"Pobre raça humana, cujos caminhos foram todos corrompidos pelo egoísmo, reanimai-vos, apesar disso!". (Bem-Aventurados os Pobres de Espírito, cap. VII; 12. O Evangelho Segundo o Espiritismo)
Em 16-05-2012, às 06h e 30min.
Hoje, antes do despertar, encontrava-me ao lado dos pretos-velhos, irmãos de luz. Reunidos, diziam-me: "providenciamos seu alimento para que possa trabalhar". Então, acordei. Antes de dormir havia orado em agradecimento pelo bem recebido, naquele dia, pelos irmãos caridosos: encarnados e desencarnados, que se compadeceram da minha atual situação. O meu orgulho antes, não me permitiu compreender que naquele gesto estava a caridade pura, livre de qualquer outra intenção. Naquele instante não alimentava apenas o meu corpo físico, mas, principalmente, a minha alma. Alimentava-a de esperança, por alguns dias deixada esquecida em algum canto do passado, em função do meu orgulho e vaidade.
O orgulho e a vaidade, quando não mata o corpo, envergonha a alma. Não percebi que estava deixando a porta aberta para os inimigos que nos espreitam 24hs do dia. "Os obsessores não oram, mas, vigiam-nos todo o tempo", na tentativa de mostrar-nos que não melhoramos o suficiente, que não lhe somos "superiores". Somos ainda seus devedores. Eu pude perceber o meu "verdugo" quando adentrou a minha casa e povoou a minha mente. Abri-lhe a porta por desobediência aos Ensinamentos do Senhor: "Vigiai e Orai".
Encontrava-me no ponto de ônibus, dia 25-04-2012, às 09hs, na saída da Faculdade, aguardando o transporte que demorava a chegar. Neste instante, sentou-se ao meu lado um indigente entregue à sua demência. O meu coração disparou e uma voz logo intercedeu, dizendo-me: "levanta-se e afasta-se". Não obedeci. Retruquei: "O Espiritismo não ensina que devemos ajudá-los e não repelir um irmão necessitado?". "Que mal poderá me fazer permanecer ao lado desse desvalido?". Ainda assim, diante da minha inquietação, uma força maior impulsionou-me para longe dele. Então, senti uma "pontada" na cabeça, uma angústia dentro de mim. O estômago doeu numa fome de dias... Sim, eu estava com fome, mas, naquele momento ela se intensificou subtamente.
O mendigo abriu seu saco imundo e retirou dele um pedaço de pão, começou a comer, fitando-me os olhos. Eu também o olhava incrédula da miséria humana. Logo o meu ônibus chegou, já não estava mais em mim. "Espírita covarde!". "Cadê a caridade?". "Retirou-se, nada fez!". Não me dei conta do meu orgulho ali representado. Eu trabalho em causa Espírita, faço oração pedindo fé e resignação para suportar as penas. Sentia-me fortalecida e protegida. Parecia conformada com a situação que ora se apresentava em minha vida, conformada e até certo ponto agradecida à Deus, pelos "sofrimentos". Como dizem no meio: "Espírita gosta de sofrer".
Quando a dor se apresentava maior, novamente orava, conformava-me, mas, pedir ajudar, expor minha vida para os amigos, mostrar-lhes minhas necessidades e fraquezas não. Dar-lhes a oportunidade de estender-me as mãos, para quê? Todos têm seus próprios problemas e "cada um vive do que tem, passa como pode". Minha mãe ensinou-me assim, e, a vida fez-me apreender assim. Eu superaria sozinha os percalços da vida. Eu me bastaria. Não percebi que esses sentimentos eram frutos mais do orgulho, da vaidade e da presunção, do que da fé inabalável em Deus, que tudo provê.
Então, o indigente, a fome, o pavor despertado em minha alma, a ameaça de ver-me naquele lugar, naquele instante, enlouqueceu-me. Em casa, abri a porta em prantos, deixei a alma falar. Chorava compulsivamente: "que ódio!, que fome!". "Como ficar calma quando se está com fome!". "E vocês querem que eu seja melhor, mas como?". "Dignidade não mata fome!". "Eu tenho fome, eu sou humana!". Repetia, embravecida, essa frase, que não sei de onde a fonte. Lembro-me que um dia, sentindo-me em estado de subjugação por uma paixão, joguei-me, literalmente, aos pés do Senhor, rogando-lhe que me tirasse tudo, mas que me livrasse daquele limo que é a subjugação. Humilhada, ferida na dignidade, suplicava-Lhe: "Não há dor maior que a dor moral!".
