domingo, 10 de abril de 2016

EVOLUÇÃO EM FAMÍLIA: Abuso Sexual Infantil no lar








Em 06/01/2016 às 09:00 hs e 0:30 min.

Consultei a minha consciência antes de tomar tão delicada decisão, pois, que, envolve a vida de uma flor em botão. Não só uma pessoa muito amada, mas, parte da minha vida. Como não considerá-la como parte de mim? Somos responsáveis por todas as crianças, independentemente de terem saído, ou não, de nosso ventre, pois, todas as crianças são de Deus, como também são os nossos filhos. Não mencionarei nomes por motivos éticos, e o que nos interessa é o fato ocorrido. 

Provavelmente, muitos me condenaram por minha decisão, dizendo que não tenho o "direito" de me meter no problema. Porém, a minha consciência conduz-me afirmando que, não só tenho o "direito", bem como, também, o "dever" de ajudar a essa pequena criatura, que é a parte mais fraca da questão.

Entende-se por "Direito" o que está conforme a Lei. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) garante-me este respaldo. Esta Lei nº 8069, de 1990, da Constituição Federal, no Art. 1º, dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente. "Dever" é algo inevitável, uma obrigação (Dicionário da Língua Portuguesa). E, acima está os meus princípios morais, que me conduzem por esse caminho - denúncia de abuso sexual infantil. 

Não me "meter" seria virar-lhe as costas e tapar os meus ouvidos ao seu pedido de socorro, pois, entendo que, quando uma criança ou adolescente procura-nos para contar algo que a faz sofrer, isso é mais que uma confidência, é um pedido de ajuda. É como dizer: "_  Ajuda-me! Eu não sei o que fazer com isso!". Como, então, silenciar-me? Poucas são as crianças ou adolescentes com a coragem de fazer uma denúncia contra o abuso sexual dentro da família. Quando isso acontece, não se pode lhe negar os ouvidos. 

É inevitável a minha indignação diante da gravidade do ocorrido. O ato libidinoso ocorreu no seio familiar, entre pessoas que compartilhavam confiança mútua. O dever moral independe do grau de parentesco. "O mal é sempre o mal" (L. E.), não importa de que parte ocorra. Não há como ignorar o mal, como se a um "estranho" devesse a correção de seus atos, e, a um parente tudo lhe fosse perdoado. Até mesmo, porque, perdoar não é permitir o mal. Ao contrário, por amor, deve-se a correção. Perdoar é não guardar rancor, mágoas da ofensa, não pagar o mal com o mal. Está lá no Evangelho Segundo o Espiritismo.

Abuso sexual contra criança é um crime hediondo, pois, não só violenta o corpo físico, como dilacera a alma. Em muitos casos, as pessoas baixam a cabeça para o mal por medo, dizendo-se humilde de coração. Na verdade, temem não serem aceitos ou reconhecidos, mentem para agradar a família e os amigos, jamais por amor. A pureza de coração não está em não enxergar o mal, haja vista, o mal existe. O que lhes impedem de se posicionar frente a situação ("sair de cima do muro") é o orgulho, a vaidade e o egoísmo. Jesus era humilde, mas jamais foi conivente com o mal.

"_ Se teu irmão pecar contra ti, vai, e corrige-o entre ti e ele somente; se te ouvir, ganhado terás a teu irmão". (E.S.E., cap. X: 3).

Allan Kardec, no Livro dos Espíritos, questão 932, indaga aos Espíritos: "_ Por que, no mundo, os maus, tão frequentemente, sobrepujam os bons em influência?".

"_ Pela fraqueza dos bons; os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, dominarão".

Contudo, não se pode ser justo quando se leva para o lado pessoal, é preciso estar ao lado da verdade. E, a verdade está em Deus, que nos ensina a virtude. Corrigir não é se vingar. A vingança é um índice seguro do atraso dos homens que a ela se entregam, e dos Espíritos que ainda podem inspirá-la ... é ainda contrário ao ensinamento do Cristo: "Amai os vossos inimigos" (E. S. E.). Por isso, consultei diversas vezes a minha consciência antes de tomar qualquer medida. Por este motivo, indaguei-me profundamente, até verificar de que não se trata de vingança, não se trata de ir contra o meu irmão, mas, a favor do bem, fazendo aquilo que compreendo como o certo a fazer. O certo a fazer, segundo os ensinamentos cristãos, é sempre o bem e de forma impessoal.

