quarta-feira, 22 de maio de 2013

Filho do Aborto

Em 17-05-2013, às 14hs.


"Eu queria que ela me amasse. Eu queria comer farinha com açúcar na merenda, mas, queria que ela me amasse".

Comunicação recebida em 16-12-2012, no Encontro de Médiuns e Doutrinadores, em Itacimirim, da Casa do Caminho. Caminhávamos na praia, conversando sobre nossas vidas, conhecendo-nos. De repente, quando contava sobre a minha infância difícil, mais feliz, ele tomou-me por impulso, em prantos, revelou a sua dor e ódio por não ter podido vivenciar dessa mesma felicidade, ainda que só havendo farinha com açúcar na merenda.

Em 10-12-2012, às 08hs

Estou afônica há sete dias. Voz tremula, carne  tremula, como se ansiosa e temerosa. Não sei o motivo. Passei muito mal, uma dor de cabeça insuportável, náuseas, calafrios. A nuca, os ombros, tudo dói em mim. As pernas parecem fracas não suportando o peso do meu corpo. Faltou-me o ar por diversas vezes. Sinto-me desfalecer. Oro, chamo pelos Bons Amigos Espirituais. Esta noite pude percebê-los à minha volta, a cuidar de mim. Então, adormeci. Acordei sem dores, mas ainda tremula e afônica. Uma vontade imensa de chorar! Continuo a orar a Deus. Entreguei-me a produção de pirulitos de chocolate, meu sustento material.

ADM esteve comigo toda esta semana. Fiquei feliz com a sua presença em minha casa. Mas, ainda não sinto pureza de coração em suas palavras. Vivemos uma existência como "cão e gato". Percebo seu esforço em aceitar-me e já reconheço a minha responsabilidade nesse processo. Penso que se eu fosse suficientemente boa, não traria sentimentos e percepções malévolas tão fortes contra ela, dentro de mim. 

"Mães! Abraçai, pois, a criança que vos causa aborrecimentos e dizei para vós mesmas: "uma de nós duas foi culpada" (E. S. E. cap. XIV; 9).

Se havia perturbações e dores antes, com sua presença, duplicaram-se. Recorri ao Evangelho no Lar, é muito bom convidar Jesus para está conosco nessas horas de aflição: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e aflitos, e eu vos aliviarei" (Jesus). ADM aceitou participar e pediu-me um Evangelho Segundo o Espiritismo, pois, gostou das instruções  que os Espíritos oferecem-nos. O tema estudado foi "Honra o teu pai e a tua mãe", capítulo XIV; 9. Após o Evangelho, pediu-me para falar sobre o que há muito lhe angustiava - os abortos que praticara. Disse-me que foi movida pelo desespero e pela ignorância. Confessou-se arrependida, não sabia da gravidade de seus atos. Revelou acreditar que todo o seu sofrimento, a perda do último filho que gerou e que partiu logo ao nascer, tudo tenha sido um castigo de Deus pelos crimes que cometeu. 

Confortei-a dizendo: "Então, Deus não seria soberanamente bom e justo, e misericordioso. Deus compreende os nossos atos, não ama o pecado, mas, ama sua criaturas e as perdoa sempre, jamais repelindo os que o procuram em arrependimento. O que não nos isenta de nossas responsabilidades. Para voltar completamente à graça do Senhor, é voltar-se agora para o bem evitando o mal e, sobretudo, reparar o mal que se fez".

O perdão das ofensas é ensinamento que devemos seguir. Não existe castigo para Deus, existe aprendizado. O sofrimento é um aprendizado, desperta-nos o arrependimento e inspira-nos a reparação de nossas faltas. Isso é progresso espiritual. Perguntou-me: "E quanto aos meus filhos?" Disse-lhe: "Eles já lhe perdoaram. Agora é preciso perdoar-se. O auto perdão é a cura da nossa alma, é reconhecer-se humano, imperfeito, é ser benevolente consigo mesmo". O remorso é a maior causa da depressão, remete sempre as nossas culpas. "Se há remorso é porque houve delinquência" (E. S. E.). Encerramos o Evangelho do Lar com a oração do perdão.

Retomei o meu trabalho quando fui tomada de surpresa. Num efeito dominó, meus pirulitos começaram a se quebrar, um por um, diante dos meus olhos. Parte do meu trabalho jogado fora! Meu coração acelerou. Busquei respirar e contornar a situação. ADM veio correndo, justificando-se: "não fui eu!". Não permiti que se sentisse culpada. É constante a manifestação de efeitos físicos quando na sua presença. Na noite anterior foi a interrupção de energia. As luzes começaram a acender e a apagar rapidamente, parecendo que todos os eletrodomésticos iriam queimar. Um "blecault" súbito, sem causas aparentes, sem que nada fosse verificado nas instalações elétricas internas que justificasse o "apagão" somente na minha casa. Foi quando percebi a presença de um irmão sofredor. Orei, mais uma vez, orei. A impressão permaneceu.

