terça-feira, 1 de abril de 2014

... MAS, O QUE É O PASSE?




Em 29-03-2014; às 10:30min.

Comecei a trabalhar na Casa Espírita como passista. Pude perceber, então, que, assim como eu, quando comecei a frequentar a Casa e receber o "passe", muitos que ali comparecem não entendem muito bem o que é esse "passe". Será um mecanismo de "passe fora", "Xô!", "saia de mim"... espantando o mal que me atormenta? O que estariam tirando de mim, e/ou, passando para mim? Como compreender se, mandam-me fechar os olhos e nada vejo? E se doer? Se, mandam-me ficar em silêncio e em oração é porque deve doer! 

A dor física ou moral é tão grande quando se busca auxílio na Casa Espírita, que, como acreditar que um simples movimento com as mãos de "alguém" igual à mim, simplesmente, pode fazer "passar" a minha dor, e se ensinam que milagre não existe? Então, é merecimento. Eu preciso ser perfeito para merecer a misericórdia Divina? Mas, sou humano, e, entre os homens, na Terra, plano de provas e expiações, não há quem o seja. Então, o que fazer para merecer ser curado pela simples imposição de mãos?

Como ensina Jesus: "é preciso vestir a túnica" (E.S.E.). E, como enfatiza Jacob Mello, é estar preparado adequadamente (vestido) para receber o que se busca. Toda festa é uma dádiva, o "outro" oferece. Quem aceita a oferta precisa preparar-se adequadamente para a ocasião.

"Sois deuses" (N.T. Jo 10; 33-35). Jesus afirma que somos todos deuses, já que filhos de um mesmo Pai, e, que, podemos fazer igual a Ele, ou, muito mais (E.S.E.). Jesus disse aos Judeus: "Eu e o Pai somos um". A Lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e, o que está na Escritura não pode ser anulada. Dessa forma, todos podemos curar em nome de Jesus.

O "passe", assim, não é milagre, é a misericórdia de Deus manifestando-se através das mãos daquele que edifica a Palavra, porque nela crê. Em Jesus está o poder de dar e retomar a vida, pois que, nEle está a vida, porque a entregou em amor ao Pai. Contudo, é ao Pai Celeste a quem Jesus delega maior poder sobre a vida, porque Deus é maior do que todos, e é Deus quem a concebe, ninguém pode arrebatá-la das mãos do Pai.

Vê-se que nem Jesus, o Cristo, curou à todo mundo. Daí, poder perceber o que é merecimento. Assim como aquele que oferece, aquele que recebe precisa crer no Espírito, que é vida e não letra, que é lei. "A letra mata mas o Espírito vivifica" (N.T. Paulo, 2 Corintios; 3-6). Entende-se que não se pode ficar preso as palavras, mas no que nelas está contido, o Espírito. Toda palavra trás um sentido mais amplo, oculto e diferente. Assim, a letra (lei), o sentido que se dá a ela, é prejudicial espiritualmente (mata). O Espírito, o que a pessoa trás no coração, que é a vontade de Deus, vivifica. Tudo tem início em Deus -Princípio Inteligente Universal. O homem sem Deus não pode pensar em coisa alguma. Deus tem utilizado meios diferentes para nos enviar as suas mensagens. A confiança chega até nós por intermédio do Cristo.

Saber receber é também uma aptidão, assim como a mediunidade de cura é uma faculdade. Nem todos os médiuns sabem utilizar bem as suas faculdades no serviço do bem. Assim também, há àqueles que não sabem receber o bem, por falta de disposição para o bem, ou, por não acreditarem possível aquilo que se busca na Casa Espírita. É preciso acreditar que o passe vai  fazer bem, que vai dar o que se procura. Ora, o pensamento é uma poderosa força eletro magnética. Se não acredito no que desejo, como se há de se realizar? "Os nossos pensamentos otimistas muito podem no serviço da regeneração das células enfermas. Não acredite na irreversibilidade do carma que, sem dúvida, pode ser alterado na permuta da dor pelo bem" (Muito Além da Saudade, psicografia de Carlos A. Baccelli).

O Espiritismo implica numa renovação para o homem. O médium que aspira atingir a evolução espiritual deve buscar exercer a sua faculdade no sentido do bem. São as nossas aspirações e conduta, que se expressam através das palavras, pensamentos e atos, que determinam a qualidade dos Espíritos com que iremos sintonizar na tarefa mediúnica, como nos ensinam os Benfeitores Espirituais. Afinal, os médiuns não trabalham sozinhos na Casa Espírita. Ficar em silêncio e oração é propiciar essa psicosfera de amor e harmonia preparada pela Espiritualidade, antes mesmo da realização do trabalho no plano físico, e, que, não se encerra ao fim do trabalho no espaço terreno. Manter-se em silêncio e oração é manter a sintonia com os Espíritos Celestes que conduzem o nosso pensamento (prece) a Deus, que  nos permite a cura.