"_ Quem é meu pai, quem é minha mãe, quem é meu irmão, quem é minha irmã? Todos aqueles que obedecem o meu Pai, estes são meu pai, minha mãe, meu irmão, minha irmã" (E. S. E.)Assim ensinou Jesus. 

O índice de abuso sexual contra crianças e adolescentes dentro da própria família é assustador. E mais assustador é saber que a família esconde, quando não para se proteger, mas para proteger o próprio agressor. Sente-se medo de represálias e vingança, ao menos, essa é uma das diversas justificativas apresentadas. Contudo, o maior medo é o da exposição moral. O próprio exame de corpo delito é uma agressão moral contra a vítima, porque leva a um constrangimento ainda mais profundo, motivo pelo qual, muitas se calam.

Segundo especialistas, a criança violentada sente-se constrangida e culpada pela a agressão sofrida. No abuso sexual o corpo responde ao estímulo. A criança ainda não é capaz de perceber que aquilo é errado. Num primeiro instante ela busca aquele prazer, porque lhe é dado por uma pessoa a quem deveria confiar. A criança só percebe que sofreu uma violência quando recebe informações do ambiente e descobre, então, porque aquelas carícias lhe causam tanto desconforto.

Há uma grande diferença entre explorar a sexualidade do corpo na infância, e "promiscuidade". Toda criança experimenta essa busca, esse conhecimento de seu próprio corpo. É natural essa exploração para seu desenvolvimento sexual. A criança observa o sexo oposto, compara sua anatomia em relação ao corpo do outro. Elas brincam entre si na busca de conhecer as sensações do corpo físico. Quem nunca brincou ou assistiu uma criança brincando de "médico"? Neste momento, ela não está só olhando os órgãos genitais do outro, mas, de certa forma, e sem compreender, está analisando o seu próprio. Isso faz parte da descoberta e nada há de mal nisso. Nada tem de promíscuo. A promiscuidade é confundir essa necessidade natural, com um agregado de desejos sem ordem nem distinção.

Um adulto já conhece, ou, deveria conhecer sobre seus instintos e desejos sexuais, e sobre estes ter o domínio. Conhecer este limite e se pautar a ele é que diferencia um homem de bem de um psicopata. A família, geralmente, tem dificuldade em perceber este distúrbio comportamental entre os seus membros, que é muito mais frequente do que se possa imaginar. Segundo pesquisas, comumente, o agressor já sofreu também a mesma forma de agressão, em algum momento da sua infância, e não sabendo lidar com a situação, passa a se "vingar" em outras pessoas. Logo, o agressor necessita de acompanhamento psicológico e emocional, assim como a sua vítima passará a necessitar.

O abuso sexual contra crianças até os quatorze anos de idade é denominado de pedofilia. A pedofilia não é tão somente um distúrbio de comportamento, que pode ser tratado, mas é considerada, também, um crime contra a criança. Pesquisas mostram que o abuso sexual infantil acontece, em sua maioria, dentro do próprio lar. É o pai que violenta a filha, um irmão que abusa da irmã, um tio que abusa da sobrinha, e, em alguns casos, não raros, o padrasto que investe contra os filhos da parceira. E, o mais chocante, para não se dizer grave, é a mãe omissa ou conivente com o delito, e, em alguns casos, até, co-autora. Ainda, porque, a mãe que negligencia os cuidados de seus filhos, silenciando-se, é considerada judicialmente responsável também pelo crime, podendo perder-lhes a guarda. Deus colocou sobre os pais a responsabilidade sobre os filhos, e a estes serão cobrados: "_ O que fizeste da criança que lhe confiei?" (E. S. E.).

Todavia, o abuso sexual infantil não só se dá contra crianças do sexo feminino. Os meninos também são vítimas desses abusos. As caricias íntimas, independente da penetração do pênis, também são consideradas como crime de "estupro". Logo, também devem ser denunciadas. O maior problema contra o combate ao abuso sexual infantil, é, ainda, que os adultos, geralmente, ignoram a fala da criança e acredita que é imaginação, ou que a criança ouviu alguma história e reproduziu. Dessa forma, deixa de lhe dar a devida atenção, permitindo a perpetuação do abuso.

