quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Homenagem a Casa do Caminho: "Porta Aberta"


Hoje, dia 07-10-2011, dia da "Sustentaçã" mensal dos trabalhadores da Casa do Caminho, acordei feliz com uma nova maneira de pensar a vida. São 7h:30min, resolvi contá-la. E, por estar feliz, também resolvi ,de todo coração, perdoar as personagens que compõem a minha história, que, de alguma forma, por não conhecerem a caridade, fizeram-me algum mal. Decidi perdoar-me também, em nome desta mesma caridade.

Começo agradecendo a Deus, Senhor de todas as coisas e Único. Agradeço por eleger-me protagonista desta história. Agradeço esse momento da minha vida, o momento de renascimento de uma nova protagonista, parece redundante, mas, é assim mesmo que eu desejo para melhor expressar que, quando renascemos, somos outra vez novos personagens. Então quero agradecer a Casa do Caminho, a toda espiritualidade, encarnados e desencarnados que me acolheram e ajudaram-me de maneira salutar para esse meu renascimento.


Creio que alguns devem lembrar do estado em que ali cheguei: "lastimável", chora o meu Anjo Protetor. "Por que fugiste de mim? Era eu, o tempo todo, a voz que lhe perseguia querendo ajudá-la". Era a voz do meu "Anjo Bom". Estava tão desesperada que até mesmo dela (a voz) eu fugia. E choramos juntos: eu e meu Anjo Protetor. "Vamos mais uma vez recomeçar", propôs-me. "Sim, eu aceito!" E fomos juntos para lá, a Casa do Caminho, e, como fomos bem cuidados! Ele confessou-me a pouco tempo que: "as suas lágrimas são as minhas". Não desejava que fosse através da dor o reencontro mas, fora inevitável, visto que, eu já conhecia a minha condição de médium e a minha responsabilidade. Lembrou-me: "A quem muito for dado, muito será pedido", palavras do Evangelho segundo Jesus Cristo. Eu já sabia, fugia, mas sabia.

Eu já nasci médium, não me fiz médium. Na Umbanda, onde primeiro trabalhei, pela mesma causa, falavam-me isso: "nasci feita" (não precisou "feitura de santo" ou "de cabeça", significa dizer que quando eu nasci os guias já acompanhavam-me e, desde pequena, comunicavamo-nos. Sem entender, é claro! Comecei a perceber a presença dos espíritos muito cedo, estavam em todas as partes. Cresci acreditando que era  "louca", "esquisofrênica". A minha família fez-me acreditar assim, "problemática". Por não compreenderem a espiritualidade, dizem que é "coisa do mau". Muitas vezes, isolei-me no quarto escuro ou "dispensa", horas à fio, para não fazer mal a ninguém. Lá, machucava(m)-me o corpo com mordidas, puxões de cabelos, bater de cabeça na parede, enlouquecida(os), para depois, cair num sono profundo, sem nunca ninguém procurar saber. Quando em "crise" profunda, minha mãe dizia a todos: "ela não gosta de ninguém".

Minha mãe não me desejava naquele momento de sua vida. Longe de sua família e de sua terra natal, não encontrava apoio para as suas dores. Meu pai era ausente, não de amor e de zelo mas, precisava, como todo provedor, "chefe de família", trabalhar para sustentar seus rebentos. Eram quinze dias juntos e quinze dias fora. Nos quinze dias juntos, um novo rebento. E, lá ia ele, fora novamente, mais quinze dias. O problema é que quando rebentava um novo rebento, geralmente, para tristeza de minha mãe, eram os quinze dias em que estaria fora.
 
Foi numa dessas voltas que eu fiquei. Fiquei mesmo do verbo "ficar". Ela, num estado de total desespero não queria que eu ficasse, mas, eu fiquei, porque eu vim para ficar. Foram muitos comprimidos na tentativa do aborto, quase afoguei-me! Lembrei-me dessa passagem em uma terapia de regressão. Tratava-me de uma TPM e de um processo depressivo relacionado a não me sentir amada, processo este que me levou, desde muito cedo, à tentativas de suicídio (reflexo de um comportamento suicída da minha genitora). Minha mãe acusava-me do seu sofrimento. Creio que nem ela mesma saiba o por quê. Decorrente desse trauma, eu buscava ajuda com psicólogos e, foi daí, então, que fui encaminhada para a Casa do Caminho. Minha terapêuta diagnosticou que o meu problema era não só psicológico bem como espiritual. Depois da regressão e da descoberta do "não pertencimento", curei-me da TPM mas, não totalmente, do estado depressivo, o que estou conseguindo agora no Centro Espírita. 

