cônjuge. Não sabia do revés da vida, a lei de causa e efeito de que trata a Doutrina Espírita. Ela ainda não me perdoou e, com a mesma inclemência, persegue-me. Estou buscando melhorar-me, arrependido que estou depois de conhecer os Ensinamentos do Cristo. No corpo que me abriga não há enfermidades físicas, há em mim, a dor moral, e, essa dor moral está sufocando-me".

A D M encontra hoje auxílio na Casa Espírita onde trabalho. Novamente, tentou suicídio, tomando remédios. Procurou-me no estado de mais completa perturbação mental. Ela precisa não só de tratamento espiritual, mais, também, psíquico. Como explicam os especialistas em transtornos psicossomáticos, estamos apoiados sobre um tripé: suporte físico, suporte psíquico e suporte espiritual. Quando um desses suportes encontra-se em desalinho, a queda é fatal.

Segundo estudiosos, nem todo transtorno mental, como a depressão, tem sua causa no processo obsessivo, em muitos casos é patológico. Narazeno Feitosa, palestrante espírita, coloca que o ser humano é "biopsicosocial-espiritual". Logo, as causas da depressão podem ser quatro: orgânicas, sociais, psicológicas e espirituais, sendo necessário cuidar o ser humano como um conjunto de causas, “cuidar do corpo e do espírito” (E. S. E., cap. XVII; 11). “Para que essa prisioneira (alma) possa viver, movimentar-se, e até mesmo conceber a ilusão da liberdade, o corpo deve estar são, disposto e vigoroso”. Não sou especialista na área, o meu depoimento baseia-se na minha própria experiência, por ter conhecido, na pele, todos esses transtornos.

O físico, comprovado por exames diversos, confirma que A D M não é portadora de nenhuma doença física/biológica grave, o que é um milagre! Ou melhor, misericórdia Divina, pois, “tudo o que vem da alma se projeta no corpo físico. Quando encarnados, tudo o que penso se reflete no perispírito, e do perispírito para as células do nosso corpo, por isso somos todos doentes, porque somos almas doentes” (ZIMMERMANM, Zalmino). E, por sermos doentes da alma estamos na Terra (Hospital-Escola). Como coloca Allan Kardec, Livro dos Espíritos, “doenças físicas causas morais”. Contudo, ela sofre, apenas, de hipertensão, mas, já controlada por medicamento. No mais, todas as demais queixas são produtos de sua mente.

Acompanhamento psíquico somente os "normais" precisamos, porque só os normais têm problemas, já que problemas são para todos, sem exceção. Como enfrentar os problemas é que é o verdadeiro problema, e, nas muitas vezes, somente um profissional para ajudar. Para se buscar ajuda, tanto nas doenças físicas como nas psíquicas e espirituais é preciso reconhecer que precisamos. Se eu não me vejo, ou, não me aceito doente, não vou buscar, nem aceitar ajuda, logo, vai permanecer o problema, disfarçado, mascarado, mas, ele vai permanecer e uma hora ou outra, irá manifestar-se de forma mais grave. No físico pode  manifestar-se como uma deformidade, um câncer. No psíquico: esquizofrenia, loucura. E no espiritual: obsessão.

As causas espirituais da depressão - a obsessão espiritual, como coloca Nazareno Feitosa, em sua palestra "Depressão e a Terapia do Amor",  só existe porque somos obsediáveis. Porque permitimos a influência dos maus Espíritos. Eles não nos fariam mal se nós não permitíssemos. Deus não seria bom e justo, se assim não fosse. Somos nós quem fornecemos as "tomadas psíquicas", que são as nossas imperfeições morais - Lei da Afinidade (L. E.), o orgulho, a vaidade, a inveja, a cobiça, a maledicência, o ódio, o não fazer o bem.

A D M sofre de uma "dependência afetiva" e, age como um dependente químico. Fazer com que todos da família sintam-se culpados pela sua carência afetiva, pelo seu sofrimento, a faz sentir (acreditar) melhor. E, assim, toda a família adoece junto e todos necessitam de cuidados. Quem de nós não precisa de ajuda psicológica para sair dessa culpa? O esposo não tem culpa do seu sofrimento, deu o melhor de si para fazê-la feliz. Os filhos não são culpados, todos são pessoas íntegras, amorosas, amigas, batalhadoras, cada um naquilo que recebeu da vida. Não tem nenhum drogado, marginal, prostituta, assassino. Todos pessoas de bem, adoecidas na alma, é verdade, mas, do bem.