Mas, aquela voz e a fome estavam cem vezes mais intensificadas do que a minha fé pudesse suportar. Olhei-me no espelho, já não me via. Estava lá uma alma desnuda mostrando o seu orgulho ferido, a sua vaidade na lama. "E vocês querem que eu tenha fé?". "Sinto-me covarde por ter sido arrebatada para longe daquele mendigo". Eu não conseguia entender que a Espiritualidade queria livrar-me, naquele momento, daquela sintonia que despertaria, como despertou em mim, a fúria de uma existência passada adormecida no meu inconsciente. Batia no peito, no braço, mostrando que eu era humana, que ainda não era Espírito evoluído para suportar tamanha dor, tamanha miséria. Repelia o meu anjo guardião: "saía de perto de mim!", "eu não quero mais lhe ouvir, não quero ouvir mais nada!". Chorava e gritava enlouquecida, num súbito descontrole: "como ter fé com fome, heim?".
Os amigos espirituais buscavam emanar luz de amor para que me alcamasse. Eu gritava: "Saíam! Eu sou humana, eu sinto fome, eu sinto dor!". Quase quebrei o espelho tamanho desespero frente àquela realidade ali apresentada. Depois de uma hora nesse processo, dentro de casa, sozinha, parei diante do espelho, cansada, olhei fundo nos meus olhos e repeli aquela energia animalizada que se manifestara em mim. "Pensa que não estou lhe vendo?". "Você não vai me destruir". "Não vou me atirar no lodo novamente, você não vai me subjugar!". "Eu não vou permitir, prefiro a fome à dor moral!". Enxuguei as lágrimas num gesto tempestuoso, fixei meus olhos no meu próprio olhar e saí do espelho ofegante.
Na madrugada de 26-04-2012, levantei-me para beber água na cozinha. Eram 02hs quando ele apareceu na porta da entrada, quase soltei o copo, ainda encontrava-me em estado de vigília. Lembro-me nitidamente de sua aparência hostil. Voltei para a cama, foi quando começou a sessão tortura que se estendeu até dias atrás. Segurou-me na cama, sem me deixar mover, revelou-se: "sou o seu verdugo" Senti o seu peso em minhas costas. Tentei acordar. Via-me a agarrar na parede, na porta, mas não encontrava força para levantar da cama. Num grito despertei. A minha desobediência e invigilância levou-me a reencontrar com o meu amigo obsessor. Orei, peguei novamente no sono. Então, na semana seguinte, seguiram-se as demais manifestações que relatei, a cada intervalo, no meu diário espírita.
O Senhor teu Deus
01h e 45mint. do dia 06-05-2012, a mesma voz tenebrosa sussurrou no meu ouvido:
"venha comigo". Virando-me de encontro à voz, respondi-lhe prontamente:
"mamãe!". Então, acordei chorando. "
Estou com medo", relatei no meu diário, "
nunca mais havia sentido tanto medo.
O meu coração acelerou. Queria um colo, alguém que me abraçasse e fizesse-me sentir que está tudo bem. Chamei pelos bons Espíritos em nome de Jesus". Lembrei de imediato do ocorrido na semana anterior quando levantei-me para beber àgua. Era ele. Daí, então, pude perceber o que ouvera acontecido comigo, dia antes, na Casa do Caminho.
Havia ido, dia 05-05-2012, ajudar na contagem de notas fiscais, ficamos em um dos módulos de atendimento, mas, logo precisamos deixar a sala, pois, precisariam para o trabalho de aconselhamento. Quando abriram a porta e vi a luz azul vinda do corredor, um pavor tomou conta de mim. Agarrava-me a mesa, queria ficar ali na sala, escondida, não queria passar pelo corredor. A sensação era de muito pavor, muito medo:
"eu não quero ver, estou com medo!". Os amigos da Casa vieram ao meu socorro, mas, nada fazia com que passasse por aquela porta, aquele corredor, onde espíritos encarnados e desencarnados, esperavam pelo pronto atendimento. Então levaram-me para a sala de reequíbrio com urgência. O que viamos? Eram espíritos sofredores, de toda a sorte e, outros a auxiliá-los, conduzindo-os as salas de acolhimento. Era apavorante, naquele instante, vê-los como se, em carne e osso, mas, despojados da carne e do osso, acompanhando seus compatriotas.
