Em 04-11-2011, às 18hs e 50min.
Passei o dia inquieta. Senti vontade de desistir da responsabilidade assumida com Cristo - a desobsessão. Neste momento estou sentindo-me fracassada. Foi assim que saí ontem do trabalho, com a sensação de que, por algum motivo, falhei. O pior de tudo é não saber onde, assim, poderia corrigir-me.
O que este trabalho requer de mim, médium? Como considerar falsa ou verdadeira as comunicações se não sabemos com quem estamos tratando? Quem são esses espíritos? Fico angustiada temendo enganar-me e, que, essas comunicações possam ser "delírios meus". Então estarei louca? Pareço não dizer coisa com coisa. Será que pode existir alguém com uma imaginação assim, tão fértil? Nossa mente será capaz de realizar tamanha proeza?
"Animismo", essa é a palavra a qual procuro para justificar minha angústia. Quando o que sinto e que falo vem de outro Espírito? Quando são reflexos da minha própria alma (consciência) errante? Quem pode ler a consciência humana? São apenas elucubrações na tentativa alucinada em elucidar o que se cala em minh'alma aflita.
Tudo começou quando na mediúnica (desobsessão), o doutrinador inqueriu uma comunicação "extra", de ordem pessoal, exatamente no momento em que eram chamadas as fichas de atendimento. Não sei bem a quem atendi, a única coisa que percebo é que houve uma forte interferência na comunicação. Duas vozes paralelas queriam ocupar o meu pensamento, num mesmo espaço de tempo. Uma sobresaiu-se à outra, não consegui, no entanto, desvencilhar-me daquela interferência magnética que se prolongou e se projetou, durante o trabalho às demais comunicações.
No momento após a comunicação inferida, o doutrinador comentou comigo que a comunicação solicitada não correspondia com a manifestada por mim, a partir de então, fiquei confusa, ouvindo, de instante em instante, aquela voz promovendo brigas. Queria todo o tempo provocar o doutrinador consulente, chamando-o de "covarde". Dizia: "você não é o todo poderoso, porque não veio você mesmo à mim?". Seguia: "pensa que é Deus?"; "você não pode comigo"; "você não me pega". Meio a minha angústia, essa comunicação prosseguiu intercalando-se com as demais até o encerramento do trabalho.
Ao despedir-me do doutrinador consulente, gelei a alma num frio de morte. Um ódio terrível e de súbito tomou-me por inteiro, não podendo controlar a comunicação. Era ele, o seu obsessor, quem interferiu nas comunicações no trabalho dessa noite. Queria ajuste de contas, acusando-o de tê-lo deixado no escuro em que se encontrava, motivo de seu ódio. Repetia a todo instante: "ele pensa que é Deus, ele não é Deus não!". Continuou contraindo-se todo: "que ódio da escuridão em que ele me colocou"; "ele não é Deus, ele não me pega".
Fui chamada a atenção pelo coordenador dos trabalhos por ter permitido a comunicação quando o trabalho já havia encerrado, mas, o que fazer? Eu não esperava que ele (obsessor) voltaria com aquela força toda diante do seu "algoz". Então, o sentimento de fracasso, de falhar como médium somente aumentou em mim, tomando conta do meu ser. Aquele comportamento do doutrinador consulente é inadequado para o trabalho de desobsessão. Deve-se respeitar aqueles que estão ali, levados pela Espiritualidade, antes mesmo do trabalho começar e jamais interferir com os nossos problemas pessoais. Não que, o trabalhador da Casa não seja atendido em suas nessidades, mas, existe hora para cada um, e, para o trabalhador existe, ainda, o aconselhamento com a Espiritualidade, disponibilizado, a qualquer tempo, pelo Centro Espírita.
Conversei com um amigo mais experiente na Casa, ele falou-me que era completamente normal sentir-se assim, às vezes, diante das expectativas que traçamos no início dos trabalhos e das responsabilidades assumidas com a Espiritualidade. Falou-me que, provavelmente, ao contrário do que eu estava sentindo, tenha sido o meu melhor dia de trabalho. O trabalho talvez tenha sido difícil e não tenha se encerrado ali, naquele momento. Possivelmente prosseguiria durante a noite, durante o meu sono.
Fiquei um pouco mais tranquila e confesso tive uma noite de paz, de sono profundo. Senti no descanso necessário o refazimento das minhas energias. Porém, durante o dia, as lembranças retornaram junto com as incertezas. Comecei, então, a ler o livro "Obsessão e Desobsessão", de Suely Caldas, 3ª parte, item 12 - Tipos de Espíritos comunicantes, caí em prantos ao perceber que as comunicações não são frutos de uma mente fértil ou doentia do médium. Existem sim, espíritos com os mais diversos tipos de comprometimentos mentais; das mais diferentes espécies de sofrimentos da alma; portadores de dores infindáveis e inimagináveis aos olhos daqueles que não conhecem a doutrina espírita. Chorei de comoção e resignação, removendo de dentro de mim, a idéia de abandono da causa. O meu medo de enganar, mistificar, brincar com a fé de outrem, freia o ímpeto da minha vaidade.
O que esse trabalho requer de mim, médium, a responsabilidade de ser fiel as comunicações e manifestações espirituais. Quanto ao grau de pureza, de intenção de verdade daquele comunicante, não cabe a mim julgar. Os mentores permitem cada comunicação de acordo com as necessidades de cada um. E, muitas vezes, a necessidade é a do próprio médium, do doutrinador, ou, até mesmo do grupo, para melhorá-los a cada trabalho. Dificilmente alguém estará completamente preparado para o trabalho, falta-nos vigilância e oração constante, não a que nos sai pela boca, mas a que advém do coração. Falta-nos a fé inabalável.
Luz e Amor!
"Sedes bons e caridosos: eis a chave dos céus, que tendes nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta máxima: "Amai-vos uns aos outros". A alma não pode elevar-se às regiões espirituais senão pelo devotamento ao próximo, não encontra felicidade e consolação senão nos impulsos da caridade" (Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita, cap. XIII; 12. O Evangelho Segundo o Espiritismo").
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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.