quinta-feira, 27 de março de 2014

SOLIDARIEDADE ÀS DIFERENÇAS


"Cada boa ação que você pratica é uma luz que você acende em torno de seus próprios passos"


Em 27-03-2014, às 17:00hs.

Hoje busquei refletir sobre a solidariedade. Comumente, a solidariedade está associada a caridade (religiosidade) ou assistencialismo (social). A solidariedade é muito maior, ela perde o seu caráter religioso assistencialista, deixando de ser "ocasional" e se constituindo em uma condição humana. A solidariedade ganha, assim, uma dimensão imensurável, tornando-se a própria essência do ser. 

A solidariedade é ver as diferenças não como um problema, e, sim como pluralidade de vidas. Significa ter suficiente capacidade para refletir o mais objetivamente sobre a realidade de sofrimento e injustiça na qual vivemos e não ficar indiferente. Solidariedade significa ir de encontro com o "outro" marginalizado não somente por compreender essa realidade, mas, por compaixão ao "outro". Conduzir nossas ações em direção ao "outro" torna-nos seres mais libertos e felizes.

O homem nasceu sobre diversos pontos do globo, e em épocas diferentes, sendo um dos motivos das diferenças humanas (L. E. questão 52-54). Mas, nem por isso, devem deixar de se reconhecerem como semelhantes, pois, são todos animados pelo espírito e filhos de um mesmo Pai - Deus.  Procede que, o diferente é o que está fora dos padrões, tudo o que foge aos padrões não é bem aceito, porque é visto como mal e o mal deve ser combatido, logo, o diferente precisa ser combatido. Esta é uma questão cultural que deve ser revista, não existe superioridade de raça. 

"O que nos torna iguais é que somos diferentes". É preciso entender que o ser humano é singular. O que diferencia o ser humano dos outros animais é que ele precisa do outro para se desenvolver, ou seja, ocorre aí um paradoxo: o ser humano, apesar de sua característica peculiar, ser único enquanto indivíduo, ele é um ser interdependente.

Diferente das outras espécies, o ser humano só se desenvolve em relação com o outro. A tartaruguinha, por exemplo, tem uma infância que não dura mais que alguns minutos, logo que nasce ela corre para o mar, a partir de então, desenvolve-se sozinha. Assim, outras espécies na natureza. O homem não, se deixado isolado na natureza, não aprende ao menos a falar. Destarte, o ser humano não é determinado pelo meio, ele é dependente do meio.

Muitos teóricos determinam como fase da infância no homem, o período em que se desenvolve a fala. Pela etimologia da palavra, infância significa "ausência da fala". Contudo, a infância é uma construção social, que teve maior observância no século XIX. Somente na Modernidade, a infância é estabelecida não somente pelas características biológicas e pelas variáveis ambientais (ex: comportamento dos pais) e passa a ser separada por etapas (idade) para as práticas de intervenção e regulação social. Contudo, essas etapas não são iguais em todo o mundo. 

O desenvolvimento humano não se dá somente pela mente, como se fez acreditar pela filosofia de René Descartes: "Penso, logo existo".  A identidade humana, assim, fica restrita a mente humana. As mudanças não ocorrem somente nas mentes, também ocorrem nas ações. É preciso, pois, fortalecer o homem para a realização. O ser humano não pensa somente, ele sente. Contudo, o pensamento é a maior prova da existência humana.

O homem se difere dos outros animais pela inteligência. Conquanto, ser instruído não é o mesmo que ser inteligente. Bem como, conhecimento não é consciência. "A consciência é o pensamento íntimo” (L. E. questão 835). É a razão desenvolvida dentro de cada ser. A consciência é, portanto, o raciocínio lógico que só se atinge subindo o degrau da evolução. O que se há de se distinguir é conhecimento de consciência.  

O conhecimento não é dado somente pela teoria, existe outro acesso ao conhecimento que é a prática. A mudança é vivencial-teórica. Bem como, educação não é só informação.  Educação é razão mais subjetividade (emoção). É através de uma visão anacrônica de mundo e pelo sistema de crenças (cultura) que se criam paradigmas. O homem passou a seguir modelos, esquecendo-se de si próprio. Apesar de a cientificidade ter buscado separar a mente do corpo, o homem é razão e emoção. E, por isso, o homem hoje precisa reaprender a ser sujeito da própria história e não mais protagonista.

O cientificismo é a crença de que a ciência é uma forma superior de pensar esquecendo o subjetivismo, a emoção. Separou o todo visto pela religião, para conhecer as partes. Agora é preciso retomar a busca do todo que a razão separou. Retornar não significa ir de busca do misticismo e do dogmatismo da religião, mas, se autoconhecer. Ninguém é só cabeça, a ciência fez isso, fez o homem olhar só do pescoço para cima. O ser humano é cabeça, tórax, barriga, sexo, emoção, é o todo. 

