domingo, 29 de janeiro de 2012

Suicídio: um problema de todos

 Suicídio, você pode ajudar

Em 27-06-2011, às 22hs e 30min.

Fui para a leitura do Evangelho, que acontece todas as segundas e quintas-feiras, na Casa do Caminho. Deixei para entrar no salão apenas no início do trabalho, na tentativa de não dar nenhuma comunicação e, assim, evitar constrangimento da comunicação "fora de hora", ou, aquela dor de cabeça que me acompanha todas à vezes que lá compareço.

O capítulo estudado do Evangelho Segundo o Espiritismo foi o V, itens 13 e14, que tratam sobre o suicídio e a loucura. Foi abordado sobre o suicídio consciente e inconsciente. O inconsciente ocorre todas às vezes que abusamos dos prazeres terrenos, negligenciando os efeitos dos nossos atos sobre a nossa saúde física, por exemplo: aquele que sabe que o cigarro prejudica-lhe a saúde e continua fazendo uso. Certamente, ele não fuma na intenção de abreviar os seus dias, ou seja, ele "não intenciona" morrer, apenas ignora as consequências do seu ato. O suicídio consciente ocorre quando se tem a intenção de abreviar o tempo na terra, infringindo a lei natural, a lei da vida. Ocorre quando negligenciamos os efeitos morais dos nossos atos, aqueles que repercutem no espírito.

No decorrer dos estudos comecei a sentir grande aflição, tornando-me muito irritada com a discussão. Sentia o sangue gelar diante das colocações ali feitas. Desejava dizer a todos presentes, principalmente, àqueles terapeutas, que não era nada daquilo e que pouco entendiam da alma humana, dos seus sofrimentos, se assim não fosse, não haveria tantos hospícios e manicômios que nada resolvem. Hospícios e prisões, ou qualquer outro cárcere, existem para esconder da sociedade o que a própria sociedade não consegue conceber, a perfeição humana. É mais fácil ocultar o problema do que o olhar de frente. Olhar de frente requer desprendimento, disponibilidade para a boa ação, abnegação, caridade pura, é olhar para si mesmo, sem as máscaras, porém, o ser humano ainda não atingiu este grau de evolução, de comprometimento com a Lei Divina, com a Lei do Amor: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo".

Ninguém, em sã consciência, que não tenha sido atingido na alma, deseja a morte verdadeiramente, ao contrário, o suicídio é muito mais um grito de socorro, do que a desistência de uma vida. É a dor moral rompendo-lhe a alma, rasgando-lhe no âmago de sua existência, pois que, não há dor maior de se suportar do que a dor moral.  A dor física é inevitável, não depende do nosso querer, o sofrimento da alma, este, pode ser evitado seguindo-se os ensinamentos morais, deixados pelo Mestre Maior, Jesus. Não podemos dizer a uma ferida aberta na carne humana: "não doa" e ela, prontamente, deixar de doer. Será preciso medicações para aliviar-lhe a sensibilidade física. A dor moral, sendo bem mais profunda e complexa, e que só se manifesta em consciências despertas, as que permanecem adormecidas não a sente, não encontrando o remédio certo para o alívio das suas aflições, constituirá em sofrimentos diversos e de longo prazo, muitas vezes, em danos irreversíveis para a alma.  

A dor moral, faz-nos olhar para o Alto, para o Céu e implorar por clemência pois sabemos, no ínfimo das nossas entranhas, que ferimos as Leis de Deus, "Princípio Universal", fracassamos com a vida e nos colocamos no inferno astral. O sofrimento é visto como um castigo infindável, infligido àquele que transgride a Lei Maior. Desejamos, neste momento, desesperadamente, fazer tudo diferente, acreditamos que, abreviando o tempo, conseguiremos interromper todo o processo no qual se instalou as nossas feridas e, consequentemente, diminuir o nosso pesar e as nossas dívidas com o Pai celestial. É como se dissessemos: "Senhor, eu não sou digno de fazer parte desta vida, eu fracassei, entrego-lhe a minha vida para que eu não faça mais sofrer, nem a mim, nem a mais ninguém". A dor moral, assim, nasce da falta de esclarecimento, do acreditar em um Deus severo, vingativo, e, que, somente entregando-lhe a vida em sacrifício, é possível restituir-lhe a confiança, abrandar os sofrimentos, e alcançar a graça de uma vida eterna, uma vida mais feliz. É o resultado de uma cultura sectária, oferecer a vida em holocausto.

Essa cultura secular precisa ser vencida através dos Ensinamentos do Evangelho, somente, assim, vencendo esses preceitos, será possível evitar que muitas outras almas se percam em si mesmas, acreditando  encontrar-se. "Ides e pregais o Evangelho", eis a chave da Salvação. Fazer-se conhecer os Ensinamentos de Cristo é o verdadeiro dever de todos os cristãos, de todos espíritas. Não se pode ensinar o que não se aprendeu Aprendizado requer prática. Praticais o Evangelho, sejais exemplos para essas almas sofridas e renegadas pela  ignorância, então, possivelmente teremos mais Casas Espíritas e menos Sanatórios.