A cura não vem só através do passe, vem da auto-transformação moral. A Casa Espírita contribui para a reforma íntima, pois, eleva a sintonia e afasta a obsessão. Auxilia-nos na troca dos vícios pela virtude. É preciso acreditar em Deus, sintonizar com o Altíssimo, colocar Deus, como ensina Jesus, com humildade e gratidão, acima de todas as coisas. "Por que me chamas bom? Não há bom senão um só, que é Deus" (N.T. Mateus 19;17). Em qualquer circunstância, em qualquer lugar, seja no Centro Espírita, seja em qualquer outra instituição, é preciso estar aberto para receber tudo o que a providência Divina nos enviar.

Emmanuel, em sua obra, "Segue-me", coloca que o passe é uma "transfusão de energia fisio-psíquicas", ou seja, transfusão de energia do encarnado sob a ação do desencarnado, compreendido como "passe misto" (médium sob a ação dos Espíritos), que é comumente aplicado nas Casas Espíritas.

Em, "O Consolador", questão 98, Emmanuel descreve o passe da seguinte forma: "assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença de que os recursos orgânicos são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais". Dessa forma, o passe é uma transfusão de energia psíquica que irá renovar as nossas energias num nível mais profundo, que é o nível fluídico, que tem relação com o nosso perispírito, como nos esclarece Alírio de Cerqueira Filho. Segundo Alírio, quando Emmanuel faz referência ao "reservatório ilimitado das forças espirituais", refere-se aos mananciais de energia fluídica.

Conforme Alírio Cerqueira nos leva a refletir, para compreender o mecanismo do passe é preciso antes compreender o que ensina os Benfeitores, no Livro dos Espíritos, questão 27, sobre a Trindade Universal e sobre o Fluido Vital (L.E. Q. 64). Para que se entenda melhor o processo, faz-se necessário um estudo aprofundado do Livro dos Espíritos. Conquanto, apresento o meu humilde entendimento.

Segundo os Benfeitores, a Trindade Universal é constituída por Deus, no ápice do triângulo, pois que Deus está acima de tudo; na base estão o Espírito e a matéria. E, intermediando esta ligação está o Fluido Cósmico Universal (FCU). Como esclarece Alírio, o Espírito atua sobre o FCU, que, por sua vez, imprime uma ação sobre a matéria para animalizar a matéria, ou seja, dar vida a matéria. O FCU é o elemento de ligação entre o Espírito e a matéria. O Espírito sem o FCU não poderá atuar sobre a matéria e a matéria sem o FCU se desintegra (L. E.).

O Fluido Cósmico Universal provém de Deus, como tudo o que há no Universo. Não é positivamente matéria, é semi-material. Tem características tanto fluídicas energéticas, como os Espíritos, como tem características próximas da matéria. O FCU é suscetível de inúmeras combinações, entre essas, o Fluido Vital ou Magnético é derivação. Em outras palavras, o Fluido Cósmico Universal dá origem a vários outros fluídos. O passe nada mais é que a manipulação do FCU por um Espírito, que vai dar uma condição especial, que é o fluido vital ou magnético, que tem propriedades curativas (ALÍRIO)

Como esclarecem os Benfeitores, nós somos seres trinos, constituídos pelo corpo físico, Espírito e corpo fluídico ou perispírito. O perispírito, variação do FCU que gera o princípio vital (fluido elétrico animalizado), que vai formar esse corpo que reveste o Espírito na sua essência, e, que, por sua vez, faz com que o Espírito se ligue ao corpo. Alírio de Cerqueira Filho esclarece que quando o corpo, por algum motivo, perde sua energia vital, é necessário fortalecer essa energia através do passe, que nada mais é que o FCU sendo manipulado, gerando fluido magnético, e, assim, renovando o fluido vital, reestruturando a saúde (ALÍRIO).

O passe se fundamenta nas qualidades do Princípio ou Fluido Vital. Para se compreender os mecanismos do passe, faz-se necessário conhecer essas qualidades, que, em suma, são: (1) Tem origem no FCU (Fluido Cósmico Universal); (2) Varia entre as espécies de seres vivos; (3) Varia de indivíduo para indivíduo; (4) Quanto maior a quantidade de fluido vital maior será a vitalidade do indivíduo; (5) É passível de esgotamento, tornando-se insuficiente para a manutenção da vida; (6) É passível de renovação pela absorção e assimilação das substâncias que o contém; (7) Pode ser transmitido de um indivíduo a outro.

São as duas últimas qualidades apresentadas, que fundamentam o passe: é passível de renovação pela absorção e assimilação das substâncias que o contém; e pode ser transmitido de um indivíduo a outro (ALÍRIO).

"O movimento da matéria não é vida" (L.E.). Conforme a luz esclarecedora de Alírio, o princípio vital é que vai distinguir os seres vivos orgânicos (vivos) dos inorgânicos (não vivos). Os átomos estão em movimento o tempo todo também nas rochas (matéria bruta), mas, ela não tem vida, apesar de ter princípio inteligente que anima esses átomos, que gera agregação da matéria. Senão houvesse, ela se desagregaria (ALÍRIO).

