segunda-feira, 14 de novembro de 2011

EQMs


Em 30-05-2011

Retornei para casa, depois da Fluido terapia, muito irritada e com uma enorme vontade de desistir. O que aconteceu? Outra manifestação que me levou de volta para o aconselhamento com a espiritualidade. Acabada  a leitura do Evangelho, dirigi-me ao módulo de tratamento. Havia dito desde a saída de casa que eles (espíritos obsessores) não iriam me dominar, não desta vez. Estava determinada a controlar a minha mediunidade.

Já na sala de espera foi possível sentir a presença de vários amigos desencarnados, os de luz e os sofredores. Estava  determinada a ser mais forte do que eles e evitar as comunicações. Eis que, de repente, um sono intenso tomou conta de mim. Um abrimento de boca descontrolado que fazia as lágrimas correrem pela minha face.  Tentei desesperadamente, por várias vezes, reanimar-me, em vão. O meu corpo começou a encolher-se e fui debruçando sobre mim mesma. Fiquei prostrada, inerte, sem força alguma para reagir àquele transe. Percebi que eles riam e comecei a discutir mentalmente com aquelas criaturas impertinentes.

Neste momento, fui chamada para o aconselhamento, sem dominar os meus movimentos, toda curvada e de cabeça baixa fui conduzida até a presença da espiritualidade da Casa. Então, o amigo espiritual que me recebeu, disse-me tratar de um zombeteiro e exclamou: "uma ferramenta enferrujando". Aconselhou-me a cuidar da minha mediunidade trabalhando-a, senão esses espíritos iriam tomar conta de mim.

Fiquei furiosa com o ocorrido, por não ter conseguido controlar a comunicação e ser alvo de brincadeiras, muto sem graça, diga-se de passagem. Em casa ralhei com eles como uma mãe ralha com seus filhos, ainda acompanhavam-me: "quem tem vergonha não faz vergonha aos outros", vocês envergonharam-me". Senti que eles ficaram quietos ao me ouvir, não queriam me fazer mal, apenas se divertirem com o meu ímpeto de controlá-los. Mostrar-me que eles podiam mais do que a minha vontade. Porém, recolheram-se depois de me virem chorar descontroladamente.

Quando deixei a Umbanda, há dez anos, fui motivada pela falta de respeito para com os Espíritos, encarnados e desencarnados, por algumas pessoas que abusavam da fé de outras que ali procuravam conforto e, abusar da sua própria mediunidade, instrumento que deveria ser usado para o bem e não para mistificação, ou disputa de poder.

Os espíritos evoluídos não ofendem, não ferem a dignidade do outro, não usam de palavras que causa dor, não usam da execração pública. Preferem ao silêncio da resposta à verdade  que mata, denigre a alma. E, os espíritos não evoluídos não são de todo ruins para que todo e qualquer mal feito recaia sobre eles. Existe o livre arbítrio, o obsediado é responsável, tão quanto o seu obsessor, por muitas vezes, ainda que inconscientes, procurá-los como testemunhas, de acordo com seu comportamento moral. Não nego a existência de influências espirituais: ondas malévolas e ondas benévolas,  mas são as nossas tendência morais que nos inclinam a uma ou a outra. Culpá-los somente é fugir à responsabilidade de nossos atos e,  não é justo. Utilizar-se de nomes de entidades elevadas para se pregar o que se bem quer, como "médium", é brincar com a fé de outrem e faltar com a Verdade (Deus). Talvez, por esse motivo, as Casa Espíritas, muitas vezes, esvaziam-se. Não só pela retirada dos fiéis, mas, principalmente pela saída dos Bons Espíritos, que não se comprazem com esse mal feito. Daí propagar-se que o espiritismo é "coisa do mal".

Eu saí em respeito aos Espíritos, saí em respeito a fé e ao sofrimento alheio. Foi por isso que ralhei com os que "brincaram" com a minha mediunidade: "quem tem sentimentos não fere os sentimentos alheios", por isso eles (zombeteiros), envergonharam-se também e, pediram-me desculpas. Como se vê, eles não são de todo ruins. São, somente,  humanos sem seus corpos físicos e, que trazem em si, tudo o que viveram, como qualquer um de nós, encarnados, trazemos na nossa alma.