Deus, na sua bondade infinita, ainda assim, permite-nos recomeçar a tarefa que, pela ignorância dos nossos atos, postergamos, atrasando a nossa evolução. Este recomeço pode ser imediato ou demorar longas reencarnações, dependendo das circunstâncias do acometimento. Eu dou o meu testemunho, pois que, trago as lembranças do meu ato desesperado, sim, ato daquele que perdeu a esperança, mas não a última, pois, aqueles que a perderam definitivamente permanecem no Vale do Sofrimento, até recobrarem, de alguma sorte, os sentidos, quem sabe, através das preces a eles oferecidas insistentemente, pois que, as mais puras orações chegam à Deus, como um grito de reconhecimento e de amor.


Estive à beira do Vale dos Suicidas, no umbral. Levada pelo desespero e por ainda não conhecer a Deus, atirei-me para o suicídio com uma forma de resgate da minha própria alma. Eu gritava: "olhem para mim!", mas, ninguém ao meu lado me escutava. Dei todos os sinais de que estava me perdendo: nas frustrações, na solidão, no isolamento da depressão, músicas altas, bebidas, embriagues, devaneios torpes, sexo como busca incessante de amor, buscas vazias. Depois, a dor, o arrependimento, os sonhos que se perdiam cada vez mais, o não mais querer, e, ninguém ouvia os meus gritos de socorro. O sofrimento foi se instalando inevitavelmente, não podendo mais lidar com ele sozinha, quase enlouquecida, busquei ajuda nas sessões terapêuticas. A minha família acreditava que era só pelo rosto desfigurado, mas que eu era forte, guerreira ... Iria vencer sozinha.

Não. Eu não era forte nem guerreira, estava completamente no chão, e não fora tão somente pela mandíbula amputada, mas pelos sonhos ceifados, pelos amores destruídos mesmo antes de nascer, pela vida que não existia mais em mim. Eu não quero aqui, culpar a ninguém pelos meus fracassos, somos responsáveis por nossas escolhas. Contudo, é importante ressaltar que, muitas vezes, "por falta de um berro, a vaca cai no atoleiro". Então, aí é que entra a doutrina espírita, a caridade. "Lavar as mãos" é bem mais fácil do que se comprometer, dizer: "eu posso ajudar?". "Não vejo", "não ouço", "não falo" é a maneira mais vil de sair pela tangente, sem culpa. Na verdade, todos somos responsáveis uns pelos outros, senão, o Senhor Deus  não seria sábio e justo: "quem fizer a um desses pequeninos é a mim que o faz". Quem não ama ao seu próximo, não lhe estende a mão, vendo-o cair,  não ama a Deus, nega a Deus. E, muitas vezes, infelizmente mais para os que agem assim , do que para os que necessitam, nega-se um olhar mais atento, até mesmo à quem se diz "próximos": pai, mãe, filhos, irmãos, amigos. 

A terapia não foi suficiente para evitar o que poderia ser evitável. Acreditando que não havia mais por que seguir, já que ninguém parecia me amar, deveria ser, realmente, algo (coisa) muito insignificante para não merecer amor, para ninguém me ouvir. Apesar de não aceitar um Deus vingativo, cruel, carregava uma culpa de fazer sofrer aqueles a quem amava, e, talvez, por isso, merecesse ser extirpada da terra, igual erva daninha. Construção de uma cultura, onde, ir contra a igreja é pecado, discordar dos pais é pecado, ter opinião é rebeldia, "não vai para o Céu" e tantos outros mitos e tabus, que por não se ter esclarecimento da Verdade, passa-se a viver de sofrimento constante, em busca da liberdade de se poder ser. É neste momento, quando estamos totalmente "para baixo", literalmente "entregues", que entramos em sintonia com o plano inferior, com espíritos obsessores, vingativos, que, se aproveitando da nossa fraqueza e invigilância, empurram-nos para o suicídio, por isso a necessidade constante de "Vigiar e Orar".

Nunca acreditei na fé cega, é fanatismo. Nunca comunguei com os ensinamentos que me foram passados através da ignorância de quem também não conhecia a Verdade. Sentia-me completamente só, não conhecia o espiritismo e como  na minha visão, eu representava um número menor, logo, o erro estaria em mim. Então, para que continuar num mundo de solidão? Talvez, todos tivessem razão, Deus tenha me castigado, quem sabe, esquecido de mim. Atirei-me nesse abissal.