Desde muito cedo, a família assiste A D M cometer “loucuras” para chamar a atenção por contrariedades mínimas: tomar remédios/detergentes na tentativa de suicídio, se  atirar no chão, gritar, quebrar as coisas em casa, apenas, por não ter sido atendida nas suas necessidades afetivas, e sempre, culpando um/e ou, outro: “fulano está acabando comigo!”. Dessa forma, ela compelia a todos dar-lhe o afeto de que precisava, tornando-se um ciclo vicioso. Aquele que lhe der apoio, no momento, é um “deus”, o que lhe disser um “tantinho”, contrariando-a, esse é atirado aos leões, sem piedade. E, assim, ela joga um contra o outro e destrói a união e a harmonia da família, tudo para chamar a atenção sobre si mesma. Agora ela passou há rezar todo instante e chorar implorando perdão a Deus, mas, logo se mostra rancorosa e cai em agonia novamente. A D M não percebe que o ressentimento é o que guardamos em nós e destrói o perispírito, o ódio nos arrebenta por dentro. Ler o Evangelho não é rezar, praticá-lo é a maior forma de oração.

Todos, na condição de cada um, busca ajudá-la, e ela continua a se queixar de todos, sempre em total desequilíbrio. Infelizmente, essa prática alimentada, anos após anos, por ignorância, contribuiu para que hoje o seu estado mental, emocional e espiritual se agravasse. Acredito, na minha ignorância, que somente um profissional da área psíquica, concomitantemente, com o tratamento espiritual, possa ajudá-la. Ninguém pode mais ajudá-la, neste sentido. Ela, se não buscar essa ajuda vai precisar, possivelmente, de “internação compulsória”, como se faz com dependentes químicos, para não chegar às vias de fatos - o suicídio. O grande dilema é ela reconhecer que precisa. "Todo mundo pode lhe estender a mão, mais somente você pode se ajudar".

As pessoas são munidas de vontades próprias, fazem suas escolhas, têm o livre arbítrio e, o outro não é responsável por essas escolhas, por isso não tenho que mudar a minha vida e nem me sentir culpada pela situação em que se atirou. Pode-se ajudar para que ela própria se ajude, porém, mudar é uma escolha sua. Se o seu desejo de mudar for sincero, os Bons Espíritos poderão auxiliá-la, então, ela poderá transformar sua vida, pois, sempre há tempo. Se não nesta existência, numa outra. A reencarnação é a oportunidade de transformação que Deus, na sua misericórdia, oferece a cada criatura. Os Bons Espíritos, no entanto, “afastam-se quando vê seus conselhos inúteis, e que a vontade de sofrer a influência dos Espíritos inferiores é mais forte” (L. E., questão 495).

Pode-se por si mesmo afastar os maus Espíritos e se libertar de sua dominação? Os Espíritos responderam a Kardec, na questão 475, Livro dos Espíritos: “Pode-se sempre sacudir um jugo, quando se tem vontade firme”. Confirmando o que nos orienta Adenauer Novaes (Psicólogo Espírita), “a vontade é o desejo educado”. Todos gostamos de ser vítimas do acaso, porém, o acaso não existe na vida o que existe é a lei de causas e efeitos. Se olharmos honestamente para dentro de nós, conheceremos bem as causas de nossos sofrimentos: o orgulho, a vaidade e o egoísmo.

O Espiritismo, bem como, nenhuma religião pode transformar a vida de alguém, se esse desejo de mudar não esteja dentro da própria pessoa. Ler o Evangelho e não procurar praticá-lo: fazendo ao próximo o que gostaria que fizesse por si, perdoando aos outros e a si mesmo, amando, compreendendo, não resolve. Na questão 476, os Espíritos respondem: “Se é um homem de bem, sua vontade pode ajudar, apelando pelo concurso dos bons Espíritos, porque quanto mais se é um homem de bem, mais se tem poder sobre os Espíritos imperfeitos para os afastar, e sobre os Espíritos bons, para os atrair. Entretanto, seria incapaz se aquele que está subjugado não consentir nisso. Existem pessoas que se alegram em uma dependência que agrada aos seus gostos e aos seus desejos. Em todos os casos, aquele cujo coração não é puro, não pode ter nenhuma influência; os bons Espíritos o abandonam e os maus não o temem”.