Nos seres inorgânicos, o princípio inteligente não é Espírito propriamente dito, mas, apenas anima o ser. Nos seres orgânicos, segundo Alírio, além dessa movimentação, que também existe na matéria bruta, existe o princípio vital que faz com que a matéria adquira vitalidade. Esclarece os Benfeitores: "o movimento da matéria não é vida, ela o recebe, não o dá" (L. E.). O princípio vital vai fazer com que o ser orgânico esteja não apenas animalizado na sua estrutura molecular, mas, em ser vivo (ALÍRIO).

O princípio vital sem o corpo não há vida, porque é apenas fluido. O corpo sem o fluido vital é uma matéria em processo de desagregação. É o fluido vital que faz a intermediação corpo/Espírito. Isso explica, conforme Alírio, como no suicídio o indivíduo mata o corpo, mas, o perispírito mantém a sua vitalidade, por isso ele continua a sentir todas as consequências do suicídio. Quando a morte do corpo físico é natural, o princípio vital se extingue. Vitalidade é o próprio princípio vital.

Allan Kardec, na questão 67, L.E., pergunta se o princípio vital se acha em estado latente antes de encarnar o Espírito. Os Benfeitores respondem que SIM. Antes de reencarnar, o Espírito tem o perispírito, o desencarnado NÃO tem princípio vital. Alírio explica que antes de reencarnar, o Espírito recebe uma carga de princípio vital, que dá, quando unido ao corpo, vida ao corpo. O corpo é apenas matéria. O Espírito vai ter, em sua essência, o perispírito impregnado pelo princípio vital. Nós eramos vivos fora do corpo, sem o fluido vital, quando reencarnamos somos seres vivos no corpo, com fluido vital. É o fluido vital, esse agente, que vai produzir, também, a animalização dos órgãos (L.E.).

Na questão 70 (L.E.), Allan Kardec pergunta aos Benfeitores: "Em que resultam a matéria e o princípio vital dos seres orgânicos, quando estes morrem?". Eles respondem que na morte natural, o princípio vital, como variação do FCU, vai se extinguindo naturalmente e volta para o FCU, de onde partiu a matéria inerte (sem fluido vital). O corpo físico se decompõe e vai formar novos organismo, comprovando o que a ciência biológica afirma: "na natureza nada se perde, tudo se transforma". O princípio vital, então, volta à massa de onde saiu (L.E.).

O fluido vital não sendo igual, em quantidade, em todos os seres, pode ser transmitido de um indivíduo para o outro. O que tem mais pode oferecer a quem tem menos. Dessa forma, o encarnado pode oferecer diretamente a outro, através do passe magnético (magnetismo humano). O Espírito pode transmitir através do médium (magnetismo misto), comumente aplicado nas Casas Espíritas. Bem como, o próprio Espírito pode transmitir diretamente  (magnetismo espiritual). O passe favorece no auxílio do equilíbrio energético fluídico. Porém,  não depende unicamente de quem o aplica, mas, da disposição interior de quem o recebe, isso é que o faz funcionar ou não, como já orientado no início.

"Aquele que me seguir terá a luz da vida" (JESUS). Ninguém sai das trevas apenas com formalidades religiosas ou com a prática de rituais despidos do propósito de nossa elevação espiritual  (DE LUCCA, Cura e Libertação).  Parafraseando o autor que aludi sobre o tema, o qual, hoje, buscamos discernir e que deve ser de reflexão não só para o momento do passe na Casa Espírita, mas, em quaisquer circunstâncias em que a vida se apresente, "A escuridão é ausência de luz. Se estivermos mergulhados em trevas, é porque estamos com a mente e o coração fechados à maior e mais poderosa energia existente no universo que é o amor (...) O trabalho espiritual mais forte e profundo que poderemos fazer em nosso benefício é viver no amor, pois o amor gera otimismo, coragem, confiança e alegria, deixa a nossa energia no mais alto nível e assim atraímos situações de vida que nos trarão a cura da infelicidade". Que Assim Seja!

Luz e Amor!


"Espiritismo, doutrina consoladora e bendita, felizes os que te conhecem e empregam proveitosamente os salutares ensinos dos Espíritos do Senhor! Para esses, o ensino é claro, e ao longo de todo o caminho eles podem ler essas palavras, que lhes indicam a maneira de atingir o alvo: caridade prática, caridade para o próximo como para si mesmo. em uma palavre, caridade para com todos e amor de Deus sobre todas as coisas, porque o amor de Deus resume todos os deveres, e porque é impossível amar a Deus sem praticar a caridade, da qual Ele faz uma lei para todas as criaturas". (Bem-aventurados os misericordiosos, cap. X;18. O Evangelho Segundo o Espiritismo).



Nenhum comentário:

Postar um comentário

"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.