Um dia, em outro momento, estando em uma consulta com a nutricionista revelei a ela que não gostava de beber água, dava-me arrepios e lebrava-me "tomar" comprimidos. Não havia feito regressão ainda, ela achou interessante a minha sensação de repulsa. 

Lutei. Não desisti de viver, essa foi a minha primeira grande luta contra os intempéries da vida terrena. Nasci "raquitica", não tinha força nem para chorar, diziam meus pais. Seria uma criança "nervosa" dizia o médico. Cresci ouvindo essa história e nem sabia o porque. Também, como poderia eu chorar? Tinha era que gemer, não era? Até mesmo para não incomodar, vá que ela resolvesse afogar-me na banheira! Era melhor não arriscar por enquanto, então, dormia.

Meu pai ficou cheio de cuidados comigo e, assim, cresci. Ela passou a rejeitá-lo e, a rejeitar-me ainda mais. Sem perceber, ela jogou-me nos braços de meu pai e, fez-me a sua rival...

Havia na sala uma imagem linda, bem maior do que eu com meus primeiros aninhos. Eu engatinhava e colocava-me aos pés da imagem e ficava a fitá-la. Era Nossa Senhora Aparecida, havia uma luzinha sempre acesa em seus pés. Eu estava sempre sozinha, esquecida, então encontrei companhia na "Santa". Sempre acreditei que ela olhasse para mim, e cresci acreditando que olhava por mim. Os olhos dela mexiam-se, acompanhavam-me, e no canto dos olhos eu pude ver  gotas  de sangue escorrer. Talvez fosse uma  inflexão de mim mesma. Ficava horas a contemplá-la, em silêncio: eu e Nossa Senhora Aparecida.

Fui crescendo e coisas acontecendo. Parecia viver em um mundo só meu, quase um "autista". Quando era noite de lua cheia, lembro-me, tinha por volta de nove ou dez anos de idade, corria para o quintal, achava que seria abdusida. Aquela claridade chamava-me de tal foça que sentia ir até a lua e voltar. Não se assustem comigo, eu não sou alienígena não. Mas, abria os braços e desejava imensamente subir. Tinha para mim, que havia vindo de lá de cima, e que alguém viria buscar-me. Até hoje, corro para ver a lua no céu, quando percebo o clarão da lua cheia. Que paz!

Também via "coisas", ou fazia "coisas". Fico em dúvida se fiz aqueles peixes na bacia, numa sexta-feira santa, voarem por toda parte da casa. Tinha sete anos de idade. Sei que me levantei no meio da noite e os peixes voavam na frente dos meus olhos. Eu não tive medo. Ao amanhecer havia peixes, em número maior, em todas as gavetas do armário; da escravaninha, menos na bacia. Detalhe: as gavetas estavam fechadas. Eu continuava a olhar e, minha mãe quase enlouquecera. Trouxeram, então, uma "pai de santo" que disse ter sido Oxum. Se foi ela ou se fui eu, até hoje eu não sei dizer, mas, lembro-me nitidamente das posições dos móveis da casa, da cozinha, dos peixes voando frente aos meus olhos em silêncio ....

E assim fui crescendo, brincando como todas as crianças, ou quase. Junto aos meus irmãos, brigas, choros, abraços, risadas, presentes. Ah! os presentes! Esses fortaleceram mais a rivalidade e a separação da família. Meu pai dava-me as bonecas mais bonitas, dizia ser por eu gostava de brincar de bonecas mais do que minhas irmãs. O ciúme da minha mãe só aumentava. Um dia ela arrancou-me das mãos a boneca que eu mais sonhara - "Mãezinha" - da Estrela. Tinha tido a minha menarca, contava doze anos. Como deixaria de ser criança ali, meu pai presenteou-me com o meu primeiro relógio, "Técnicos", dourado, lindo! e a "Mãezinha". Era Dia das Crianças e de Nossa Senhora Aparecida. Ela tirou das minhas mãos a "Mãezinha" e entregou a minha irmã caçula, que nunca brincou com a boneca, por "raiva", e não mais me deixou tocá-la. Chorei como se tivesse perdido, mais uma vez, a felicidade de se ter uma mãezinha. Desejei não crescer.

