Hoje, pela primeira vez, toquei a mão de um "pedinte" e, olhei-o nos olhos com profundidade. Pude ver em seu semblante um sorriso contido, quase tímido, e os seus olhos brilharam enquanto o meu coração se aqueceu. Suas mãos transmitem o mesmo calor que as minhas, não são diferentes por expressarem a sua miséria. Entendi na prática, ou melhor a prática da verdadeira caridade, senti o quanto bem faz a alma: abranda o coração não só de quem a recebe mas de quem a oferece. Naquele instante, pareciamos ter trocado de lugar, era eu a receber a sua caridade. Ele parecia sentir-se "alguém" no seu infortúnio e eu, sentia-me igual a ele na mesma medida, nem maior, nem menor, iguais. Trago a certeza de que lhe fiz sentir muito melhor e, tornei-me um pouco melhor, naquele momento.
Fico perguntando-me porque recolhemos as mãos, não as estendendo para alguém que "mendiga" mais do que uma migalha de pão ou uns míseros trocados, "mendiga" atenção. Será para não sujá-las? Porque é assim que os vemos: sujos, doentes, prontos a nos contaminar com a sua extrema pobreza. Não percebemos que assim, tornamo-nos mais pobres que qualquer um deles, pobres de espíritos. Compreendi a grandeza da caridade, aquela ensinada por nosso Mestre Jesus: "faça ao teu próximo o que desajaria que fizessem por ti" e, "o que fizeres ao mais pequenino do teus irmãos é a mim que o fazeis". A Humanidade tem muito do que se envergonhar, e por sabermos vergonhoso é que viramos a "cara" para não ver e, atiramos-lhe uma moedinha que não nos fará falta alguma, sem com isso, estender-lhe as mãos, mãos que, com certeza, continuarão "limpas" de caridade.
A caridade eleva o espírito e o faz volutar, de tão livre que a alma desprendida do que é material, sente-se. Aquele sorriso, num breve instante, fez-me sentir maior do que verdadeiramente sou. Quanto as minhas mãos? Eu não corri para lavá-las, quero, até o último resquício, sentir o bem que aquela mão proporcionou-me. Sinto o calor, nas minhas palmas, até o presente instante em que escrevo. Glória à Deus!
Alguém pode, então, perguntar-me: "você não é espírita?". Não. "Frequentar" uma Casa Espírita, não nos torna espíritas. "Trabalhar" para uma Casa Espírita não nos torna espíritas. "Ler" o Evangelho Segundo o Espiritismo, não nos torna espírita. Espírita é aquele que pratica, em todos os lugares e, para com todos, sem distinção, a caridade que Jesus Cristo ensinou. Ser Espírita é ser Cristão, ser Cristão é seguir Cristo sempre. Ser Espírita é praticar a Lei do Amor para consigo mesmo e para com o outro, sem julgar quem seja, sem olhar o que se tenha. E, assim para com Deus. Eu não posso me dizer Espírita se os meus pés ainda vacilam na minha caminhada, fora da Casa Espírita. Eu não posso me sentir Espírita porque é fácil demais sê-lo, e, eu, ainda não sou capaz de tornar as coisas simples assim, com a Simplicidade de Jesus.
(Em 05/10/2011, às 09h30min)
"E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes, porém, o que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo" (Mateus, X; 28)
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