Então, fomos dormir. Acomodei-a em seu quarto e fui para o meu. Na passagem para o quarto tive a nítida impressão de ter alguém no sofá da sala. Meu coração disparou e uma sensação de angustia fez-me voltar para a sala. Lá estava ele, largado no meu sofá, e, mentalmente disse-me: "Não fale por mim, eu não a perdoo!". Respirei profundamente e entrei para o quarto, em oração. Compreendi que ele houvera participado atentamente do nosso Evangelho no Lar. No dia seguinte, o serviço de energia constatou que uma das "fases" externa (no alto do poste) fora desconectada, só não soube como alguém teria feito. Semana depois, ADM retornou para sua casa. Tudo parecia calmo, até o Encontro em Itacimirim.

ADM, há poucos dias, perturbada, tentou suicídio. Voltou para minha casa. Hoje, está em tratamento no Centro Espírita. Porém, ele, o "filho do aborto", manifestou-se mais uma vez, durante o Evangelho no Lar. Novamente a mensagem trazida foi "Honra o teu pai e a tua mãe", capítulo XIV; 9. Ela começou a sentir-se mal, acometida por uma forte dor de cabeça. Não conseguiu terminar a leitura, chorava estremecida, debruçada sobre a mesa. Orei com toda força da minha fé. Roguei a Jesus a presença de nossos Benfeitores Espirituais. Então, percebi a presença dele, seu voraz obsessor. Ele estava a apertar-lhe a cabeça, perguntando: "o que fizeste da criança que eu vos confiei?". ADM, em grande aflição, pediu-me para encerrarmos o Evangelho. Segurei sua mão firme e impulsionada por uma voz íntima, pus-me a rezar. Conseguimos, assim, terminar o Evangelho no Lar. Percebi, naquele momento, que os Amigos Espirituais presentes o conduziram para tratamento no plano espiritual.

Ela atirou-se na cama em prantos, tomada por uma dor imensa no olho e no lado direito da face. Começou a vomitar muito, e, eu, comecei a contorcer-me de cólicas, parecia estar abortando. Liguei imediatamente para um irmão da Casa Espírita, para o socorro imediato. Obsessão! Um verdadeiro tormento da obsessão! Paramos na emergência de um Hospital, onde nenhum mal orgânico foi diagnosticado. Todos sinais vitais de ADM estavam completamente normais: batimentos cardíaco, pressão arterial, exame sanguíneo, nada que justificasse tamanha dor física. O sofrimento que lhe acometera era de causa moral. A culpa surgiu e cresceu em seu mundo íntimo a partir do ato abortivo.




"Sabe o filho que ela arrancou uma vez do ventre da tia que a persegue? (ver "Relato de um obsessor") Sou o mesmo que ela arrancou do próprio ventre, não me permitindo, por duas existências, nascer. Duas vezes, homicídio! Aborto é homicídio".  

Ele, agora vagueia na escuridão movido pelo ódio e vingança: "o que fizeste da criança que eu vos confiei?". Ela, o remorso atormenta agora a sua alma insana e, ele aproveita de todos esses momentos para torturá-la mais e mais:  

"Ela me colocou num abismo. Por culpa dela conheci as trevas, jamais vi a luz, porque ela não me permitiu. Por duas vezes ela ceifou minha vida. Não, eu não a perdoo" (Filho do Aborto, em 03-05-2013).

De acordo com o "Livro dos Espíritos", a união da alma ao corpo começa na fecundação e completa-se na ocasião do nascimento. Neste caso específico, são duas encarnações que não se completou. Por duas vezes, ela (gestante) fugiu a responsabilidade assumida com esse irmão, que por sua negação, tornou-se um Espírito endurecido.  É um tormento muito grande para o Espírito, não poder reencarnar, não poder evoluir. A encarnação é a oportunidade que Deus oferece para ajudar o Espírito a se melhorar. A gravidez, assim, é sinal de que foi dada a um Espírito a oportunidade de reencarnar na Terra para essa evolução e resgate de suas dívidas pretéritas. A reencarnação é também uma oportunidade para os pais de evoluir e quitar dívidas perante a vida. A gravidez, mesmo indesejável, nunca acontece por um acaso, como nada é casual no Universo, pois que, Deus é Inteligência Suprema e nada permite sem um propósito.

O aborto é o rompimento desse contrato com a Lei do Amor. É frustrar o direito a reencarnar de cada Espírito necessitado de evoluir, objetivo maior da reencarnação. O aborto se constitui, assim, em transgressão a Lei Divina. Quando reencarnamos esquecemos dos compromissos assumidos na Pátria Espiritual e, por isso, muitas vezes, interrompe-se contratos de vidas. O Espírito sendo mais evoluído é capaz  de perdoar e trabalhar pelo amor. Porém, aquele que não conseguiu atingir esse estágio evolutivo, dificilmente consegue perdoar, e, cada vez mais, atira-se nas trevas do ódio e da vingança, tornando-se um algoz ferrenho. Em regra, no plano de provas e expiações, a reencarnação se dá quando o Espírito já não consegue ser feliz. Levado pelo atraso evolutivo que ainda carrega consigo pelo aborto, nasce o desespero. Estando infeliz no mundo Espiritual passa a perseguir,  com ódio e desejo de vingança, a mãe e todos os responsáveis na interrupção de seu nascimento.

