sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Manifestações Físicas


Recife, 1979

Haviamos vindo de Juazeiro/BA. A casa parecia uma mansão, a princípio parecia-nos tudo "normal". Iriamos começar uma vida nova. Meus pais passavam por um conflito conjugal.

Logo fizemos amizade com a vizinhança, eramos todos adolescentes. Estudava em um escola alguns Kms próximo. Dava para ir andando, curtindo o novo bairro. Mas, aquela casa ... O quintal tinha uma espécie de lama, embranquiçada, não secava nunca e parecia que em algum momento iria nos engolir, uma espécie de "areia movediça". Pouco podiamos usar o quintal, a não ser uma estreita faixa que dava para a dispensa escura, onde seguia um corredor que dava na frente da casa. Não sabia por que aquela dispensa atraía-me.

Pareciamos felizes na nova morada, era muito linda a casa. O que não era lindo eram as portas do armário abrindo sozinha! Aquilo assustava a todos. Ocorria geralmente a noite. Ouviamos, a partir das 18hs, passos pela casa. Ao anoitecer, acabavamos ficando sempre na companhia um do outro, para não ficarmos sozinhos com aquela companhia invisível. Minha mão logo apresentou um quadro de desequílibrio emocional. A casa a irritava, aquele quintal que não secava, aquela lama borbulhante.

Estudava no turno vespertino, Colégio Estadual Alberto Torres, chegando em casa precisamente às 18 hs. Acompanhava-me uma tristeza enorme, uma inércia. Então, antes de adentrar a casa, sentava-me na varanda a chorar de tamanha angústia, porém, sem nada entender. Quem chamou-me a atenção foi o vizinho da frente, que ficava a me olhar. Indagou-me um dia: "porque você quando chega, fica horas na varanda chorando?" . Respondi: "Não sei. Estou bem, mas quando estou próxima de casa sinto uma tristeza!". Observou, também, porque eu não entrava pela porta da frente, sempre seguia o corredor que passava pela dispensa, e entrava pelos fundos. Disse-lhe que era para ninguém me ver chorando.

A noite, muitas vezes, o meu lençol subia, descobrindo-me os pés, assustada agarrava o lençol e cobria a cabeça, acreditava que assim não veria nada. Mas, continuava a sentir... Tinhamos no quarto um ventilador, que ficava sobre uma banqueta no quarto, próximo da porta. Certa dia, a noite já avançava, ao deitarmos e apagar as luzes, quase pegando no sono profundo, eis que a banqueta foi arremessada para o canto da parede, um estrondo ecoou por toda a casa. Logo, meus pais vieram correndo ver o ocorrido, pensando ser ladrão. O ventilador mantinha-se em pé como se estivesse com a banqueta, funcionando normalmente. A pergunta: "Quem entrou aqui?".

As crises de minha mãe aumentaram, e a minha depressão também. Quando menstruada, entrava em crise dita "TPM", mas também não entendia, ficava na dispensa escura, chorava, lembro-me bater a cabeça na parede de tanto sofrimento, sozinha em silêncio para que ninguém percebesse e não me chamassem de "louca". Uma outra vizinha, moradora da casa ao lado do corredor da dispensa, chamou-me a atenção, juntamente com o vizinho que me via chorar.  Foi, então, que diante do meu sofrimento relatado, contaram-me que ali, naquela dispensa, havia sido assassinado o dono da casa, por volta das 18 hs, quando chegava do trabalho. Na parede ainda havia a marca dos projéteis, detalhe que ainda não tinha me dado conta.

Pouco meses depois, deixamos a casa. Minha mão quase enlouquecida e, eu com a minha "crise de TPM" acelerada. Lembro-me do dia, já na nova morada, em Caruaru/PE, estavamos recente. Meus pais continuavam a brigar. Em uma de suas brigas, eu estava na cozinha, cortando carne para o almoço, quando de um momento para outro, comecei a chorar, com muita raiva, passei a furar a tábua de carne com a faca, descontrolada, com uma força maior do que eu, segui em direção de meu pai para lhe apunhalar. Gritava feito animal abatido, grito que se fez ouvir a metros de distância da casa, chamando a ateção de quem passava. Num esforço tamanho, meu pai, bem mais forte do que uma menina de quatorze anos, conseguiu, finalmente, "domar-me".

