quarta-feira, 19 de março de 2014

PERCEBER SÓ NÃO MUDA






Em 20-01-2014, às 03:00 hs.

Estive, em desdobramento, na casa da minha mãe. Chamei-a desesperadamente:  "_ Mamãe!". Ela não me ouvia, continuava a dormir. Então, senti ser "puxada" de volta para o meu quarto. Acordei.

A dor de cabeça, da qual tenho sido acometida de tempos em tempos, tem se intensificado. Muitas noites preciso levantar-me e caminhar pela casa para sentir algum alívio. Os médicos diagnosticaram "enxaqueca", mas, as medicações não tem dado muito resultado. Começou na menarca e tem se intensificado com a proximidade do climatério. Período em que as manifestações espirituais também se intensificaram. As dores são tão intensas que tenho a sensação de "desencarnar" a cada noite.

Oro e entrego-me a vontade do Senhor, então, volto a dormir. Percebo, algumas vezes, os Amigos Benfeitores a zelar por mim. Percebo-os limparem o meu campo astral com movimentos muito rápidos e sincronizados, e, instantaneamente, transfundir as suas energias fluídicas, verdadeiro bálsamo de amor. 

Apesar de acreditar que desencarnar não dói tanto quanto a minha "enxaqueca", já que da minha "Experiência de Quase Morte" (EQM), trago a recordação de que deixei o meu corpo físico tranquilamente. Creio que foi uma sensação de profunda leveza que experimentei, naquele momento. Acompanhei meu corpo físico, ao lado da maca, pelo corredor do hospital sem pesar. Lembro a expressão da minha mãe, tentando abrir os meus olhos, segurando meu pulso e exclamando: "_ Minha filha está morta!". Lembro da enfermeira, assistindo-me, nervosa, pedindo: "_ Chame pelo nome dela!". Acompanhei meu pai quando saiu desesperado pelo corredor do hospital, em prantos. Lembro-me da luz intensa que se misturava com a alvura do meu Anjo-guardião, que me acompanhava os passos. Jamais esquecerei a sua face. Queria ter permanecido ao seu lado, envolta naquela paz.

Porém, retornei ao meu corpo físico após instruções do meu Anjo Protetor (instruções que escrevi ao despertar, mas, que as negligenciei). Disse-me que minha tarefa não havia acabado aqui na Terra, e, que precisava dizer à todos que o mundo necessita de oração. Talvez, porque naquele instante ainda conservava uma pureza na alma. Às vezes me pego pensando que nem mesmo aprendi a rezar, como posso ensinar? Perceber só não muda nada em nossas vidas, nem na vida de ninguém, é preciso realizar. E, para realizar é preciso coragem. A coragem daquele que mesmo sem vê acredita, de acordo com as palavras de Jesus para Tomé: "Bem-aventurados os que não viram e creram" (N. T. Jo 20, 19-31).

Cada dia é um presente de Deus. Uma nova página onde podemos escrever uma nova história em nossa existência. No entanto, encontramo-nos presos ao passado. Presos aos amores vencidos, aos projetos que não vingaram, a conceitos ultrapassados, sonhos perdidos e, lastimamos a nossa sorte. Quase sempre culpamos a Deus pelos nossos fracassos e sofrimentos, como se Deus fosse um Pai impiedoso e injusto, e, nós, pobres vítimas do destino, quando as nossas imperfeições são resultantes unicamente da ausência de amor em nossas vidas. Devemos dar graças ao Pai Celeste, especialmente, quando o que desejamos não acontece em nossas vidas. O Pai não permite um mal que não seja para um bem maior, é a nossa visão estreita que não nos permite enxergar.

Percebo que ainda permaneço presa à minha mãe, não mais pelo cordão umbilical, o qual sofreu ruptura somente quando pude regressar ao ventre materno e compreender o que havia acontecido conosco - a tentativa do aborto e sua rejeição por mim. Mas, presa por não conseguir perdoar de todo coração, por ela tentar me abortar a todo instante de sua vida, ou, por não conseguir me perdoar. E, assim, entendo que o problema está em mim. Continuo buscando esse amor que nem mesmo mais preciso para sobreviver, pois que, já não sou mais aquela criança, dependente desse alimento materno. A criança depende do amor da mãe para firmar a sua personalidade, adquirir equilíbrio emocional e confiança. É esse amor que alimenta a alma de bons sentimentos. Ou, quem sabe, como diz a letra de canção "ainda sou uma garotinha ...."(Cássia Elem).

Como explica Drª. Anete Guimarães (psicóloga e parapsicóloga), o transtorno é sempre do Espírito.  Ela esclarece que quando o bebê é rejeitado, o Espírito adulto entende a rejeição. Isto porque, o Espírito que está reencarnando não é uma criança. Este perde a consciência de Espírito adulto entre os três e sete anos, segundo a pesquisadora. Ele escuta o que a mãe está dizendo: "eu não quero você".

Pareço escutar ela  me repetindo isso o tempo todo e, perturbo-me.  Dependendo do grau evolutivo do Espírito, ele pode ou não assimilar esse ódio. Se o Espírito tiver algum grau evolutivo ele não irá assimilar esse ódio e irá buscar esse amor. Tudo vai depender do potencial que esse Espírito trás. Assim, o transtorno é do Espírito, conforme coloca Drª. Anete. A mãe é co-responsável. Os pais podem atenuar ou agravar o problema, mas, o agente responsável pelo seu transtorno é o próprio Espírito.