Nada contra o conhecimento, mas, com o uso que se faz desse conhecimento. O conhecimento sem a prática é nulo. O indivíduo não é só potência, ele precisa expressar a sua potencialidade (energia). O homem cria idéias e meios para esconder o que verdadeiramente é, em essência. Busca esconder a realidade, sem perceber que a realidade é um processo, não existe uma definição para realidade. Ora, não se pode segurar um processo, processo é dinâmica, é movimento. A realidade está em movimento. Ficar preso a realidade é ficar preso a um problema, é tornar-se inerte. É mecanismos individuais, por isso, a necessidade de autoconhecimento.

Allan Kardec, na questão 818, Livro dos Espíritos, pergunta aos Benfeitores, de onde se origina a inferioridade moral da mulher em certos países. Os Espíritos respondem a Kardec: "do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito". Não adianta levantar bandeira contra o racismo, a homofobia, a desigualdade de gêneros e permanecer envolto numa nuvem de preconceito.

O preconceito também vem de um sistema de crenças em desacordo com a nossa época. O sistema é um mecanismo do qual o homem se utiliza para justificar as desigualdades e violências sociais contra os mais fracos. Contudo, o sistema e as instituições não pensam, são feitos por pessoas. Para o sistema mudar é preciso que as pessoas mudem as suas consciências. 

A solidariedade respeita o outro. Esse é o desafio dessa Nova Era, a solidariedade com as diferenças, o despertar da consciência de que somos todos iguais em nossas diferenças. Segundo Nelson Mandela: "um dos desafios do nosso tempo, sem ser beato ou moralista, é reinstalar na consciência do nosso povo esse sentido de solidariedade humana, de estarmos no mundo uns para os outros, e por causa e por meio dos outros".

A solidariedade, assim, se constitui em um dos princípios de justiça. "Não façais aos outros, o que não quereríeis que vos fizessem" (E. S. E.). A verdadeira solidariedade começa onde não se espera nada em troca (Antonie de Saint-Exupéry).

Para realizar mudanças é necessária vontade firme. Como ensina André Luiz, "a idéia é um ser organizado por nosso espírito, a que o pensamento dá forma e ao qual a vontade imprime movimento e direção". Ter vontade firme do que se pensa realizar já é uma realização, pois, como ensina os Benfeitores Espirituais, tudo o que se realiza no campo material é antes realizado no campo energético. O pensamento é energia. Podendo ser uma energia positiva ou negativa.

Jesus ensina que para sermos cristãos é preciso mais que conhecer a teoria contida em seus ensinamentos. Muitos se consideram cristãos sem nem mesmo conhecer sobre a vida de Jesus, e, quando conhece o Evangelho não busca praticar. Ser cristão é colocar os Ensinamentos de Jesus em prática através da caridade e do amor. É ser solidário ao outro lembrando que somos todos filhos de um mesmo Pai, logo, somos semelhantes nas nossas diferenças, e, todos, sem distinção, merecemos respeito como filhos de um mesmo Pai. Se assim não conduzirmos nossas ações e pensamentos, toda a teoria do Cristo será palavras jogadas ao vento, sem fundamento em nossa existência.

Solidariedade não é somente ajudar alcançar alguma coisa ao próximo. Solidariedade é informar, é dividir o que se sabe. É compartilhar com aquelas pessoas que não tem acesso a informação, o que nós conseguimos aprender. A solidariedade não é algo que está fora do ser, à solidariedade já existe no ser. É a expressão máxima do amor, que nada pede; nada julga; nada espera; nada vê a não ser o bem do próximo.

O valor da ação está onde está o amor. Se a ação tem amor, então, ela tem valor. Conhecer Jesus não é apenas conhecer seus ensinamentos, mas, seguir junto com Ele em ação. Que Assim Seja!

 Luz e Amor!



"Ide, meus bem-amados, estudai e comentai essas palavras que vos dirijo, da parte d'Aquele que, do alto dos esplendores celestes, tem sempre os olhos voltados para vós, e continua com amor a tarefa que começou há dezoito séculos. Perdoai, pois, os vossos irmãos, como tendes necessidade de ser perdoados. Se os seus atos vos prejudicaram pessoalmente, eis um motivo a mais para serdes indulgentes, porque o mérito do perdão é proporcional à gravidade do mal, e não haveria nenhum em passar por alto os erros de vossos irmãos, se estes vos incomodassem de leve. 
Espíritas, não vos olvideis de que, tanto em palavras como em atos, o perdão das injúrias nunca deve se reduzir-se a uma expressão vazia. Se vos dizeis espíritas, sede-o de fato: esquecei o mal que vos tenham feito, e pensai apenas numa coisa: no bem que possais fazer"
 (Bem-Aventurados os Misericordiosos, cap. X; 14. O Evangelho Segundo o Espiritismo).






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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.