Passei três dias em coma, fiquei entre o plano físico e o plano espiritual, num espaço vazio, de um tom meio alaranjado, puxado para o marrom e, um silêncio profundo. Não pude ver a quem amava, nem pai, nem mãe, irmãos, filha, esposo. Era eu e o isolamento dos meus pensamentos. Desse espaço, avistei abaixo dos meus pés somente lágrimas, gemidos, uivos, "ranger de dentes". Sombras, cinzas, um fogo que não queima e não se apaga. Árvores secas, terreno íngreme, pedras, lama, lodo, limo. Limbo! Todos pareciam enlouquecidos, animais raivosos, débeis em seus sofrimentos. Um sofrimento inigualável no mundo terreno, almas que perderam a fé.

Mas, até neste momento, Deus é piedoso com as suas criaturas, existe uma equipe socorrista atenta a esses afortunados, dando-lhes o amparo necessário e as mão sempre estendidas para aqueles que, finalmente, aceitam o socorro. O Senhor enviou-me o seu mensageiro que estendendo a mão, disse-me: "Ainda há muito o que ser feito, O Senhor tem algo bom reservado para você". Aceitei a sua mão estendida e deixamos aquele lugar sem olhar para trás. Era o meu Mentor (anjo-de-guarda) em meu socorro. Apresentou-se como um senhor de cabelos e barba branca, vestia uma túnica que de tão branca, confundia-se à sua alvura. Acompanhava-lhe um jovem espírito, este trajando uma túnica bege. Os espíritos inferiores não podem subir ao plano astral superior, porém, os mais elevados podem socorrer-nos no baixo-astral, quando permitido por Deus, pois que nada acontece sem o Seu consentimento, nem na Terra, nem no espaço invisível.

Até meio aos infortúnios existe o livre-arbítrio, a vontade é sempre nossa: parar ou seguir. O que não exclui a necessidade da mão estendida. Insisto na importância da prece, pois que, ao conduzir-me pelo grande portal, pude ver o meu irmão de joelhos, em lágrimas, ao lado do meu corpo imóvel na UTI, implorando para que não desistisse da vida, e, que me amava. Foi neste momento que a luz da sua prece e amor fizeram-se presentes. Então, pude retornar ao meu corpo físico e prosseguir na minha caminhada. O meu anjo guardião pediu-me, somente, que orasse pela humanidade: "o mundo precisa de oração". Até hoje continua sempre me pedindo para ensinar a orar.

Oh Senhor!
 O Senhor é Santo
O Senhor é Único
O Senhor é todo Poderoso 
Ensine seus filhos a rezar
Quem vos fala é um irmão de luz
Não deseje mal ao próximo 
ainda que lhe façam o mal 
Lembre-se: ofereça a outra face
ainda que lhes digam o contrário
Reze para que seus dias seja de luz
E não conheça a treva
Nem nesta vida
Nem na vida eterna
Assim Seja!  

(Espírito Protetor)

Não quero com essa minha explanação justificar um ato para o qual não há justificativa. Desistir da vida é mais que um ato de covardia, é um crime tal qual o homicídio, apenas aplicado a si mesmo. Ao criminoso resta somente à prece pela sua resignação, julgá-lo, jamais. "O homem não tem jamais o direito de dispor da sua própria vida, pois só a Deus compete tirá-lo do cativeiro terreno, quando o julgar oportuno (...) O suicida assemelha-se ao prisioneiro que escapa da prisão antes de cumprir a sua pena, e que ao ser preso de novo será tratado com mais severidade" (cap. V; 14-17, O Evangelho Segundo o Espiritismo).

Desejo mostrar que existem diferentes motivos que contribuem para esse desfeche fatal, o suicídio. Motivos ímpares, e que fogem ao olhar de muitos terapeutas, e que a ciência não é capaz de desvendar na íntegra, simplesmente, por que a consciência é um universo impenetrável. Consciência não é o mesmo que cérebro, este é um sensor físico, a consciência é um sensor do espírito, é a alma humana. Sabe-se, no entanto, que uma vez desperta, jamais poderá regredir. Almejo, também, chamar à responsabilidade todos aqueles que se fazem cristãos, mostrar-lhes que o problema do outro é de todo mundo. Família, esteja atenta as responsabilidades com os seus entes, peca-se por omissão. Espíritas, amem desmedidamente ao próximo, levem à todos o Evangelho. É somente através do seu conhecimento ser possível reverter esse quadro de loucura que se instalou na humanidade e, prevenir contra o suicídio. Que Assim Seja!

Luz e Amor!


"Trabalhadores, traçai o vosso sulco. Recomeçai no dia seguinte a rude jornada da véspera. O trabalho de vossas mãos fornece o pão terreno aos vossos corpos, mas vossas almas não estão esquecidas: eu, o jardineiro divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos" (O Cristo Consolador, cap. VI; 6. O Evangelho Segundo o Evangelho).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.