Fiquei afastada dos trabalhos, com a mediunidade suspensa. Sai sem olhar para trás. Vivi durante sete anos seguidos, sem qualquer lembrança da Umbanda: nem "pontos cantados", "nem saudações". Nem mesmo lembrava-me de determinadas pessoas, seus nomes, como se não as tivessem conhecido. Não sonhava com os guias. Não tinha manifestações dentro de casa, nem mesmo dos "Exus" e "pombas-gira" (meus amigos) que são considerados erroneamente, pelos que não conhecem os seus trabalhos, como "espíritos do mau". Na umbanda são considerados "escravos" do guias, são os que fazem trabalhos de magias (são ciganos(as) entre outros). Passei a viver como pessoa "normal" até eles voltarem a se comunicar, há três anos, através de sonhos, desdobramentos e manifestações. 

Ontem, ouvi do amigo espiritual da Casa do Caminho, a mesma frase que recebi em 2009, do meu mentor espiritual: "quanto tempo você vai precisar para falar, dar seu testemunho... mais dezenove anos?". Chorei descontroladamente, a mesma pergunta, a mesma cobrança. Eu reconheço a existência de outras vidas. A vida não se encerra aqui neste plano, segue em  outros planos. Eu pude ver.

Quando, aos dezenove anos, passei pela primeira cirurgia para a retirada de um tumor na mandíbula, vivi uma experiência de quase morte (EQM). Tudo como pude ler, bem mais tarde e, depois de muito sofrimento, nos livros espíritas. Livros que me foram presenteados logo depois do ocorrido e, que, somente abri para lê-los agora, no Centro Espírita.

Após a cirurgia, ocorrida no Hospital Aristides Maltes, fui passando pelos corredores, aqueles focos de luz seguindo-me rapidamente, como a me acompanhar. Como poderia estar naquela maca e ver-me de outro ponto? Aquelas luzes .... Meus pais aguardavam-me na porta do quarto, enquanto eu seguia a maca  pelos  corredores do centro cirúrgico até o leito onde fui colocada. As mãos amarradas as barras de proteção. A enfermeira, gorda e negra, lembro-me bem de sua expressão: "ela estava muito agitada querendo levar as mãos ao rosto". Meu pai atento, aos meus pés, olhava tudo em silêncio e angústia. Minha mãe chegara perto de mim. Fixou o olhar bem no meu rosto e exclamou: "enfermeira, minha filha está morta!". Não contenho as lágrimas neste momento em que escrevo, a sensação daquele momento se fez presente. Olhava tudo ao lado dos Espíritos que me acompanhavam na subida por aquela luz de brilho intenso. Então, meu pai em desespero saiu quarto a fora. A enfermeira voltou-se para meu corpo, abriu os meus olhos, verificou o meu pulso, o seu coração acelerou e perguntou: "qual o nome dela?" chame o nome dela"! exclamou. As duas começaram a chamar por mim. Minha mãe estava mais pálida do que meu corpo já sem vida. 

Eu não senti medo. A paz que me acompanhava era tão grande e, aquela luz era tão confortante quanto a doçura da voz daquele amigo que me recebia. Assistíamos a tudo do alto, frente a um grande portal iluminado, não adentrei o portal. Ele, o meu mentor, pude saber depois, de uma luz intensa que o fazia ainda mais alvo na sua túnica branca. Cabelos e barba brancos, tão alvos. Ao seu lado um jovem, também de túnica branca e eu, também de branco, conversávamos. Mostrando-me a aflição dos meus pais, disse-me: "volte e diga a todos que o mundo precisa de oração". Sorrimos um para o outro e, rapidamente, retornei ao meu corpo físico. Continuei a dormir profundamente e em paz. Ao despertar, encontrei somente minha irmã, a mais velha, sentada ao meu lado. De imediato, pedi-lhe uma folha em branco e caneta, comecei a escrever tudo o que aconteceu ali, entreguei-lhe, ela chorou comovida : "Lena, é lindo!". 

Havia também uma mensagem especialmente para ela. Estava grávida do namorado e atormentada pois meu pai ainda não tinha conhecimento. A mensagem foi para que ela não se afligisse tanto, que tudo acabaria bem. Ela deveria contar antes que outra pessoa o fizesse para evitar os problemas que, infelizmente, por ela não atender, aconteceram. e, como sempre acontecia, sobrou para mim. Meu pai, mais tarde, ao descobrir via outros, ficou extremamente furioso com toda a família. Eu já havia recuperado-me da cirurgia, e não fui polpada do sermão. Minha mãe, então, por saber que eu tinha conhecimento da gravidez, acusou-me de difamar minha irmã: "minha filha está sofrendo por sua culpa", essas foram as suas palavras. Bom, vocês que já acompanham a minha história devem saber o por quê, e, também, o por quê do grifo. Então eu não era a sua filha? Foi o que mais me doeu, ser sua filha era uma dúvida constante.