De acordo com os especialistas, é dolorosa e danosa a violência sofrida, podendo deixar sequelas: comportamentais; físicas; emocionais; sexuais e; sociais, que podem permanecer ou piorar com o tempo. Em alguns casos, o abuso sexual contra a criança pode causar depressão, levar ao uso de drogas, podendo levar, até mesmo, ao suicídio.

De acordo com pesquisas, em muitos casos, o abuso se dá por disfunções comportamentais e emocionais no campo da sexualidade. Contudo, não se omitir diante da transgressão a essa Lei Divina, que é a individualidade do Espírito, torna-se uma benção para o agressor, contribuindo para que ele possa também vencer os seus maus instintos. Como dizem os Benfeitores Espirituais, muitas reencarnações se perdem pelo vício do sexo, que é um instinto, entre outros. O instinto é um sentimento primitivo que precisa ser vencido. O Espírito necessita evoluir para o sentimento puro, o amor. Esse aprendizado, ainda que às vezes, muito sofrido, tem seu início na família.

Consultar a minha consciência para verificar se nada havia contra meu irmão, e, depois, então, dignar-me a intervir na causa, fez-me sentir em paz comigo mesma frente a minha decisão. Aquele que já trás consigo algum conhecimento sobre os ensinamentos do Cristo, não deve se opor ao bem, temendo as represálias, pois, sabe, confia e obedece ao seu único general, que é Deus. Fazer o bem não pode representar simplesmente um desejo, mas um dever. O melhor remédio contra o medo é a fé. E, o que fortalece a fé é o conhecimento, e o autoconhecimento, também. A fé, antes de mais nada, precisa ser raciocinada.

Kardec adverte: "Espírita: Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo".

O Espiritismo não é uma religião, pois, não possui nenhum dogma ou rituais, mas deve ser vivido religiosamente. Sendo uma Filosofia, por ser fundamentado no conhecimento, dá-nos a compreensão do bem fazer de forma incondicional e impessoal, agindo com o outro como gostaríamos que agissem conosco. Se ainda não conseguimos agir com o nosso semelhante como uma grande família, façamos ao outro, simplesmente, como se fizéssemos para Deus. 

Compreendendo, hoje, que o erro é apenas um estágio da evolução, procuro evitar julgamentos. Comumente, costumamos julgar, condenar e aplicar a sentença. Sem erro não há aprendizado e, errar é humano. Estamos todos na Terra para evoluir, cada um no seu estágio de aprendizado, cada qual em um grau de evolução. A evolução não é igual para todos os Espíritos, conforme ensina os Benfeitores Espirituais, mas, todos, sem exceção, iremos evoluir, pois, este é o objetivo da reencarnação. Eu não preciso agir de acordo com o meu vizinho, minha família, meus amigos. Eu preciso agir de acordo com a luz da minha consciência. O mais... Deus o sabe.

As pessoas estão a confundir individualidade com indiferença. A indiferença é a outra face do amor. Individualidade é respeitar o que sou, sem, com isso, deixar de respeitar o que o outro sente ou pensa. Eu sei o meu espaço e o espaço do outro, ainda, que, ocupando o mesmo lugar. Ser indiferente é não enxergar o outro. A dor do outro também me atinge. Para isso, todos sofremos e experimentamos a mesma dor, para que não tenhamos motivos para ignorar a dor do nosso semelhante. Se assim não fosse, onde estaria a justiça de Deus? Deus é soberanamente bom e justo, e misericordioso.

Qualquer forma de abuso pode deixar sequelas. Quando um adulto ou responsável por uma criança, cala-se frente a grave denúncia de abuso sexual, ou, de qualquer outra ordem, é omisso em detrimento àquele ser, ele passa a ser tão repreensível quanto àquele que o praticou. Peca-se por omissão. O silêncio, quando se pode ajudar, é, também, uma forma de violência. Não importa se o transgressor é o pai, a mãe, o irmão, o tio, o avô. Seja quem for, não se pode inverter os valores morais. Segundo André Luiz, até no Plano Espiritual, cuidar das crianças, ganha-se bônus-hora em dobro. Daí a importância da família.

Ser condescendente não é ser conivente. Não se julga, mas, também, não se "lava as mãos", ou, disse-se: "_ o problema não é meu". Além do mais, quais valores morais se está passando para essa criança? Um estranho precisa ser punido: "merece morrer", "ser preso". E, um parente não? Não se quer dizer com isso, que, devamos desejar a "morte" de alguém que nos feriu a fundo, muito menos sendo um ente querido. Ao contrário, deve-se ter para com este a caridade, como ensina Jesus. Devemos amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, para as quais, desde que se arrependam, serão lhes concedidos o perdão e a misericórdia (E. S. E.).