É preciso que aprendamos e, a Doutrina Espírita ensina-nos, ajudar sem sofrer; consolar sem perturbar; amar sem paixão. Oferecer apoio é necessário, mas, saibamos que somente a própria pessoa pode se ajudar. Sentir o problema, todos nós sentimos, somos criaturas humanas, movidas por sentimentos e por isso amamos. Contudo, absorver as dores do mundo não precisamos. Deus é a vida: “Eu sou a Vida”, ninguém precisa dar a vida para outra existir, apenas fazer a sua tarefa, e, fazer por si mesmo. Como ajudar se sofremos junto? Se adoecemos junto? Cada um quando nasce trás o seu pacote de problemas (cruz p/ carregar) e Deus só dá o peso que sabe podemos carregar. Jesus carregou o peso da Humanidade por ser um Espírito puro, evoluído, mas, era a  sua cruz, e carregou com resignação. Jesus também chorou: "Pai eu preciso mesmo beber desse cálice? Então, seja feita a vossa vontade e não a minha". O nosso peso hoje, com Jesus, é bem mais leve por causa do seu sacrifício por nós.

Jesus convida-nos: “Vinde a mim todos os que estais cansados sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11; 28-30). É assim que a graça e bondade do Senhor se espalham e alastram em nossa vida, e é assim que a Sua misericórdia se renova cada manhã. Essa promessa dupla é para aqueles que vêm a Ele. “... eu vos aliviarei” e “achareis descanso para as vossas almas”. Com a promessa “eu vos aliviarei”, o Senhor promete que quer renovar e fortalecer você. Ele quer dar a você um novo ânimo, abrir novas perspectivas e lhe dar uma nova visão dos fatos. E quando Ele fala “... achareis descanso para as vossas almas”, Ele testifica que sabe o tipo de pessoas somos. Ele conhece a inquietação do nosso coração e a vaga intranqüilidade para a qual não encontramos solução em nós mesmos". (MALGO, Wim. “Pérolas Diárias”). 

Hoje é o dia de mudar. O hoje é uma dádiva Celeste. Coragem! Que Assim Seja!

Luz e Amor!





"Concerta-te sem demora com o teu adversário, enquanto estás a caminho com ele, para que não suceda que ele te entregues ao juís, e que o juís te entregue ao seu ministro, e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá enquanto não pagares o último ceitil" (Mateus, V; 25-26).
 (Bem-Aventurados os Misericordiosos, cap. X; 5. O Evangelho Segundo o Espiritismo)








sábado, 6 de abril de 2013

"Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial é perfeito"



Em 20-03-2013, às 8hs.

Disse Jesus aos seus discípulos: "A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra" (N.T., João 4; 34). Fiquei pensando na abnegação de Jesus, por amor ao Pai Celestial. Somente Jesus, Espírito Puro, para esquecer-se de si mesmo por amor a Deus. Sinto que jamais poderia fazer igual a Jesus, apesar do desejo íntimo de tornar-me um ser melhor, porém, esquecer da fome, da sede, das vestes, das necessidades terrenas, não, eu não conseguiria, ainda sinto muita necessidade dos bens materais para pensar em despir-me deles, como fez Jesus na Terra. E, então, desisto do que sou já que estou tão distante de ser um Espírito elevado? Como ser perfeito num mundo cheio de ilusões, de paixões e necessidades materiais?