Depois dessa visita noturna em seu quarto, diante da minha dor (enxaqueca) e do meu apelo desesperado para que me confortasse com seu amor, senti-me novamente repelida, ignorada nos meus sentimentos. Ela permanecia dormindo, indiferente ao meu chamado. Não cuidou da minha dor. Senti, ao despertar, como se fora ainda aquele bebezinho, deixado no berço, chorando até dormir de cansaço. Enquanto relato, sinto o meu peito querer explodir de dor. Daí, percebo que o cordão não foi realmente rompido, que existe no meu íntimo, muita dor. É a dor que nos une quando deveria ser o amor. Perceber a causa da dor não muda o seu efeito, o que sinto. Há uma necessidade de reparação, e o mal não é reparado senão pelo bem (L.E.). Ela, intimamente, ainda não consegue me querer bem. Então, eu continuo sangrando...

Penso no esquecimento das ofensas, ensinado por Jesus, o nosso Mestre maior, e percebo que esse perdão, de coração, ainda não se concretizou. Perdoar é colocar amor onde existe mágoa. E, em mim. ainda existe muita mágoa. É muito difícil viver uma existência sendo rejeitada por aquela que acreditamos deveria nos amar incondicionalmente. Depois da Doutrina Espírita, conhecendo e buscando aplicar na prática os ensinamentos do Evangelho, reconheço que houve um bom caminho já percorrido por nós duas, com sucesso,  Hoje, minha mãe já me procura com mais carinho, e, ainda com alguma resistência, consegue pronunciar "eu te amo".

Li uma frase que dizia o seguinte: "devemos usar o passado como um trampolim e não como um sofá". "Passado" e "futuro" são dois tempos que não existem. O "passado" é o tempo que já foi, e o "futuro" é sempre o tempo que virá, ou seja, ainda não chegou. Um já não existe e o outro ainda virá. Somente o tempo presente existe de verdade. Então, porque ficamos sentados no passado, desejosos em dar um salto pro futuro, quase sempre esquecendo de que o "hoje" é o dia mais importante da nossa vida? Jesus ensina que devemos nos preocupar com cada dia.  "Não se preocupeis com o dia de amanhã...". Cada dia já trás o seu problema e cada dia é um "presente" de Deus, para que possamos recomeçar. Jesus ensinou: "o pão nosso, de cada dia..."

O autoconhecimento nos ajuda a identificar no passado os pontos que precisamos trabalhar. Autoconhecimento não é revirar o passado e remoer as nossas culpas. O autoconhecimento deve ser uma ferramenta para corrigir as nossas imperfeições e não aumentar as nossas culpas ou exaltar os nossos méritos. É examinar a nossa consciência e encontrar o mal que nos aflige. Como ensina o Apóstolo Pedro: "Em cada negatividade que encontrarmos em nós, em cada ponto fraco que identificarmos, não vamos colocar culpa ou julgamento. Vamos derramar o amor que cura afastando o medo, sobretudo o medo de não sermos amados". (N.T. Pedro 4,8).

Eu sentia-me culpada por não ter chegado ao coração da minha mãe. Como também, desenvolvi um certo medo de não ser amada, nem por ela, muito menos pelos outros, já que nem mesmo minha mãe me queria, como alguém poderia me amar? Ouvia ela mesmo dizer: "_ Quando a própria mãe não ama é porque boa coisa o filho não é". Daí então, nem eu mesma sei o porque, mas, comecei a me sentir uma pessoa má, que não merecia atenção. Então, muitas vezes, não permiti aproximação, nem mesmo quando precisava de consolo, por medo da rejeição. Pensava: "E se depois me abandonarem?". Assim, adquiri um caráter rígido, como uma "blindagem", para me defender antes mesmo que me atacassem. O amor é realmente o único remédio que pode curar as nossas feridas interiores e transformar a nossa existência. A dor é o distanciamento desse amor.

A Doutrina Espírita ensina que tudo em nossas vidas depende única e exclusivamente de nossas atitudes - a Lei do retorno (L.E.). Toda nossa ação e pensamento, bom ou mau, reflete em nossa própria existência. "Ninguém recolhe o bem sem conquistá-lo e ninguém recebe o mal sem atraí-lo" (Emmanuel, Antologia da Paz). Os Benfeitores ensinam que as doenças físicas são quase sempre de efeitos morais, causadas pelo orgulho, egoísmo e vaidade, sentimentos contrários a caridade. A cura e a libertação está no perdão que brota do amor. Muitos querem uma vida melhor, mas não se tornam pessoas melhores. A mudança começa dentro de nós e não fora de nós. "A transformação começa em nosso mundo íntimo". Quando estamos magoados, sentimos-nos amargos por dentro e, passamos esse dessabor para os outros, mesmo sem perceber. A amargura afasta, causa a repulsa do outro.

Jesus nos ensina: "Vós sois o sal da Terra; e, se o sal for insípido, com que se há de se salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens" (Mateus 5, 13). Entre outras propriedades do sal, está a de dar sabor aos alimentos. Sendo o sal da Terra, está em nós dar mais ou menos sabor as nossas vidas. Muitas vezes, a vida nos parece sem graça, "insossa". Então, somos nós que devemos dar a ela o sabor que mais nos agrada. Ser agradável ao próximo é uma forma de temperar a vida. Não constranger os outros é uma forma de temperar a vida. Pensar que o outro não precisa sentir o meu destempero, é também uma forma de temperar a vida. Enfim, dar o que há de melhor em mim, para que o outro saboreie o melhor da vida, isto é temperar a vida com sal. Que Assim Seja!

Luz e Amor!



"Por isso vos digo: todas as coisas que vós pedirdes orando, crede que as haveis de ter, e que assim vos sucederão" (Marcos, XI: 24).

(Pedi e Obtereis, cap. XXVII; 5. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.