Silenciar é permitir que se continue no erro. Como poderá alguém corrigir-se e responsabilizar-se pelo mau feito, ou, até reparar sua falta, se todos fingem nada saber? O arrependimento pode tocar-lhe o coração, e sua alma transviada pode aperfeiçoar-se e retornar ao Pai Celeste. É necessário ajudá-lo a sair do lamaçal, e, se, nada mais puder ser feito, a oração é um maravilhoso recurso. Deus pode, pois, atender a certos pedidos sem derrogar a imutabilidade das Leis Universais, dependendo sempre o atendimento da sua vontade (E. S. E., cap. XXVII; 6). Muitas vezes, para que a paz se estabeleça é preciso antes a crise. É preciso, muitas vezes, esquecer-se de si mesmo. As grandes transformações ocorrem através das grandes crises. E, muitas vezes, mudar dói!

O papel da família é exatamente auxiliar uns aos outros nesta transformação. Evoluir é transformar-se. O que acontece em uma família não é tão somente prova para um ou outro, é uma oportunidade para todos ali envolvidos, para que todos progridam. Para obter a finalidade a qual a família se destina, ela precisa ter a realização moral acima das sensações materiais; acima das sensações sexuais. Como colocou Nazareno Feitosa (2011), o amor precisa estar lastreado na humildade, na fé e no conhecimento. É esse o verdadeiro sustentáculo da família. Muitos, infelizmente, estão perdendo a noção de família. 

A família, segundo os Benfeitores Espirituais, é a primeira grande oportunidade que Deus, na sua misericórdia infinita, permite aos inimigos de existências pretéritas, reunirem-se para repararem suas faltas e juntos evoluírem. Nós elegemos aqueles que irão viver com a gente para toda a vida. Somos nós quem escolhemos a família onde queremos reencarnar, e Deus nos permite como oportunidade de evolução. Assim, a família é a primeira classe de Espíritos que encontramos na Terra.

A família é a mola mestra que nos impulsiona a conviver em sociedade. Todos os problemas que iremos enfrentar numa sociedade, encontraremos, antes, em nossa própria família. Logo, se não conseguimos ainda amar seres tão próximos de nós, dentro de um mesmo clã, como termos a pretensão de ajudar toda a humanidade? Precisamos ser amigos dos Espíritos que vemos primeiro. Estes estão em nossa família. Como bem colocou Nazareno Feitosa (2011), não adianta ser médium, comunicar-se com Espíritos desencarnados, e não permitir a comunicação daqueles que nos são próximos.

Quer ajudar a humanidade? Comece pela sua própria família. Depois, então, você estará capacitado para os grandes trabalhos humanitários. Quantos são aqueles que lá fora são só sorrisos e abraços, mas, que, adentrando a porta de casa torna-se um carrasco? O lar não pode ser considerado tão somente o lugar físico, de segurança e paz. O lar representa a renúncia, o silêncio, a dedicação e zelo. Amar é zelar pelo outro como se fosse parte de si mesmo. É a família que nos oferece essa extraordinária experiência e aprendizado. Valorize sua família. Busque saber como está; do que precisa; por que chora. Cuide-a, ainda que ela seja diferente. Seja tolerante, compreensivo. Dialogue, escute. Ame!

Como colocou a palestrante Rúbia Cristina (2011), "a família não é apenas um resultado genético, pois, que, ela representa os sonhos em comum dos seres que lhe compõe". Família é um conjunto de pessoas (parentes) com a mesma descendência, ou seja, um grupo de indivíduos que procedem de um mesmo tronco. Está lá no dicionário. Você não entra e sai da família, ou troca de família como se muda de uma casa. Família não é só para se estar nas festas, em datas comemorativas, beber, comer e, depois, fazer a resenha. Família é muito maior. Ela representa os sofrimentos, as aspirações, os sonhos e as lutas. Família, vive-se!

