terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

CASTIGO NÃO É DISCIPLINA



Em 17-02-2014, às 19:00 hs.

Hoje fiquei refletindo sobre a educação e a violência. Assisti uma reportagem na TV, onde uma mãe, pensando em "corrigir" o filho de apenas seis anos, fez com que ele segurasse um ovo quente com as duas mãos, até que esfriasse, causando-lhe queimaduras de primeiro e segundo grau. Motivo: a mãe havia saído e deixado a criança sozinha, a criança, segundo contou na reportagem, pegou um real na bolsa da mãe e comprou um ovo. Foi quando a mãe chegou e o castigou com o próprio alimento para que não pegasse mais dinheiro sem a sua permissão. 

Outro caso, a criança foi deixada nua, sentada ao lado do colchão em que havia feito xixi, em pleno meio dia, onde a temperatura chegava a quase 40 graus, durante meia hora. O motivo o mesmo, DISCIPLINAR. Não são raras as histórias de maus-tratos às crianças com a alegação de disciplina, não somente em casa, pelos próprios pais, bem como, nas escolas pelos educadores. Que educação se quer passar? Maus-tratos e situações vexatórias são violações aos Direitos Humanos, portanto, são violência contra a criança, não disciplina. A palavra "disciplina" deriva da palavra "discípulo" - "aquele que segue". Dessa forma, a criança tratada com violência, tende a reproduzir o mesmo comportamento violento dos pais. A violência se aprende, assim como o amor.

Segundo adverte alguns psiquiatras, tendemos a repetir as ações de nossos pais, transfigurando até mesmo expressões faciais de raiva ou zanga. Nunca se deve agir por "raiva". Após o primeiro impulso, deve-se antes respirar, deixar passar aquela fúria que nos torna animais irracionais, e, depois, fazer uma auto-análise para conhecer o que de fato está causando aquela irritação, numa proposta de autoconhecimento. Isso irá nos colocar em contato com o nosso "calcanhar de Aquiles", ajudando-nos a evitar problemas maiores, como nos faz refletir De Lucca (2011). Expor o que nos aflige ou aborrece também ajuda aliviar as tensões do dia. Pensar antes para não se arrepender depois. Toda manifestação de raiva, intolerância e frustração são frutos do orgulho, pai de todos os vícios (E.S.E.).

Muitos pais descontam nos filhos as suas frustrações. Não podendo, muitas vezes, irem de encontro aos seus superiores (chefes/patrões), ou, por problemas afetivos ou econômicos, entre outros, acabam por infligir castigos àqueles que estão sobre a sua responsabilidade e que são indefesos. Por este motivo, é que se faz necessário, antes de "despejar" a raiva, não só em uma criança, mas, especialmente, certificar-se se é realmente contra aquele ser que se tem algo a ajustar. Os filhos não são "válvulas de escape" para os pais. 

Devemos lembrar dos ensinamentos de Jesus, o nosso mestre maior: "oferecer a outra face" (E.S.E.), que nada mais significa mostrar o outro lado das nossas ações. Ou seja, se a criança errou, descumpriu alguma regra, é necessário mostrar-lhe de que outra maneira poderia ter agido sem causar prejuízo nem a si, nem ao outro, mostrar-lhe o lado certo. Isso vale para qualquer situação em que estejamos envolvidos: na família, na escola, na sociedade. Contudo, para que isso ocorra sem conflitos, é preciso estabelecer as regras. Se não há regras a serem cumpridas, como cobrar que se cumpra? São as regras que disciplina. As regras estabelecidas e aceitas não dão espaço para os conflitos.

Segundo alguns educadores, é possível estabelecer medidas educativas através de cartilhas onde a criança pode compreender o que lhe é permitido fazer. A cartilha pode ser construída até mesmo em conjunto com a própria criança. A cada quebra de regras, determina-se um ato educacional, esclarecendo-lhe os motivos, com carinho. O ato educacional deve sempre ser mantido. "Que o meu não seja sempre não, que o meu sim seja sempre sim" (Jesus). Por isso, é necessário determinar algo viável, que a mãe não volte atrás. Ainda que seja algo pequeno, de curta duração, mas, que seja respeitado por ambos, pais e filho. Caso contrário, a criança acredita ter o domínio sobre os pais, e, são os pais que devem exercer o domínio na educação dos filhos, orientá-los para a vida, "aparando-lhes as arestas" (E.S.E.).

Joanna de Ângelis recomenda: "(...) aquele que se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Leis morais da vida, de Divaldo Franco, cap. 60). Ou seja, antes de fazer discípulos, precisamos ser discípulos. O verdadeiro líder é aquele que ensina pelo exemplo, como Jesus nos ensinou. "Impor a disciplina a si mesmo é uma das grandes vitórias do homem contra si mesmo" (O Pensador).