"Certo que Deus nos criou para sermos felizes na eternidade, mas a vida terrena deve servir  unicamente para o nosso aperfeiçoamento moral, o qual se conquista facilmente com a ajuda do corpo e do mundo material. Sem contar as vicissitudes comuns a vida, à diversidade de vossos gostos, de vossas tendências, de vossas necessidade, são também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando a caridade" (E. S. E., cap. XI; 13). O mundo terreno e tudo o que nele encontramos são elementos importantes que Deus colocou-nos para trabalharmos a caridade. Tudo o que há sobre a Terra existe para o progresso moral da Humanidade. São ferramentas utilizadas por Deus, e que não devemos desprezar, mas, utilizar a favor do próprio aperfeiçoamento moral. Muitas encarnações se perdem pelo sexo, poder, riqueza e necessidade. Atentamos ao que disse Jesus aos vossos discípulos: "Não estejais apreensivo pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo sobre o que vestireis. Mais é a vida do que o sustento, e o corpo mais do que o vestido" (N.T., Lucas 12; 22).

"Sede perfeitos como o vosso Pai Celestial é perfeito" (Jesus). Se fossemos perfeitos Deus não seria Onipotente. Porém, Jesus ensina como nos tornarmos perfeitos no mundo em que nos encontramos: a perfeição através da caridade, do amor ao próximo. Jesus não pede para que sejamos perfeitos, iguais os Espíritos Puros no mundo celestial. Ele fala da perfeição relativa a Humanidade: "Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens". Jesus veio com a "missão" de progresso da Humanidade, oferecendo-nos o modelo de perfeição a que a Humanidade pode aspirar neste mundo. 

Missão é para os Espíritos Superiores, "sua superioridade os torna mais aptos do que os outros para nos darem noções mais justas sobre as coisas do mundo corpóreo, nos limites do que é permitido aos homens conhecerem" (L. E., cap. 1,  Livro 2º, questão 111). Os Espíritos imperfeitos vêem ao plano terreno como "prova" (oportunidade) e "expiação" (remir a culpa). São as características gerais de um Espírito em evolução na Terra: "predominância da matéria sobre o espírito, propensão ao mal, ignorância, orgulhos, egoísmo e todas as más paixões que lhes são consequência" (L. E. cap. 1,  Livro 2º, questão 101). A classificação dos Espíritos, nos mostra Allan Kardec, no Livro dos Espíritos, "baseia-se sobre o grau de seu adiantamento, sobre as qualidade que adquiriram e sobre as imperfeições das quais devem ainda se despojar". Crer-se superior sobre a Terra é uma imperfeição humana, fruto do orgulho e da vaidade.

Quanto mais amor tivermos em nosso coração, mais nos assemelhamos a Deus, que é amor. A verdadeira caridade não consiste em impulsos de generosidades, mas, esquecer-se de si mesmo em favor dos mais necessitados. Caridade é abnegação. Como Jesus ensina: "sacrificai-vos as necessidades, e até mesmo às frivolidades de cada dia, mas fazei com um sentimento de pureza que as possa santificar" (E. S. E., cap. XVII; 10).

A caridade é impossível sem a fé, "ao fazer qualquer coisa voltai o vosso pensamento a fonte suprema; nada façais sem que a lembrança de Deus venha purificar e santificar os vossos atos". A falta de fé é não conhecer a força Divina. É falta de reconhecimento e gratidão. Devemos ter em mente que devemos ir de encontro com a miséria, sermos indulgentes com o nosso semelhante. Amar incondicionalmente, sem esperar gratidão ou nada em troca, "de graça recebestes, de graça dai" (Mateus 10; 8), pois, tudo o que usufruimos na Terra não nos pertence, e sim, ao Pai que está no Céu. Perdoar as ofensas, perdoar os que vos caluniam e vos perseguem. Orar pelos que sofrem independente de quem seja e do mal que se possa ter praticado. Quem ama ajuda e desculpa sempre. Devemos sempre lembrar de que estamos no mundo à serviço do nosso próprio progresso. A vida é trabalho, trabalho é ação produtiva, e,  "o amor será sempre o que você fizer dele" (André Luis)Que Assim Seja!

Luz e Amor!



"Aquele que estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra", disse Jesus. Esta máxima faz da indulgência um dever, pois não há quem dela não necessite para si mesmo. Ensina que não devemos julgar os outros mais severamente do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar nos outros o que nos desculpamos em nós. Antes de reprovar uma falta de alguém, consideremos se a mesma reprovação não nos pode ser aplicada" (Bem-Aventurados os Misericordiosos,  cap. X; 13. O Evangelho Segundo o Espiritismo)