Família é para um ajudar o outro nos momentos de difíceis resoluções. Quando o problema não é o "cabelo" de um, ou, as "vestes" do outro, ou, porque um bebeu além da conta, mas, para quando a conduta moral de um ferir o outro, direta ou indiretamente. É para se apoiar quando um infortúnio bate a porta: uma doença, o desemprego, uma tragédia, uma perda, uma separação. Quando um membro adoece, todos os demais membros da família adoecem juntos. Dessa forma, "a família é um laboratório de experiências reparadoras, onde a dor e a felicidade se alternam preparando a paz futura" .

Parafraseando Rúbia Cristina, normalmente, a família reúne Espíritos necessitados, desajustados, para a reparação, graças aos processos reencarnatórios (C. RÚBIA:2011). Em outras palavras, existe planejamento da reencarnação. É importante passar por determinadas situações, como provas para a nossa evolução, e muitas delas está na família. Por isso, retornam ao mesmo grupo consanguíneo os Espíritos afins, dando, assim, oportunidades aos desafetos de uma evolução, de um progresso mútuo.

Os filhos não são cópias dos pais. Seu caráter, sua inteligência, seus pensamentos, procedem do Espírito. Minha sogra dizia-me: " a gente pari os filhos, mas não pari a natureza". Sábias palavras! O filho não vem àquele lar por acaso. Ele vem porque é importante para ele aprender a viver determinada situação naquele lar. Ligados por compromissos anteriores, retornam ao lar, utilizando-se das Leis Divinas, para, então, o reajuste de contas. As uniões não são por acaso. São encontros marcados para os ajustes morais. Nem sempre os filhos são inimigos do passado. Muitos são Espíritos afins, que tem vínculos afetivos. Porém, da mesma maneira que o amor atrai, o ódio também cria algemas.

A família são reencontros por motivos que a misericórdia divina não nos permite lembrar, jogando-nos o véu do esquecimento. Se não fosse o véu do esquecimento que assegura o refazimento da alma na reencarnação, os homens se tornariam feras, digladiando-se indefinidamente. E, a Terra seria um purgatório de angústias, lamentos, acusações e choros. Contudo, o Senhor da vida confere ao corpo físico um arado novo, com novas experiências, e, com isso, aprendemos a transformar os espinhos do passado em jardim de flores da nossa existência. Transformamos as aversões em afetos. E, esquecendo os defeitos e as deformidades de cada um, vamos procurando avançar no caminho. Assim, o esquecimento temporário é benção sobre nós.

O problema de convivência são as nossas imperfeições e não os problemas do passado. Os Espíritos dizem a Kardec, em O Livro dos Espíritos, que o instinto de conservação é a maior causa de nossa imperfeição. A autopreservação gera o orgulho, pai de todos os vícios; a vaidade e; o egoísmo. É por egoísmo que nos afastamos de nossa família.

André Luiz, em sua obra "A vida no Mundo Espiritual", diz que assumimos muitos compromissos no Plano Espiritual, reencarnamos com a promessa de acolher a esses irmãos, e, depois, esquecemos e os abandonamos. É preciso auxiliar nossos irmãos no Plano Terreno, na família. Ajudando-os também estamos evoluindo. 

"_ E sereis auxiliado no Mundo Espiritual, do mesmo modo que auxiliais aqui na Terra" (EMMANUEL).

E, é dessa forma, que, passo a passo, os laços de famílias são fortalecidos com as diversas reencarnações, e nunca destruídos. Porque, como bem colocou Rúbia Cristina (2011), os Espíritos no Mundo Espiritual, também, reúnem-se por afinidade, por simpatia, construindo o seu grupo de Espíritos Afins. Com as sucessivas reencarnações, os Espíritos até podem se separar: uns reencarnam antes do outro; uns permanecem no Plano Espiritual, enquanto o outro ocupa o espaço físico. Contudo, essa separação é sempre momentânea, porque os Espíritos amigos que permanecem no Plano Espiritual sempre permanecem unidos e ligados àqueles que lhes procederam a jornada pelo pensamento. Sempre permanecem orientando, através do pensamento, os seus entes queridos que já reencarnaram. (C. RÚBIA:2011).

Em muitos casos, segundo a palestrante, os Espíritos de um mesmo grupo afim retornam juntos a Pátria Terrena, reencarnando num mesmo círculo familiar, como: pai, mãe, filhos companheiros, ou, ainda, entre grupos de amigos; grupos de pessoas conhecidas.

