segunda-feira, 28 de agosto de 2017

DE MÃE PARA MÃE: Precisamos Conversar!



Em: 02 de Julho de 2017, às 22:00 hs.



Estava sentindo-me triste. 
De repente, alguma coisa mudou na nossa relação. Eu parecia estar "sobrando". Não sei porque, mas comecei a pensar na minha mãe. Tudo agora me remete ao passado. Estava sentindo-me triste comigo. 
O que aconteceu? 

_ Mãe, a casa é sua!.
Abraços, sorrisos.... Minha filha virou mãe! 
Que lindo poema conseguiu extrair das minhas entranhas o meu pequeno netinho...
_ Mãe, publique sobre a sua vida. Arthur é decisão minha!
Nossa! Ela se quer leu o que dizia o "Poema para Arthur"! 
Minha pequena homenagem tomou uma proporção desastrosa diante da minha inabilidade com a internet. Eu jamais pensei em expor um ser que ainda nem nasceu, ou, desrespeitar uma decisão dela. Afinal, o respeito mútuo sempre foi a base da nossa relação.
Não vou deprimir! 
Compras... cartão de crédito pra que te quero? 
Dei-me conta que não estou curada da minha compulsão (TOC). Agora é tarde! 
Respirar, meditar, controlar... 
Como controlar a dor de saber que perdi espaço em sua vida?
Agora ela é mãe! E eu? O que sou agora?
Vou cozinhar, ela ama a minha comida!
_ Mãe, corte assim, asse assim, lave assim... está sem sal... está doce! Você está comendo açúcar demais!
Decididamente, o que estou fazendo aqui? 
E, percebo agora minha mãe afastando-se de mim. Por um instante pensei se havia lhe causado esse afastamento. Será que lhe causei esta mesma dor?
Não, eu não volto mais aqui! Ela não precisa mais de mim!
_ Venha mãe, a casa é sua!
Tantas roupinhas para cuidar! E o quarto ainda para decorar...
_ Mãe, deixe que eu passo as roupinhas... Eu não quero esse enfeite aí..... Deixe, mãe!
Ao menos ainda ela me chama "mãe". Confesso que, por um minuto, pensei já não mais fosse. Seria agora tão somente uma visita?
_ Mãe, aguarde na sala de espera. Como você entra assim?
Eu somente queria ver se estava tudo bem com ela e com o bebê, ouvir seu coração de perto... Jamais pensei ser invasiva ou constrangê-la. Para mim, ela continuava sendo a minha eterna menina.
Não, não vou deprimir! 
Vamos tomar um capuccino grande, com bastante chocolate e cereja... sem culpa!
Novamente pensei em minha mãe, e chorei. Com certeza causei-lhe esta mesma dor!
Desejei pedir-lhe perdão.
Se eu pudesse ter nascido mãe para não tê-la feito sofrer!
Mas, a gente aprende a ser mãe somente com os filhos. E, ser avó com a mãe de nossos netos. Eu já começo a reconhecer o meu novo "status".
Na minha tristeza pude enxergar a tristeza da minha filha em ter que me mostrar esse lugar. Ela não estava sendo ingrata comigo, como sei que muito dos que lerem este ensaio irão julgar. Nós mães, às vezes, temos grande dificuldade em deixar os filhos assumirem as rédias de suas vidas, acreditando que não são capazes de seguirem sem a nossa aprovação. Os filhos deixam pistas todo o tempo, enquanto crescem, que até desejam, ou não, a nossa presença e opinião, mas, que, não "precisam" disso para decidirem suas próprias vidas.
_ Filha, precisamos conversar! Eu sei que por mais que você abra as portas e me acolha com carinho, a casa é sua. 
Ela olhou-me surpresa e, com os olhos marejados de lágrimas desejou negar essa realidade.
Compreendi, então, que a minha dor não era única. Ela também sentia ter que assumir agora o seu clã sem a minha anuência. 
_ Filha, já concluí o meu papel de mãe, agora é a sua vez. 
Ser mãe é uma função. Não somos mães, estamos mães. A função sempre pode mudar. Contudo, podemos continuar como família mantendo a nossa individualidade. Eu serei para seu filho a avó, e vou recebê-lo como uma grande medalha de "honra ao mérito" concedida por Deus, pelo trabalho realizado.
Eu lhe dei as bases, agora você irá educá-lo, cuidá-lo... É a sua família!
Eu vou apenas amá-lo! 
E, estarei aqui para ajudá-la, se preciso!
Confesso que tem sido muito difícil aceitar esta mudança. E, provavelmente, minha mãe também sentiu a mesma dificuldade, e muitas outras mães também sentirão. É como cortar o cordão umbilical outra vez. E, só damo-nos conta disso quando passamos a ser avós. Minha mãe, talvez, por não conseguir ter essa mesma visão sobre a saída dos filhos de casa, sofreu com a "síndrome do ninho vazio" e, fez-nos sofrer, sentindo-nos filhos ingratos. 
Eu agora a compreendo e a perdoo, e perdoo-me! 
Assim, filha, perdoo-lhe e agradeço o seu amor.
Perdoo-me e sigo lhe amando. Não precisamos manter esse ciclo de sofrimento e dor. 
Façamos diferente! 
Fechamos este ciclo, e juntas acolheremos essa nova vida em nossas vidas.
Sejamos felizes!
Ela me sorriu como se aliviada. Desde a minha chegada, ela tem tentado conversar comigo. E, sem conseguir deixar de ser filha, ensaiou por diversas vezes:
_ Mãe, precisamos conversar!
Mãe, não se sinta triste, ofendida, abandonada, ou impotente com essa nova situação. Eles irão, sim, preferir buscar auxílio no Google porque suas lições já são ultrapassadas, mas, no final, farão exatamente como você fez. 
A maternidade é universalmente instintiva, nenhum ser humano vem com manual de instrução. Por isso, permita-os seguir seus próprios instintos.
Curta seus netos!
E, abençoe seus filhos, para que, quando mais tarde, no futuro, eles possam olhar o passado e reconhecerem, então, através do exercício materno, o valor que se tem uma mãe. Agradeça a vida que lhe permitiu exercer esta função tão sublime. 
Alegre-se! 
Você cumpriu o seu papel, já alimentou, cuidou, educou, já sorriu com seu sorriso, já chorou com a sua dor. Perdeu noites de sono e ganhou dias de sonhos. Experienciou todos os tipos de emoções, a do parto e a do partir...
Portanto, respeite esse aprendizado necessário para a ascensão do amor sublime. Mostre que você aprendeu e agora pode ser promovida "vovó". Deixe a casa dos filhos para os filhos cuidarem. Afinal, eles constituíram sua própria família. E, a família nada mais é do que um grande laboratório onde se desenvolve o verdadeiro amor.
Que Assim Seja!

Luz e Amor!


"Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a terra que o Senhor teu Deus te há de dar". (Decálogo, Exôdo,X:12)