Casei-me, tive uma linda filha, saudável. No período do primeiro trimestre tive a notícia da reincidência do tumor. Agora precisaria a retirada total da mandíbula. O meu mundo caiu. Precisei trancar a Faculdade (UNEB), pois corria o risco de aborto. Levei dois anos para engravidar. Lembro-me quando um dia, triste por, apesar dos tratamentos, não conseguir engravidar, meu pai, não creio por maldade, apenas ignorância, falou-me: "existem mulheres que são iguais a árvore seca, não dão frutos", aquelas palavras feriu-me profundamente, ainda mais sobre o olhar atento de minha mãe, que parecia sentir-se vingada.

Como o tumor, devido a gestação, desenvolvia com maior rapidez, o médico sugeriu o aborto. Eu não concordei. Eu queria aquela "vidinha" no meu útero mais do que tudo! Então, após 20 dias do seu nascimento, fui submetida a cirurgia. Abandonei a Universidade, os amigos, abandonei meus sonhos e fechei-me para o mundo. Estudar para quê? Dançar para quê? Dançar é uma expressão da alma. É o fluir da energia que eleva a alma. Que alma? Não havia mais vida em mim.

Passado dez anos, depois de fazer acompanhamento terapêutico e depois da Umbanda, pois foi nesse momento crucial da minha vida que os Espíritos sefizeram presentes de forma mais contundente - disseram a que veio. Diante do choque com a realidade e o meu desequilíbrio emocional, psicológico e espiritual, não suportando a carga, tentei suicídio. Conheci o outro lado da vida, o lado daqueles que transgridem a Lei Natural da existência. Ingeri veneno de rato com comprimidos de Diazepan, em dose alta. Consegui comprá-los sem receita, pagando ao farmacêutico o dobro do preço,  contraindo uma dívida ainda maior. 


Desta vez não havia luzes e sim um lugar sombrio. Um isolamento. Estava sentada a beira do Vale dos Suicidas, prestes a adentrá-lo. Estava com um dos pés para dentro, pensativa, como a refletir o meu ato, arrependida. Vestia uma túnica de cor bege, quase marrom. Não havia mais a brancura do desenlace natural. Os cabelos em desalinho, um olhar inquieto diante de tudo que assistia. Labaredas que não se apagam,  chuva que não cessa, frio que faz tremer, cinzas, desertos, galhos secos, lama, lodo, limo. Limbo! Estava preste a descer para o umbral. Espíritos de toda a sorte que tentaram contra a vida, enlouquecidos, desajustados, descabelados, imundos, rasgados em trapos escuros, tal qual escura sombra que os cercavam, tentavam puxar-me pelo pé. Choros e uivos, como cães danados, raivosos. Chegava a doer na alma. Ali, entre os dois planos, não vi os meus pais, nem minha família (esposo e filha).

Era um espaço vazio e silencioso entre o dois mundos. Foi quando uma voz chamou por mim, não consegui nem mesmo levantar a cabeça de tanta tristeza que carregava: "o que fiz de mim!". Porém, o meu mentor, aquele mesmo espírito de outrora, alvo e terno, agora acompanhado de um outro jovem, de traje beje claro, estendia-me a mão piedosamente: "sua missão não acabou, Deus tem coisas boas para você". Deus sempre nos dá oportunidade do arrependimento. Então, sem olhar para trás, aceitei sua mão estendida e partimos dali. Chegamos a um portal, onde pude me ver deitada no leito de uma UTI, no Hospital Roberto Santos. Estava entubada. Minha mãe na cabeceira e meu irmão, o mais velho, de joelhos ao lado da cama chorava e dizia: " fale com ela mãe!". Novamente, desabo-me em choro ao relembrar, como é doído dar meu testemunho neste momento. Ela respondeu: "ela não gosta de mim,  ela não me quer aqui". Em uma crise, antes de entrar no sono profundo (estado de coma de três dias), lembro-me de tê-la acusado do estado em que me encontrava e gritava para que saísse de perto de mim, pois, nunca havia me amado. Meu irmão, insistia aos prantos: "não desista Lena, você foi sempre uma guerreira, eu te amo!". 

Ah! Meu Deus! Como eu desejei ouvir estas palavras. Meu irmão não sabia que naquele exato instante me removera daquele suplício. Estou chorando agora como no momento em que ele as proferiu. Foi por elas que eu voltei. Ainda há poucos meses, conversávamos sobre nos amarmos e não estarmos juntos feito "família". O porque da separação, da distância que existe entre nós, de não nos reconhecermos como tal. Somos como estranhos e, eu pude revelar a eles (irmão e mãe) do peso que teve aquelas suas palavras para que eu regressasse à vida. Choramos abraçados pela primeira vez, eu e meu irmão mais velho. Confessei-lhe que sempre desejei ter um irmão mais velho. Ele revelou sentir-se "marionete" nas mãos de nossos pais. Eles manipulavam os nossos sentimentos e nos faziam sentir culpados pelos mesmos sentimentos. Mesmo assim, depois desse abraço, continuamos as nossas vidas separadas.