O aborto é por isso considerado uma das causas invisíveis de certas doenças e, acima de tudo, das obsessões conhecidas na patologia mental. Somente a desobsessão para doutriná-lo e ensiná-lo o perdão, fazendo-o compreender que terá outras oportunidades de existência, pois que, Deus é soberanamente bom e justo, dando a cada um segundo as suas obras. O Espiritismo, através do despertar da consciência, mostra o caminho que nos convém e nos leva a compreensão das patologias no corpo físico, bem como, o esgotamento das energias perispirituais desestruturadas, contribuindo para a paz com a própria consciência.

Ele, hoje, está no Centro Espírita Casa do Caminho, onde trabalho. Ainda não suporta a presença de ADM, mas, com o auxílio dos Benfeitores, e de todo o amor e compreensão que estamos lhe dispensando, já compreende sua condição de Espírito e da necessidade de ficar bem para reencarnar em outra oportunidade. Há outras maneiras de evoluir na Pátria Espiritual, através do trabalho para o bem. Afinal, são tantos os sofredores! Ele ainda não a perdoou, o que é compreensível após longos anos de sofrimento. Mas, já o sinto mais calmo.

Choramos juntos na publicação deste relato. Sei que para ele "honrar pai e mãe" na condição a que foi submetido é quase impossível, de imediato, já que somos todos, por natureza, imediatista. Além do que, no seu entendimento, assim, como no meu, "honrar pai e mãe" é ser-lhes gratos pela existência terrena, o que não lhe sucedeu. A vida é o bem maior, por isso estaremos sempre "abaixo" de nossos pais. Seremos sempre seus devedores por que nunca poderemos lhe retribuir a vida em vida. Contudo, "honrar pai e mãe" é respeitá-los, saber que são humanos, sujeitos a faltas, independente de suas condições de genitores. Não nos cabe julgá-los e, sim, amá-los como irmãos que somos. Os pais também são nossos irmãos em Cristo. "Amar ao próximo como a si mesmo, em seu próprio sangue na multiplicação da vida". Destruí-los por meio de vingança seria cometer os mesmos erros que ora condenamos, seria também derramar o sangue que multiplica a vida.

Os problemas emocionais gerados pelo aborto são muito graves, tanto para o Espírito que teve a vida ceifada por esse ato criminoso, muitas vezes, motivado pelo desespero e ignorância, quanto para a mãe, que sofrerá longos anos os efeitos do seu ato, em remorso e arrependimento. "O aborto é um verdadeiro genocídio que se perpetra contra milhões de pessoas não nascidas sem qualquer possibilidade de defesa" (ZIMMERMAMN, 1999).

O aborto não é uma "solução fácil", mas, um problema grave. O aborto é um ato agressivo que repercutirá continuamente na vida daquela mãe. É o que os especialistas chamam de "síndrome pós-aborto". Muito dificilmente a mulher esquecerá o trauma sofrido. São observados nessas mulheres, através de estudos: "depressão, tendências suicidas, abuso de drogas e álcool, demonstrando que é o aborto e não a gravidez que causam problemas mentais" (SPRINGFIELD, 2006). Segundo esses especialistas, as mães tentam ignorar os efeitos do abordo e só mais tarde esses efeitos se manifestam, quase sempre em problema emocionais sem solução (Manifesto contra o aborto - AMERGS (Associação dos Médicos Espíritas do Rio Grande do Sul), publicado em 25/03/2013).

Segundo a Doutrina Espírita, o reparo só é possível através da reforma moral do obsedado. Tornar-se melhor para que o outro que o espreita possa aprender a respeitá-lo. Essa é uma condição imprescindível para a desobsessão - transformação moral. Colocar-se como vítima e persistir nos erros somente aumenta o desprezo daquele que o persegue, tornando-o ainda mais incrédulo da misericórdia Divina, e, o não crer na misericórdia Divina, levá-o a buscar fazer justiça com as próprias mãos. Faz-se necessário que o obsedado contribua para esse trabalho, não se isentando de suas responsabilidades. "Os maus Espíritos só estão aonde podem satisfazer a sua perversidade. Para afastá-los, não basta pedir, nem mesmo ordenar que se retirem: é necessário eliminar em nós aquilo que os atrai. As boas qualidades do coração nem sempre nos livram das suas tentativas, mas nos dão a força necessária para resistir-lhes". (E. S. E., cap. XXVIII; 16).

Como nos ensina Jesus "amar ao próximo como a si mesmo". Quem comete aborto está cometendo um crime contra alguém indefeso. Ouviste que foi dito aos antigos: "Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo" (Mateus 5;21). Jesus ensinou que além de não matar, devemos fazer o bem e a caridade ao nosso semelhante. Permitir a vida é a maior de todas as caridades. Que Assim Seja!

Luz e Amor!



"Guardai-vos de menosprezar um só desses pequeninos" (Mateus, 18;10)



Um comentário:

"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.