Não sei como, dormi horas seguidas depois de muito chorar sem compreender o que houverá acontecido. Apartir daí, todos tratavam-me como "problemática" e passaram à temer minhas crisese, eu, nesses  momentos, ao perceber sua aproximação, trancava-me no quarto ou, normalmente na dispensa no fundo da casa. Lá, em crise e sozinha, arranhava-me, mordia-me, puxava os cabelos, ou usava ferramentas, como martelo, deixando meu corpo roxeado. Às vezes penso, que era para me punir por ser uma "menina má". Meus pais nunca prestaram atenção no que ocorria comigo, apenas a minha irmã mais velha, e o meu irmãozinho caçula, demonstravam carinho e preocupação comigo.

Tornei-me adulta assim. Aos dezoito anos, lembro-me de irmos para Ilha de Itaparica, eu, meu noivo, minha irmã mais velha (também médium) e o seu noivo, acamparmos, num feriado. Escolhemos armar as barracas no alto das pedras, onde podiamos ver o mar de cima. O dia foi lindo, era verão. A noite estava estrelada e o vento soprava calmamente. Ouvia-se o barulho do mar batendo nas pedras. Então, sentamos todos próximos as barracas, a conversar. Acendemos um fogareiro, e, comecei a brincar de fazer o fogo dançar, gostava de vê-lo seguir minhas mãos, subindo e descendo, de um lado para o outro, enquando vinha em minha mente palavras que nem mesmo conheço, "mantras".

Todos pareciam enfeitiçados pelo movimento do fogo. Concentrados. Meu noivo foi o primeiro a se manifestar: "pare com isso, estou ficando com mêdo!". Comecei a rir e a movimentá-lo mais ainda. Num instante, sem que ninguém estivesse preparado, o tempo fechou. A noite ficou escura, raios cobriam o céu. Uma tempestade surgida, não se sabe de onde, pairava sobre as nossas barracas, querendo arrastá-las. O mar tornou-se revolto atingindo-nos no alto das pedras. Corremos todos para suas barracas na tentrativa de amarrá-las bem firme para o vento não as levar. Aos poucos, a tempestade cessou. 

Dormiamos, quando de repente, meu noivo pulou do colchão gritando alucinadamente, em desespero abriu a barraca e disparou noite a fora. O outro casal acordou com o grito, saindo para ver o que houve. Pusemos-nos a procurá-lo pela praia deserta, encontrando-o chorando, atordoado. Acusou-me de trazido os mortos. Contou-nos que viu um amigo que havia morrido naquela praia, afogado, há anos e que o corpo não fora encontrado. Tinha olhar de pavor pelo que viu e, raiva por minha "brincadeira". Confesso que nem eu mesma esperava tal manifestação. Foi realmente assustador, mas, como sentir-me culpada? Não tive a intenção e nem me considero "bruxa", ainda confessando que elas me atraem. Ao amanhecer, estava mais calmo, e o dia continuou lindo!

Somente tomei conhecimento sobre as manifestações físicas, a partir da leitura do "Livro dos Médiuns" de Allan Kardec, cap. XIV, item 160-161, que trata dos efeitos físicos, médiuns facultativos, o qual eu não me incluo, são os que têm consciência do seu poder de produzir fenômenos físicos e o fazem de forma voluntária. E, no meu caso, médiuns involuntários ou naturais, cuja a influência se exerce a seu mau grado. Não têm consciência do poder que possuem e, muitas vezes, não percebem o fenômeno como algo extraordinário. Manifestam-se em todas as idades e, frequentemente, em crianças ainda muito novas, como no meu caso, aos sete anos de idade.