Então, o que é certo fazer? A reprimenda certa sempre funciona. Deve-se, portanto, sempre ensinar aos filhos a serem pessoas de bem. Ser um homem de bem é seguir, em qualquer situação que se encontre, a Lei Moral (Lei do Amor). "O homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza" (E.S.E., cap. XVII; 3). Muitos pais desejam filhos bem sucedidos e esquecem de ensiná-los a ser um homem de bem. Dizer "NÃO", segundo especialistas no assunto, não resolve. "NÃO", não existe. Estudos apontam que o cérebro não registra o "NÃO", somente o que vem depois. O cérebro não quer "ouvir" aquilo que frustra, o que é ruim. Daí a necessidade do esclarecimento, do "por quê", é onde se dá o verdadeiro ato educacional. Dizer "NÃO" apenas, denota simplesmente autoritarismo. É preciso ser autoridade sem ser autoritário.

A autoridade, ensina-nos a Benfeitora François-Nicolas-Madeleine, Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII; 9, não é dada para satisfazer o prazer do mando e nem é uma propriedade como pensa os poderosos da Terra. Assim como a fortuna, é uma delegação de que se pedirá contas a quem dela foi investido. O depositário da autoridade de qualquer extensão que seja (inclusive a dos pais sobre os filhos) não deve esquivar-se da responsabilidade de um "encarregado de almas", pois responderá pela boa ou má orientação que der aos seus subordinados, e as faltas que estes puderem cometer, os vícios a que forem arrastados em consequência dessa orientação ou dos maus exemplos recebidos, recairão sobre ele. Dá mesma forma colherá os frutos de sua solicitude por conduzi-los ao bem.

O Espiritismo ensina que, se eles hoje obedecem, na verdade já podem tê-lo dirigido, ou poderão dirigi-lo mais tarde, e que então será tratado como por sua vez os tratou. A natureza do filho pode muitas vezes ser difícil, vestígios da vida pregressa, no entanto, os pais nunca devem desistir da missão de condutor de almas.

O castigo, de modo geral, produz obediência. Contudo, não é disciplina. Disciplina é orientação (instrução). "Aquele que poupa a vara aborrece ao seu filho, mas quem o ama a seu tempo o castiga" (Pv. 13:24). Quando se ama um filho, o pai o corrige, não o negligencia. Ser sério na disciplina não significa ser violento. Quem ama corrige e não mau-trata. Orienta e não constrange. A Bíblia diz que o Senhor nos disciplina porque nos ama (Hb. 12:6). Foi o seu amor, que fez o seu Filho morrer por nós na cruz. Se não nos tivesse amado não enviaria seu Filho para morrer na cruz pelos nossos pecados. Deus não permite um mal, senão para um bem maior. Foi para nos ensinar o amor que nos ofereceu o sangue e o corpo de seu Filho primogênito. 

 "A conduta é um espelho onde você mostra quem você é". Dessa forma, é importante vigiar para não ceder à violência, senão, é afirmar com essa conduta que a violência vale à pena. Como esclarece De Lucca, 2011, nosso comportamento é um reflexo do que somos intimamente. Se não mudamos o nosso mundo íntimo, como desejar mudar o mundo de fora? Buscamos mudar os outros (no caso, os filhos), mas, não começamos por nós mesmos, esquecendo-nos de que o mundo de fora é mera projeção do mundo interior. O mundo externo é aquilo que plantei dentro de mim, e se manifesta em minha vida (De Lucca. Cura e Libertação, 2011).

"Aquilo que o homem é, tende a exteriorizar-se em forma de atitude. O que ele termina por fazer é resultante da luta que se trava interiormente" (Espírito Irmão José, psicografado por Carlos Barcelli. Os três passos do Autoconhecimento - LEEPP). 

Conquanto, se a violência é construída, já que não nascemos violentos, tornamo-nos violentos. Então, podemos "desconstruir" a violência que está dentro de nós, para construir um mundo de paz. A prática do "Evangelho no Lar" é uma excelente medida educativa, no auxílio da família. À partir dos seus ensinamentos, podemos compreender a imensa compaixão do Cristo por todos nós: "Zaqueu, desça depressa, pois hoje preciso ficar na sua casa" (JESUS. Bíblia Sagrada. Lucas 19, 5).

Nós podemos descer da árvore, como fez Zaqueu, e recebê-lo em nossos corações. O Mestre, exemplo maior de amor e caridade, não prega nenhum sermão, não fala dos pecador de Zaqueu, nem o acusa pelas injustiças praticadas, "apenas o acolhia com o bálsamo da compaixão" (De Lucca, 2011)Jesus nos ensina, assim, a colocar amor no lugar da raiva, da mágoa, da frustração. Assim devemos tratar os nossos filhos, colocando amor nas feridas. Ensinando-lhes que os passos equivocados, dados pelas escolhas mal feitas, podem ser corrigidos com base no amor.

Que Assim Seja!

Luz e amor!


"Os preconceitos do mundo, a respeito daquilo que se convencionou chamar de ponto de honra, dão esta suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e do exagerado personalismo, que leva o homem a geralmente retribuir injúria por injúria, golpe por golpe, o que parece muito justo para aqueles cujo senso moral não se eleva acima das paixões terrenas. (...) Mas veio o Cristo e disse: "Não resistais aos que vos fizer o mal; mas se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra". (Amai os Vossos Inimigos, cap. XII; 8. O Evangelho Segundo o Espiritismo).