Assim que retornei para casa, após o trabalho, intuiram-me fazer o Evangelho no Lar, pois que, não havia feito no dia consagrado para tal trabalho. Fiz a oração do perdão meio aos prantos, tamanha comoção. Mas não consegui concluí-la. Então, pedi auxílio a Espiritualidade para que me desse força para terminar a prece. Percebi uma forte luz vinda do Alto em sentido da mesa, ergui meu corpo lançado sobre a mesa, respirei profundamente. Tentei terminar a prece do perdão e não consegui. Não mais enxergava as letras. Abri, então, o Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X; 07 - "O sacrifício mais agradável à Deus".
No instante em que relatava em meu diário, ele, o meu "verdugo", encontrava-se próximo. Relatei:
"sinto que continua na minha frente a olhar-me". "Agora já não sinto mais o mesmo medo que senti quando ouvi a sua voz".
Surgiu em minha mente a lembrança de minha mãe. Eu o chamei "mamãe". Continuei o meu relato:
"Sei que será uma semana difícil para ambas" (Dia das mães).
"Vejo a sua expressão de ódio e suas lágrimas de amor, um amor que, igualmente à mim, não pode viver". "Não entendo do que me acusa, nem lembro o que lhe fiz, muito menos o que faça para que me perdoe". "Será que fui a mãe que arrebatou-lhe a vida?". Será que fui a irmã gêmea, em outra existência, que ela diz não poder ter salvo?". "Será que fui a irmã gêmea que sobreviveu, deixando-a partir?". São perguntas sem respostas, apenas sei, através de transe mediúnico, que em uma outra vida fomos irmãs gêmeas afogadas pela nossa mãe.
"Será que ela foi a mãe que não desejou que eu nascesse, afogando-me em seu ventre?". Assim sendo, ela repetiria o mesmo ato nesta existência, tentou me abortar, descobri em uma regressão, pude retornar ao útero materno e voltar com a sensação de ter sido afogada, gritei:
"ela me afogou!", e, nunca conseguiu, em suas próprias palavras, "suportar a minha existência".
A tentativa do aborto foi confirmada hum ano depois da regressão, através do relato de meu genitor. Pude, enfim, compreendê-la e perdoar. Agora, sinto que estamos, finalmente, ficando próximas.
Recebi, no momento em que dissertava, a seguinte mensagem:
"Agora não há mais o que temer. Ore e entregue-se ao Senhor de infinita bondade, que aos seus filhos, muito amados, não abandona. Não temas, pois que, o Senhor, fez-se presente em seu caminho e a luz que está neste instante a lhe guiar é a luz que deve seguir. Não olhes para trás. Não temas porque o Senhor está consigo e nós, amigos benevolentes, estamos a acompanhar em sua caminhada, que é de luz e de amor. A essência está em você. Sinta-a, respire-a e seja com Deus. Assim Seja!". Um Espírito Amigo, em nome do Senhor.
Deixo-lhe a oração de São Franscisco:
"... Amar que ser amado, ...
É dando que se recebe ...
É morrendo que se vive
para a vida eterna".
A criança
Ainda madrugada de
06-05-2012
, às
03hs. O Espírito Adolfo interveio e trouxe a criança de dentro de mim. Olhando-me através dos meus próprios olhos, indagou-me firmemente: "
Sabe quem sou eu?". Desesperada agarrei-me a ele:
"Sim, eu sei!". Então ele me fez criança: "Você lembra do seu encontro com Deus?". Respondi a sorrir:
"Lembro!".
"Então, responda-me, onde está Deus?".
"Deus está em toda grandeza que há.
Deus está nos animais, está nas plantas...
Deus está onde o amor e o bem está.
Deus está em tudo o que há.
Deus está na caridade,
Deus está no afago...
Deus está dentro de mim.
Deus é a essência de tudo o que há.
E, assim sendo,
Deus está em mim".
"Estarei com você!", disse-me o Espírito Adolfo, abraçando-me fraternalmente.
A prostituta
Às 05hs e 16mint, do dia 06-05-2012
. Estou
cansada! Fui do céu ao inferno encontrá-lo, encontrar-me. Foram cenas horríveis. Neste primeiro instante, ele era o filho que negligenciei.