De acordo com Rúbia Cristina, de uma maneira, ou de outra, esses Espíritos Afins permanecem ligados uns aos outros. Na maioria das vezes, esses seres retornam juntos, tendo a oportunidade de se depurarem numa nova existência, de se purificarem. E, a medida que conseguem este êxito, a medida que conseguem se desapegar da matéria, se afastar das paixões terrena, vão se fortalecendo quanto Espíritos, e esses laços de família, de afinidade, vão se estreitando cada vez mais, porque a medida que o Espírito se purifica, ele já não cultiva mais, ou, pelo menos, já nem tanto, as paixões terrenas, o egoísmo. E, assim, através de reencarnações, o Espírito vai dando um direcionamento mais real, mais profundo a essas afeições que mantém entre os seus. (C. RÚBIA:2011).

"A família é o laboratório do bem". Então, façamos com a nossa família, como o Mestre Jesus nos advertiu:

"Apressa-te para pagar o que deves. Reconcilia-te com teu adversário enquanto estás a caminho com ele, para que não suceda que ele te entregue ao juiz, e que o juiz te entregue ao seu ministro, e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá, enquanto não pagares o último ceitil". (Mateus V: 25-26).

O sofrimento doméstico de agora, pode se refletir na sociedade de amanhã (Lei de Causa e Efeito). Segundo os profissionais de psicologia, os agressores podem ser pessoas com grave deficiência de empatia, incapazes de perceber o quanto estão prejudicando outra pessoa. Seus pensamentos, muitas vezes, são distorcidos de que a criança está querendo esse contato sexual. Espiritualmente, são doentes morais e precisam de ajuda tanto quanto, ou, até mais do que as suas vítimas. Por mais que os seus atos causem-nos asco, é preciso não lhes querer o mal, mas, a responsabilidade das suas ações. "A cada um será dado segundo as suas obras" (Jesus).

Dessa forma, faz-se necessário auxiliar estes Espíritos enquanto estamos caminhando juntos, em uma mesma família. A reencarnação, ou seja, estar no corpo físico, é uma prisão para o Espírito, até que este evolua. Ajudando-os estamos também evoluindo. A Terra é um lugar de oportunidades (provas), e cumprimento de penas (expiação). Logo, o Espírito irá reencarnar quantas vezes forem preciso, ou por sua escolha, ou compulsoriamente, até que pague, centavo por centavo, o que se deve. Até a sua purificação.

As crianças são as sementes do amanhã. Cuidemos de nossas crianças acolhendo-as, escutando-as, elas têm muito a nos dizer, e a nos ensinar. Observe o seu comportamento, se há alterações. Observe-as em seu silêncio que tantas coisas revela. Totalmente confusa, a criança vítima de abuso sexual perde o interesse pelos estudos, falta-lhe concentração. Sente medo generalizado, culpa e vergonha. Adota comportamentos ora de agressividade, ora de profundo recolhimento (isolamento), ora abraçada em seu próprio corpo, ora rejeitando o próprio corpo, sentindo-se "suja". Demonstra conhecimento sexual precoce e impróprio para sua idade, masturbação compulsiva, exibicionismo, problema de identidade sexual e sociais.

Existe um Manual de Prevenção do Abuso Sexual publicado por Save the Children (Salvem as Crianças), que mostra as consequências a curto e a longo prazo desse abuso.

O papel da família é essencial na recuperação física e emocional da criança vítima de abuso sexual. É necessário acolher a essa criança com muito amor, buscando restituir-lhe, pouco a pouco, a confiança e a auto-estima perdida. É preciso validar seus sentimentos, oferecer segurança para que ela possa contar sobre o que aconteceu, evitando, assim, a perpetuação do abuso. A ajuda de psicólogos e orientadores nesta área é imprescindível. Não descuidando do estudo do Evangelho no Lar, que sempre consola e liberta, pois, que, ensina o perdão e o auto-perdão, auxiliando na sua nova caminhada.

A família existe para este fim, aprender o amor como nos ensinou Jesus. Que Assim Seja!

Luz e Amor!





"Então, chegando-se Pedro a Ele, perguntou: Senhor, quantas vezes poderá pecar meu irmão contra mim, para que eu lhe perdoe? Respondendo-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas que até setenta vezes sete vezes" (Mateus, XVIII: 15, 21-22)
(Bem-Aventurados os Misericordiosos, cap. X; 3. O Evengelho Segundo o Espiritismo)