domingo, 4 de novembro de 2012

Coragem a partir do Sofrimento





Em 29-10-2012, às 17hs.

Deus não permite um sofrimento que não se possa suportar. Acredito verdadeiramente nisso e, por isso, não desisto de mim, apesar da vida parecer, muitas vezes, pesada sobre os meus ombros. Sei que não é mais pesada do que a cruz que Jesus carregou - a Humanidade. E, no mais, Deus é tão bom e misericordioso que me deu um anjo poderoso para guiar-me. Um amigo benevolente que me inspira a seguir em frente e leva-me, muitas vezes, em sua asas para que eu possa repousar e recomeçar com bom ânimo: "O meu reino não e deste mundo. Tende bom ânimo! Eu venci o mundo." (Jesus). 

Se entre tantos o Senhor escolheu-me para esse pesar, é porque confia que sou capaz de vencer essa provação. Sabendo que a qualquer momento pensaria em desistir, providenciou  um anjo poderoso que vela por mim. Quando cansada de tudo, abre-me suas asas e leva-me até os braços do Senhor. Do alto, vejo tantos sofrimentos ainda bem maiores do que o meu, então, bendigo a misericórdia divina.

Muitas vezes, ouvi pessoas dizerem-me: "Por que você não desiste? Isso é vaidade e Deus castiga". "E se você morrer com essas cirurgias?". Respondo à mim mesma: "Estarei feliz porque nunca desisti. Morrerei feliz por ter acreditado até o fim". Penso que sofre muito mais quem desiste sem antes ter tentado. Se soubessemos do resultado, onde estaria a fè? De que me serveria seguir apenas lastimando a minha sorte se nada fizesse para mudá-la? 

Castigo! Não existe castigo. Existe educação, aprendizado e sofrimento. Essas são as duas vias para o crescimento espiritual: educação e sofrimento. Acredito em consequências de nossas escolhas. Se soubermos discernir entre o bem e o mal, estaremos num bom caminho; se imprudentes, colheremos os frutos da nossa imprudência. A medida certa para tudo é sempre o bom senso. A evolução das ciências só é possível porque Deus deseja que a humanidade evolua. Se a ciência evoluiu, se existe a oportunidade para melhorar, por que não tentar? Se Deus não quisesse o melhor para mim, não me daria nem mesmo a oportunidade de eu existir. Se Deus confia em mim, que nada sou, por que eu não confiaria em Deus, que é o Senhor de todas as coisas?

Um dia, entrando no centro cirúrgico, o médico comentou comigo: "Você é a única paciente que vem para o centro cirúrgico sorrindo". Respondi-lhe: "É porque confio no Senhor! No Senhor Jesus, médico de todos os médicos e quem verdadeiramente opera, e, no senhor doutor, instrumento de Deus. Que nada pode sem a permissão Divina.". Eu sempre rogo ao Senhor: "Meu Deus, ainda diante das maiores dores permita que eu nunca deixe de sorrir, e, que ao sorrir eu possa mostrar um pouco do vosso amor". Então, entre lágrimas, sigo sorrindo. Ainda, uma equipe espiritual acompanha-me em todos os momentos, em nome de Deus.

Dr. Tibúrcio é um médico do plano espiritual que me ajudou a pensar a vida. Pude vê-lo, ouvi-lo e sentir o toque suave de suas mãos, seu carinho, na cirurgia espiritual realizada no Centro Espírita. Levei um ano procurando ele entre os médiuns por não saber tratar-se de um Espírito corporificado. Jamais o encontrei entre os encarnados. Era de fato um Espírito. Acompanhou-me durante todos os atendimentos. Nunca vi alguém tão doce, iluminado, lindo, e de expressão tão suave. Transmitia uma paz intensa que parecia transbordar da própria essência Divina. Que emoção ao lhe descobrir Espírito! E como desejo vê-lo novamente!

"Não lastime, agradeça ao Senhor por poder recomeçar. Quem nessa vida teve oportunidade de recomeçar tantas vezes? Poucas. Então, comece mudando o seu pensamento, agradeça!", disse-me ele. Foram treze cirurgias no rosto, passaria por mais uma. Reconstrói, destrói ....Começa, recomeça... Então, chorava as perdas. Não fora somente o rosto amputado, foram os meus sonhos todas as vezes ceifados juntos. Aprendi que sonhos a gente reconstrói. Tentei reconstruir tantas vezes, e, mais uma vez volto para o zero e recomeço tudo novamente. Nesse dia chorava, "não quero mais sonhar, não quero colecionar frustrações e mais frustrações!". Senti medo de voltar a acreditar e, literalmente, "quebrar a cara",  por isso passei a desistir sem nem mesmo tentar. Perdi a alto auto-estima. Perdi a coragem que impulsiona para a vida. Pensei: "Minha genitora estava certa em querer interromper a minha vida em seu ventre, por que insisti em nascer? Que vida é está em que os meus sonhos não vingam?".

Quando perdemos a fé, estagnamos. Ficamos parados à beira do caminho, vendo a vida passar. A vida não pára, ela é dinâmica. A vida é um processo contínuo. Por isso não há morte para o Espírito. Há dois únicos momentos em que nada podemos fazer na vida, no ontem e no amanhã. A vida não espera por nós, lá adiante. E o passado não volta jamais para que façamos o que deixamos de fazer, lá atrás. Então, por que não arriscar agora? Viver é correr riscos. Os riscos são inerentes à vida, são ocasiões em que medimos a nossa força e coragem, fortalecemos a nossa convicção e a nossa fé.