Outro esclarecimento oportuno, também retirado do "Livro dos Médiuns" de Allan Kardec, cap V, Manifestações Espíritas Espontâneas, como: ruídos, barulhos, perturbações, arremessos de objetos, como ocorridos em Recife, por exemplo. As manifestações físicas, segundo Kardec, têm por finalidade chamar-nos a atenção e convencer-nos da presença de uma força superior a dos homens. Kardec, chama-nos a atenção: os Espíritos Superiores não se ocupam com essa ordem de manifestações; servem-se de espíritos inferiores para produzí-las. São espírito muito mais levianos do que maus, que se riem dos terrores que causam.

Porém, existem alguns casos de espíritos cuja a intenção é por-se em comunicação com certas pessoas, quer para darem um recado, ou pedir algo para si mesmo, como preces, outros ainda pedem para que se cumpram compromissos que não se pode cumprir, outros por interesse do próprio repouso, reparar um mal que praticou quando em vida. Kardec nos afirma que é um erro ter-se medo. Sua presença é inoportuna, mas não perigosa. Há os que desejam se ver livres deles e acabam ao contrário, mantendo-os próximos, pois eles se divertem com as pertubações que causam. É preciso ignorá-los, rir-se deles, assim acabam se cansando e, não atigindo seu objetivo, partem.

Outro ponto importante que Allan Kardec aborda neste capítulo, item 91, é que esses fenômenos ainda operados por espíritos inferiores, são frequentemente provocados por Espíritos de ordem elevada, com o objetivo de demonstrar aos mais incrédulos, a existência de seres incorpóreos e de uma potência superior ao homem. Os incrédulos preferem lançar os fenômenos espíritas á conta da imaginação, muito cômoda e que dispensa outras.

Allan Kardec coloca que "Desde que se nota um efeito qualquer, ele tem necessariamente uma causa. Se uma observação fria e calma nos demonstra que esse efeito independe de toda vontade humana e de toda causa material; se, demais nos dá evidentes sinais de inteligência e de vontade livre, o que constitui o traço mais característico, forçoso será atribuí-lo a uma inteligência oculta (...) Cada um deve estar em guarda, não somente contra narrativas que possam ser, quando menos, acoimadas de exagero, mas também contra as próprias impressões, cumprindo não atribuir origem oculta a tudo o que não compreenda".

Despertei hoje, 23-12-2011, não sei dizer o por quê, com uma vontade enorme de contar-lhes estes acontecimentos. São inspirações que vêm sempre, depois de noites que passo trabalhando em desdobramento. Saltei da cama para contá-las nas páginas do meu diário. Ocorreu-me agora, que ao despertar, coloquei um monte de àgua, da boca para fora. Ao acabar de digitar, e, fazer-me essa pergunta, senti a presença deles a me dizer que, hoje, estão bem. Talvez vocês julguem-me esquizofrênica, eu não admiraria. Parecem sulrealistas minhas histórias, eu também já preferi ignorá-las e aceitar-me como "louca", fantasiosa.

Hoje posso afirmar: Espíritos existem, nós somos provas de suas existências. Há um plano singular, uma nova existência, além do túmulo. Refletindo um pouco mais, parece-me mais claro o que disse-me o meu Mentor, quando comecei a frequentar o Centro Espírita: "a nossa missão é acolher os desencarnados e conduzí-los à sua nova morada". Eu seria o seu instrumento no plano terreno. O meu coração endurecido, para reconhecer a existência e a importância do trabalho espírita, dificultou a nossa jornada na Terra, mas, Ele, nunca desistiu de mim. Assim Seja!

Luz e Amor!




"Meus bens amados, eis chegados os tempos em que os erros explicados se transformarão em verdades.  Nós vos ensinaremos  o verdadeiro sentido das parábolas. Nós vos mostraremos a correlação poderosa, que liga o que foi ao que é. Eu vos digo, em verdade; a manifestação espírita se eleva no horizonte, e eis aqui o seu enviado, que vai resplandescer como o sol sobre o cume dos montes" (Bem-Aventurado os puros de coração, cap. VIII; 18. O Evangelho Segundo o Espiritismo).

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.