quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Rejubilar


 Em 23-08-2012, às 10hs.

O céu parecia em festa. Passei o dia com essa sensação vibrando dentro de mim. Estava tão leve, cantando louvores a Maria de Nazaré, sentimento enaltecedor de missão cumprida. Mas como posso estar irradiando alegrias, quando um irmão acabara de desencarnar? Sim, um irmão se libertou do cárcere terrestre e agora repousa no seio de Deus.

À sua volta, uma equipe de Espíritos auxiliares emanavam fluídos de paz e amor fraterno. Preces ecoavam em uníssono. Os amigos espirituais fizeram-se presentes, para o acolher nesse momento transitório. Segundo os ensinamentos kardequiano, "no momento da morte o perispírito se liberta mais ou memos lentamente do corpo. Nos primeiros instantes, o Espírito não entende sua situação: não se crê morto porque se sente vivo; vê o seu corpo de um lado, sabe que é seu, mas não entende porque está separado dele. Este estado perdura enquanto existe alguma ligação entre o corpo e o perispírito" (L.E., questão 257). 

Não era espírita, pois que, não acreditava na comunicação com o mundo invisível. A sua descrença era oriunda dos conceitos adquiridos em suas multiplas jornadas terrena. Era muito mais uma resistência em quebrar paradigmas do que, propriamente, falta de fé. Se assim não fosse, teria dificultado o seu desligamento do invólucro corpóreo, o que não aconteceu, favorecendo o desenlace. Seguiu sereno, confiante na nova vida que o aguardava.

"A morte, para os homens, é apenas a separação momentânea, no plano material" (ESE). Nós, encarnados, muito mais por egoísmo do que amor, desejamos, firmemente, manter os nossos entes queridos, por maior tempo, presos em seus corpos físicos. Enquanto que, os Epíritos, cientes de sua condição de espírito livre, anseiam por libertar-se do corpo físico. Encarnado, o espírito perde a lembrança da sua real condição de espírito liberto, mas, ao deixar o invólucro corpóreo é igual a um passarinho livre da gaiola, voa de encontro a natureza. O Espírito é, em seu estado natural, livre.

"As preces pelos Espíritos que acabam de deixar a terra tem por fim, não apenas proporcionar-lhes uma prova de simpatia, mas também ajudá-los a se libertarem das ligações terrenas, abreviando a perturbação que segue sempre à separação do corpo, e tornando mais calmo o seu despertar" (ESE). Contudo, nossa prece é muito mais dirigida em proveito próprio, do que desprendimento da alma. Nossa prece é imbuida de egoísmo e orgulho, revestida de ingratidão, pois, quando não atendida, ao invés de louvarmos em agradecimento ao Pai celestial, maldizemos a nossa sorte. Somos egoístas e ingratos o suficiente para não compreendermos a misericórdia Divina. 

Deus é soberanamente bom e justo, mas, acima de tudo, misericordioso. Não permite um sofrimento que não seja para um bem maior. Nesse momento de duras provas, a prece é a aliada mais importante. A prece é o bálsamo que refrigera a alma e cura as feridas. Momento em que a alma se eleva, abrindo caminho para que os Bem Feitores Espirituais possam atuar em auxílio, com a permissão do Pai.

Quando recebi a mensagem, pedindo a uma amiga que se guardasse das preocupações do dia a dia, pois, sua família viria precisar do seu auxílio, não atendi a solicitação. Pensei: "Nossa! Quem sou eu para prevenir sobre a morte de alguém?". Desejei mudar os pensamentos e vibrar pelo restabelecimento do amigo, mas, só conseguia pedir: "Senhor, seja feita a Tua vontade". A perceção era a de que ele desencarnaria em breve. Lutei e relutei contra a idéia, no sentido de dar apoio a família. Nos primeiros dias que se seguiram após a cirurgia, o amigo reagiu bem, o que me fez acreditar ter feito bem em ocultar a mensagem recebida: "Viu! Se tivesse dado o recado iria enchê-la de angústia desnecessária". 

Passaram-se oito dias: "Amiga, ele retornou para o centro cirúrgico, está em coma induzido, o que você pressente?". Não lhe neguei: "o mesmo que você também pressente".  Ela concordou, mas, relutante, disse-me que continuaria a rezar para que Deus lhe desse mais uma chance. Então, respondi-lhe: "Sabemos que a vida não acaba aqui, no outro plano também temos a chance de evoluir. Que seja feita a vontade do Pai."  Todos temos dia para nascer e dia para retornar ao Pai, pois, a vida pertence ao Pai. Ficamos no órbe terrestre até cumprirmos as nossas penas. Seria justo ao Senhor, revogar a nossa sentença após tê-la cumprido? O meu coração silenciou.

Coloquei-me em comunhão com os Bons Amigos, do plano espiritual. Olhei para o horizonte e evoquei a oração que o Senhor nos ensinou: "Pai Nosso ...  livra-nos Senhor de todo mal que ainda trazemos em nossa alma, livra-nos do egoísmo e da ingratidão que não nos permite conhecer a Tua misericórdia, porque o Teu Reino é o poder e a glória para sempre. Amém!"

Nesse interim, veio-me a oração da Ave-Maria. Não me encontrava mais em mim, o corpo diminuia e a voz tornara-se rouca, fraquinha e baixa, quase um murmúrio. Pude perceber uma freira de hábito branco: "Receba, pois, Maria de Nazaré, mãe santissíma, que acolhe a todos que deixam este vale de lágrimas, esse irmão, em sua nova morada. Seja sempre feita a vontade do Pai que está no Céu. Perdoa o egoísmo daqueles que ainda não compreendem os Ensinamentos do Vosso filho, Jesus. Interceda, pois, junto ao Vosso filho, Maria de Nazaré, por esse irmão, para que seja acolhido em Teu Reino Celestial. Dai força e consolo para os que ficaram, pois, a vida não se encerra aqui. Agradecemos ao Universo por, em sua harmonia esplendorosa, ter permitido a esse irmão, cumprir a vontade do Pai, em sua existência terrena. Amém!". Agora, já liberto do envólucro corpóreo, assistia a tudo e recebia uma nova energia. Seguiu em paz com os irmãos, sob um manto de luz.

Voltei. "Amigo, ele desencarnou!". "Sim", respondeu-me. "Enquanto, aqui na terra, choramos e lamentamos sua partida, o céu rejubila-se por recebê-lo, afinal, cumpriu as suas provas e agora recebe o repouso merecido. Continuará a zelar pelos seus familiares, mas, agora, em outro nível, em nome do Senhor. Que Assim Seja!"

Luz e Amor!



 "... A fé robusta confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas. A fé vacilante produz a incerteza, a hesitação, de que se aproveitam os adversários que devemos combater; ela nem se quer procura os meios de vencer, porque não crê na possibilidade de vitória". (A Fé que Transporta Montanhas, cap. XIX; 2. O Evangelho Segundo o Espiritismo)








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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.