Arriscar não de forma imprudente, desmedida, irracional. A coragem como fruto da fé não pode ser cega. A fé cega é fanatismo, a coragem desmedida é loucura. O medo é um freio para a insanidade. Sem atritos não há freios. Um automovél, por exemplo, desacelera quando encontra atritos. Sem atritos o carro desliza, "derrapa". A prudência é o atrito que desacelera nossos impulsos na vida: prudência X impulsos. Sem prudência a nossa vida "derrapa". O impulso não é um ato racional, voluntário, é um "deslize". Estamos em atrito conosco mesmos, todas as vezes que, desconhecendo a vontade do Pai, desejamos impor as nossas vontades próprias, esquecendo que: "Deus impõe condições, não se submete a elas." (ESE, cap. VII; 09). Deus tem um propósito para cada um de seus filhos, não conhecer Seus desígnios induz a nossa coragem. Se conhecessemos a vontade Divina onde estaria o mérito da fé? Deus é o nosso freio, é a nossa prudência, é a nossa consciência desperta. Quando perdemos o contato com Deus, deslizamos pela vida sem saber onde vamos parar.

O sofrimento é resultado da nossa pouca fé na misericórdia Divína. A dor é involuntária, mas, o sofrimento é do tamanho da nossa fé, é uma escolha nossa. Como ensina o Evangelho, o sofrimento não está na coisa em si, mas, nas consequências do que fazemos destas coisas. O sofrimento não está na miséria, mas no que se faz da miséria; não está no berço onde antes havia vida e agora encontra-se vázio, mas do que se faz desta perda, de como trabalha-se essa perda. O sofrimento não está nas relações afetivas interrompidas, mas, nas frustrações das expectativas que se construiu a partir delas. É o nosso orgulho que não nos permite lidar racionalmente com essas frustrações. O sofrimento está em não se saber lidar com as situações que fogem a nossa vontade. Por isso devemos tratar antes as causas das coisas e não os efeitos que estas produzem. Se percebo as causas, aceito-as como causas e busco repará-las, consigo transformar esse sofrimento em aprendizado e, consequentemente, fortaleço-me. "Paz é conquista interior"(Joanna de Ângelis).

O meu sofrimento não estava na perda da mandíbula, com ou sem, sofreria do mesmo modo, pois, já me encontrava amputada na fé. A perda da mandíbula não foi causa, e sim, efeito. Talvez, por já ter sido abortada em outra existência e ter sofrido a tentativa de mais um aborto nesta. Talvez, por sentir que minha genitora tenta abortar-me, sem perceber, de sua vida, todas às vezes que juntas estamos. Então, por guardar mágoas profundas, sem deixá-las transparecer, sentir raiva pelo desafeto materno, resultou em um sofrimento interno avassalador.. Eu perdi a mandibula como resultado desse meu sofrimento. A "raiva" presa entre os meus dentes, fez crescer um tumor que arrebatou da minha face a mandibula. Os sentimentos não exteriorizados buscam um canal para eclodir, daí nascem as doenças físicas. As doenças físicas são antes no corpo etéreo.

Até conhecer a doutrina espírita foi dificil conceber esse raciocínio, aceitar. Agora que entendo que mãe e pai também são nossos irmãos e que podem até ser nossos mais odiosos inimigos espirituais, que a nossa família verdadeira são todos os membros de um único Universo. Compreender que a raiva é natural ao ser humano, assim como o amor, e que não é "pecado" sentir raiva dos pais quando nos ferem a alma. Mas, contudo é preciso saber perdoar, especialmente a si mesmo por  sentir esta raiva, já que somos humanos e imperfeitos. Pudesse antes ter compreendido todo esses ensinamentos da Doutrina Espírita, não estaria, hoje, tratando das sequelas deixadas pelas mágoas no meu corpo físico.

Coragem, para viver é preciso coragem. Coragem para dizer que tenho direito de estar aqui, que a vida é um presente de Deus, que ninguém tem o direito de abortar. Coragem para recomeçar, n-ésimas vezes, até quando Deus tiver propósitos sobre a minha vida, ainda que eu os desconheça. Eu só precisava mudar os meus pensamentos e abrir o meu coração e a mente para os Ensinamentos do Evangelho, como prescreveu-me Dr Tibúrcio. A coragem estava dentro de mim, todo o tempo, como o amor está dentro de todos nós, a todo tempo, pois, Deus nos criou trazendo o amor  inerente à alma. Portanto, cabe-nos a cada um procurar os caminhos para desenvolvê-los: o amor e a coragem.

Eu não entrei para o Espiritismo, ele está em mim, na minha forma de pensar e agir. Eu penso a vida como um processo reencarnatório. Eu creio em um Deus soberanamente bom e justo, acredito na comunicação com os Espíritos, acredito-me Espírito e busco nos Ensinamentos Evangélicos o meu desenvolvimento moral cristã. Acredito na relação de causa e efeito como respostas para o sofrimento humano. Não foi o Espiritismo que me fez acreditar nessas coisas, foram essas coisas que habitavam dentro de mim, fizeram-me Espírita, e, hoje, com a fé mais elevada, tenho a coragem necessária para aceitar-me Espírita. Que Assim Seja!

Luz e Amor!     


         
  "Aos médiuns que obtém boas comunicações são ainda mais repreensíveis por persistirem no mal, pois escrevem frequentemente a sua própria condenação e se não estivessem cegos pelo orgulho, reconheceriam que os Espíritos    se dirigem a eles mesmos...

... Aos espíritas, portanto, muito será pedido, porque muito receberam, mas também aos que souberam aproveitar os ensinamentos, muito  lhes será dado. O primeiro pensamento de todo espírita síncero deve ser o de procurar, nos conselhos dados pelos Espíritos, alguma coisa que lhe diga respeito..." 

(Muitos os Chamados e Pouco os Escolhidos, cap. XVIII; 12. O Evangelho Segundo o Espiritismo).
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.