Foi quando comecei a escrever no diário. Não tinha com quem falar e precisava escutar a mim mesma, para compreender aquela situação, não ser amada por minha mãe. O que fiz para merecer essa rejeição de sentimentos? Então, um dia meu irmão mais velho violou meu diário, surpreendeu-me com ameaças de revelar tudo a nossa mãe. Acusou-me de falar "mal" dela, como pode? Eu não falava mal dela, falava das minhas angustias em perceber o seu desafeto por mim e o afastamento dos que eu amava, meus irmãos. Ele tratou a situação como "pecado mortal": "Nossa! Agora vou arder no inferno!". Então, não amava minha mãe? Ela estava certa, não amava ninguém? Rasguei o diário em prantos, ferida na alma. A partir de então, escrevi novos diários e rasguei-os todos, até adulta, parecia cometer um grave pecado. Como ajudar aos outros se não posso sequer olhar para dentro de mim? Este, para mim, é o significado de se escreve um diário.

Nesse período, ascendeu a rivalidade entre mim e minha irmã caçula. Ela passou a querer "tomar" tudo o que era meu, a começar pelos "namorados". Chamei-lhe a atenção, carinhosamente,  não vi maldade em suas atitudes, não a achava culpada, nunca achei. Então ela disse-me: "porque todo mundo só ama você" (os rapazes), mas creio que se referia ao nosso pai (o homem a ela negado). Falava que eu era a "princesinha" do papai. Mais tarde, quando já adolescentes feitas, ela tomou meu emprego. Nunca a condenei, somente tempos depois contei a nossa outra irmã o ocorrido. Ela confessou-me que, nunca entendeu eu ter sido demitida e a outra ter ocupado o meu lugar, mesmo sem experiência profissional (foi minha irmã mais velha quem indicou-me para seu lugar  na empresa).

Com os meus irmãos, havia menos disputa, às vezes acontecia ciúme, com excessão do mais velho, que  a partir daquele dia, demonstrara não mais me amar. Porém, eles aproveitavam para conseguir as coisas que queriam, como sair para passear: "manda Lena pedir para o pai que ele leva" ou, "ele dá", "ele faz", minha mãe os ensinara assim. Lembro-me de várias "brincadeiras de mau-gosto", um dia, um deles colocou um preguinho em um tiro-alvo e acertou-me o cotovelo. Fixei os olhos nos dele, arranquei o prego atirando-o no chão. Não senti dor, então ele exclamou: "nossa! que gênio! nem chorou!". Veja, ele atira-me um prego e eu é que tenho a natureza ruim? Bom, isso é só um relato um tanto comum na vida de algumas crianças e adolescentes. Nada que me torne especial.

Era difícil o sentimento de não pertencimento àquela família que eu tanto amava. Cresci acreditando não ser filha consanguinea de minha mãe, tamanho a sua rejeição por mim. Talvez seria filha somente do meu pai, quem sabe uma filha que ele a obrigou acolher e jamais amar. Foram palavras duras de negação: "se não estiver satisfeita, a porta da rua é a serventia da casa" ou, "eu não lhe suporto". Eu fui o tapete, o saco de pancadas, eu fui a escrava jogada aos seus pés. Não queria lhe perder e ela não podia me perder, então, encontrou na minha necessidade de afeto a fórmula de manter-me presa. Perdesse-me, quem ouviria os seus gritos? Quem suportaria as suas dores? Quem enxugaria as suas lágrimas? 

Um dia quando encontrei suporte para deixar a casa, deixar minhas dores, disse-lhe ao sair: "quem sabe agora nós possamos ser amigas já que mãe e filha não conseguimos ser". Então, saí para formar a "minha" família, o meu lar. Tempos depois, em uma visita a ela, encontrei-a chorando, a casa vázia. Ela olhou-me, encostada na máquina de lavar, na área de serviço e confessou-me: "estou sozinha depois que você foi embora", "adoeço e não tem um que vá me levar o remédio na cama, ou um copo d'agua". Choramos juntas, eu não queria que ela sofresse. Eu a amava tanto e ela nunca percebeu ou entendeu o meu amor. O seu ódio por mim, não permitiu. Nem ela sabia porque não suportava a minha existência. Sei que foi verdadeira ao dizer da falta que sentiu da minha presença. Sei que suas lágrimas foram sínceras. Por que não conseguia me querer?