Quem entre os encarnados, que por algum motivo torpe, pensar em abreviar o seus dias, assista o filme "Nosso Lar", de André Luiz, e conheça o que está reservado aos suicidas sem nenhum exagero. Eu fui assistí-lo. Foi como se tivesse retornado àquela vivência. Voltou tudo a minha lembrança. Adivinhem! Assisti ao lado de minha mãe. Não sei se ela entendeu as minhas lágrimas. Posso garantir-lhes, não há no plano terreno sofrimento maior do que encontrei ali.

Sei que não devo sentir pena de mim mesma, nem lastimar a minha própria sorte. Eu sou feliz! Quem dentre muitos pode recomeçar diversas vezes? Eu pude. Eu trago na consciência tudo o que vi e ouvi, por isso me é cobrado muito. A vida inteira eu pude ouvir os Espíritos e perceber a sua presença em minha volta. Pude perceber as más influências, mas também, ouvir bons conselhos. O meu mentor está sempre do meu lado, apenas, afastá-se para que eu possa refletir meus atos sem com isso me abandonar. Sinto medo por não me sentir capaz de cumprir com tamanha responsabilidade. É a vida de outros que tenho que pensar. Fosse somente a minha, menos mau, eu sofreria com resignação, mas envolve a fé do outro, a esperança do outro. 

Preocupa-me a veracidade das comunicações. Preocupa-me as mistificações por alguns espíritos  zombeteiros e médiuns. Preocupa-me os meus vícios: o orgulho e a vaidade. O Espiritismo não é mágica, um espetáculo, ou um "dom especial". Eu não me sinto especial. Sinto um peso muito grande da responsabilidade e do comprometimento necessário ao trabalho. Prefiro abster-me das manifestações para não falhar, não me ver alvo de embusteiros ou zombeteiros que tentam desacreditar o Espiritismo. E, isso é uma falta minha, o "não querer errar". Eu sou humana e humanos erram, é uma ordem natural do aprendizado a que nos prestamos neste mundo de expiações e provas. Então, por este motivo rogo sempre a Deus: "Senhor, se não for para fazer o bem, eu Te suplico, tira-me a mediunidade".

Eu quero servir a Verdade. Eu quero ajudar com a Verdade. Eu não suporto pensar que alguém que acreditou no bem foi enganado. Sei que seria pura vaidade acreditar-me imune as falsas comunicações e que só os Bons Espíritos acompanham-me. Porém, é no outro que penso. Eu pude sentir na pele o que é acreditar como acreditei na Umbanda, que como em qualquer religião, recebe pessoas de toda qualidade moral, e não tem culpa das mistificações que ocorrem, do jogo de poder e, até mesmo, dessas entidades que desejam ferir os princípios doutrinários.  

Diante da minha tentativa de suicídio, a Casa que frequentava acusou tratar-se de "trabalho feito" para derrubá-la, por uma pessoa de alta estima. Momento seguido, algumas entidades de "nome elevado", expuseram-me à  frente de todos que ali estavam, usando palavras que sangraram ainda mais a minh'alma já dilacerada. Neste instante, fiquei paralisada e uma enorme janela abriu-se na minha frente. Mostrava-me o jogo de poder por trás daquela encenação. Vi não se tratar de Bons Espíritos, nenhum daqueles eram os guias da Casa. Uma voz se fez ouvir: "aqui não é mais o seu lugar, vá e não olhe para trás". Sai sem nem mesmo calçar os pés ou mudar a roupa. No caminho perdi a guia (conta) de Ogum, dono da Casa. "Vigiai e Orai".  Assim Seja!


"A beneficência, meus amigos, vos dará neste mundo, os gozos mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença. Oh, pudésseis compreender tudo o que encerra de grande e de agradável a generosidade das belas almas, esse sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar voltado para si mesmo, e que se desvista com alegria para vestir a um irmão! Pudésseis, meus amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer aos outros felizes! .... Compreendei quais são as vossas obrigações para com os vossos irmãos! Ide, ide, meus bem-amados, e lembrai-vos destas palavras do Salvador: "Quando vestirdes a um destes pequeninos, pensai que é a mim que o fazeis"!" (Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita, cap. XIII; 11. O Evangelho Segundo o Espiritismo).


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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.