"Você não me colocou na escola mamãe". Disse-me chorando. Segurei na sua mãozinha e perguntei-lhe:
"Que escola?". "Não me lembro!".
Respondeu-me exclamando:
"Mamãe, estamos em 1808! Você disse que ia me colocar na escola!". Perguntei:
"Que escola? Monsenhor...?".
"Deixe mamãe que eu escrevo, eu já sei escrever, Montessoriana!". Era tão pequenino, os cabelinhos bem cortados, vestido com um conjuntinho azul marinho, de calça curta e, calçado com sapatinhos pretos e meias, parecia um "homenzinho". Apesar de vestida de acordo com a época, de forma recatada, a minha mente era recente. Estivera com ele, apenas, para mostrar-lhe o meu arrependimento e que, hoje, sou uma mãe extremamente zelosa. Constatei, então, o filho que negligenciei, em 1808, é, hoje, meu irmão.
Depois era o meu senhor. Homem rude, velho e gordo. Eu, sua escrava sexual, jovem e loira. Sabendo da minha paixão por outra pessoa, ameaçou-me a execração pública. Falei-lhe em nome de Deus e saí. Furioso, quebrou minhas coisas de cima da mesa. Puxou-me pelos cabelos, atirando-me no chão, esbofeteou a minha face, dizendo: "
não diga o que você não sabe,
prostitutazinha barata!". Então, gritei:
"Não!" e, acordei com as sombras. Ele não admite que eu seja de mais ninguém. No momento em que ralatava no diário, sentia a sua presença dizendo que eu não sei de nada... Abri o Evangelho naquele momento, "Missão dos Profetas". Não consegui ler, a luz incomodava ainda os meus olhos.
"Não vejo".
Travando luta contra as trevas
Agora já passava das 06 horas do dia 06-05-2012. Via-o instalando um "chip" na minha mente. Era um lugar sombrio. Eu relutava, mas perdia as forças. Então, via-me atirando da sacada da Casa do Caminho. Um amigo e trabalhador do Centro, vinha em minha direção na tentativa de evitar o fim trágico. Depois, carregava-me nos braços e entregava-me a Siguratã. Então, voltei!
No dia anterior, momentos antes de ser encaminhada ao reequilíbrio, encontrava-me no andar superior do Centro, senti um forte desejo de atirar-me do alto. Naquele instante, o amigo que estava a me conduzir, aproximou-se e, retirou-me dali.
Ele, o meu "verdugo", está muito furioso com a Casa, ameaça levar-me se não deixá-lo comigo. Não aceita a separação. Acompanha-me a longos anos das minhas existências. Conhece-me como ninguém. Não quer que eu seja feliz com mais ninguém. Desafia à todos que se aproximam de mim. Deseja que eu desista de tudo, que não acredite em nada da Casa, nem em mim mesma. Imputá-me o medo em tudo o que vejo e faço. Mostra-me como tudo é horrível, que preciso sair de lá e seguir com ele. Eu resisto, coloco-me em oração, mas, ele hipnotizá-me. Ele não está sozinho, comanda um "exército", mas que não é maior do que o de Deus. Diz-me que não sou boa o suficiente para atrair os Bons Espíritos. Não sou boa para ninguém me amar:
"Ninguém ama você...". "Você está só", repete-me sempre.
Disse-lhe que supliquei ao Altissímo que me tirasse tudo, mas, que, restituisse em mim a dignidade. Não há dor maior que a dor moral, aquela que brota da alma. Eu não vou voltar para a lama do esquecimento. Eu não vou ficar sob o seu jugo. Eu passo fome, se assim determinar o Pai que está no céu, mas não me entrego a subjugação, a qual quer me lançar para se fazer o meu
senhor. Senhor só Deus! Que Assim Seja!
Luz e Amor!
"Um homem agoniza, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que o seu estado é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de agonias areviando-lhe o fim?
São Luis, Paris, 1860
"Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até a beira da sepultura, para em seguida retirá-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e modificar-lhe os pensamentos? (...) O materialista, que só vê o corpo, não levando em conta a existência da alma, não pode compreender essas coisas. Mas o espírita, que sabe o que se passa além-túmulo, conhece o valor do último pensamento. Aliviai os últimos sofrimentos o mais que puderdes, mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja em apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro" (Bem-Aventurados os Aflitos, cap. V; 28. O Evangelho Segundo o Espiritismo).