Eu não queria que ela  sofresse por eu existir. Eu precisava nascer para está vida. Morri tantas vezes que amo viver. Eu nasci há 45 anos, mas só comecei a existir há pouco mais de hum ano, depois de ter retornado ao útero materno e compreendido a extensão da vida. Por fim, ter cortado o cordão que me prendia àquele mundo sombrio. Entender porque sentia-me "um estranho no ninho", compreender o sentimento de não pertencimento que assolava a minha alma. Perdi-me tantas vezes para poder encontrar-me. 

Parece que estou relatando coisas tristes, coisas más. Não, não vejam assim olhos piedosos que crêem na justiça Divina. Acreditem-me. Estou relatando os melhores momentos da minha existência. Sem esses momentos eu não teria agora o instante de consciência sublime d'alma, a consciência do espírito. Logo, foi bom, mais do que bom, foi necessário. Hoje compreendo através da doutrina espírita os laços de sangue e os laços de espírito (Honra a teu pai e a tua mãe, cap. XIV; 5-8, O Evangelho Segundo o Espiritismo). Eu chorava e não me encontrava por não compreender e viver o Espiritismo. Descobri depois de tanto sangue derramado, sangue sim, pois que as lágrimas são sangue, eu vi nos olhos de Nossa Senhora Aparecida, eu fazia parte do "parentesco corporal" mas não do "espiritual", daí o sentimento de não pertencimento, a solidão. Sempre indagamo-nos quando juntos: "por que somos irmãos, amamo-nos e não conseguimos ficar juntos, unidos!". Parecemos "estranhos" no olhar um do outro. Com a consciência espírita, agora aceito está condição, sei que ninguém é culpado e ao mesmo tempo todos somos, já que nos escolhemos.

Quanto a sentir-me "um estranho no ninho", concordo, hoje, com a minha terapêuta: "vocês nunca irão se aceitar como iguais, porque você buscou ajuda, buscou conhecer-se, buscou melhorar, enfim". Penso, eles podem não me entender ou não me aceitar como sou, porém, eu já posso entendê-los, e, antes disso, eu já os aceitava como são apenas por amá-los. O fato de não comungarmos de uma mesma idéia não significa falta de amor. Eu amo-os com toda as nossas diferenças. Ninguém é especial, ou melhor do que o outro, somos apenas seres individuais, por isso, diferentes no pensar e no agir e, porque não dizer, no amar. E, acima de tudo, somos filhos de um mesmo Pai.

Bom! É por tudo isso que acordei feliz no dia de hoje, aniversário de dez anos da Casa do Caminho, Instiuição Espírita, onde as "portas abertas" estarão, para a serventia da casa. Aqui, finalmente, deixei de ser um "instrumento enferrujado"  para servir ao Senhor Jesus Cristo.

É assim que se constrói um ambiente próspero de amor, repartindo com o próximo o fruto que colhemos. Se somos árvores de pomos dourados, então, somos árvores douradas. Se somos árvores douradas, então,  somos repletos de felicidade. A felicidade está onde pomos o nosso coração, porque nele germina a mais pura semente de amor. 


Jesus Cristo reside em nosso coração, o seu endereço é fixo. Então, o que está esperando para encontrá-lo? É só tocar. Felicidades!
Luz e Amor!



CONHEÇA A CASA DO CAMINHO, é só acessar: 
http://www.casadocaminho-pae.org.br/textos/texto_29.html





 http://imagensdecoupage.blogspot.com/2011/04/arte-em-john-james-audubon.html

2 comentários:

  1. Sua estória se parece com a minha. Graças a Deus vencemos!

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    1. Sim, Graças a Deus!
      Obrigada por compartilhar da minha história, que hoje percebo não é só minha. Saber que existe alguém mais, neste imenso Universo, que vive histórias semelhantes e encontram soluções semelhantes, faz compreender que nunca estamos só. Somos uma grande família universal. Compartilhar das minhas experiências significa para mim, ajudar as pessoas a não se sentirem tão só, como um dia eu já me senti por não conhecer esse Universo Invisível, mas real, onde as histórias se repetem, interagem e modificam-se.

      Luz e Amor!

      Lena

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.