sexta-feira, 17 de maio de 2013

Transformando a Dor em Aprendizado



Em 15-05-2015, às 7hs.

Queridos amigos, passei esses dias em angústia. Não consegui remover do meu pensamento o momento em que fui transportada para outro plano durante a Reunião Mediúnica (ver relato "Aconteceu na Reunião Mediúnica"), quando encontrei-me com o meu grande amor, desencarnado. Passei esses dias orando por ele. Desejosa que se tratasse de um Espírito zombeteiro ou malfazejo, tentando desequilibrar-me emocionalmente.

Allan Kardec pergunta aos Espíritos, Livros dos Médiuns, cap. VI, questão 14ª.: "Não poderiam os Espíritos zombeteiros tomar a aparência das pessoas que nos são caras, para nos induzirem ao erro?". O Espíritos respondem: "Somente para se divertirem  à vossa custa tomam eles aparências fantásticas. Há coisas, porém, com que não lhes é lícito brincar".

Esperei estar acometida por uma fascinação. Pensei até mesmo em retirar o Blog, esquecer as postagens, pois, tudo seria uma alucinação e logo ele me procuraria como sempre fez. Mas, não foi o que aconteceu. Liguei diversas vezes para seu número, agora fora de serviço. Então, busquei força para procurá-lo pessoalmente. No mais íntimo do meu coração sabia que já não o encontraria. Ele faleceu em 11 de Março do ano corrente. Não soube a causa, apenas que sumira do trabalho por um mês, reaparecendo amparado pela filha e vindo a  falecer dias depois.

"Voltando à vida espiritual, o Espírito reencontra a lembrança do passado" (E.S.E., cap. V; 11). O Espírito leva lembranças do que vivemos, do que fomos, do que sentimos, do que fizemos e, despertamos para o que somos, Espíritos imortais. "Todo o seu passado se desenrola diante dele, como as etapas do caminho que o viajante percorreu" (L. E. questão 308). É angustiante esse despertar quando o Espírito não está preparado para o retorno a Pátria Espiritual. Perturba-se e sofre longamente a perda do invólucro corpóreo. As sensações ainda lhe são presentes como: o frio, o calor, a fome, a sede, o sono, o cansaço, até mesmo a própria morte. E como não se perturbar estando despido de si mesmo? É mesmo perturbador ver-se sem máscaras, frente a frente consigo mesmo, sem falsas aparências.

Por isso, irmãos, faz-se necessário a reforma moral que o Cristo nos ensinou através do Evangelho. "Conhece-te a ti mesmo", somente através do conhecimento de si mesmo é possível a reforma íntima. É pelo Ensinamento de Jesus que podemos escolher e exercer o nosso livre-arbítrio: transformar a dor em sofrimento, ou , transformá-la em aprendizado. O Espiritismo vem revelar que é possível ser feliz no mundo de provas e expiações, a partir do momento em que ensina, ilumina e esclarece os Ensinamentos de Jesus. Não disse Jesus que neste mundo haveria choro e ranger de dentes para aqueles que não o conhece? Contudo, logo consola-nos: "tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jesus).

A dor é involuntária. Neste momento está doendo muito a sua partida, mas, o sofrimento é uma escolha. O sofrimento é uma das vias para o crescimento espiritual: ou se aprende pela educação ou pelo sofrimento. Os sofrimentos voluntários não servem para nada quando eles nada fazem para o bem de outrem" (L. E. questão 726). Eu não preciso viver mergulhada na angústia, nem na solidão. "A Doutrina Espírita, pelas provas patentes que dá da vida futura, da presença em torno de nós, daqueles que amamos, da continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos faculta manter com eles, nos oferece uma suprema consolação numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo, não há mais solidão, mais abandono, porquanto o homem mais isolado, tem sempre amigos perto de si, com os quais pode conversar" (L. E.). 

"A felicidade do egoísta é uma triste felicidade esta" (L. E.). É egoísmo desejar que o outro não goze de liberdade. Prender o outro ao nosso lado é manter-se preso também. É preciso romper esse vínculo que nos liga ao outro e deixar a vida fluir naturalmente. Amar é libertar-se e libertar o outro, através da aceitação e acolhimento, dando-lhe lugar no coração. Olhar para esse amor com gratidão e amor.

O Espírito almeja cumprir sua pena e seguir liberto. É como quem pagou a sua dívida e ficou quite com a justiça. Bem assim, é o Espírito. O amor de quem prende a pessoa amada para si se compara com o amor de quem  prende seu animal de estimação pela corrente. Quem ama permite que a vida da pessoa amada siga o seu curso natural. O amor de Deus é natural.

Agora é recomeçar. Recomeçar com Jesus, seguindo as diretrizes de Jesus. Mudar o caminho, preocupar-se com o desenvolvimento espiritual, motivo principal da reencarnação. A vida continua, pois que, a morte não é o fim. É preciso ter fé em Deus, acreditando na força interior da qual somos dotados. Deus é invisível, mas está junto a nós em toda parte do Universo. Vida é trabalho, e, é preciso continuar trabalhando. O Espírito não para porque a vida não se apaga, o que cessa é tão somente a vida corpórea. Ele continuará o seu trabalho em outro plano.

Eu não sei porque a Espiritualidade colocou aquela ficha em minhas mãos. Fiquei triste, pois, acreditei que, pelo meu descontrole, no momento, posso tê-lo prejudicado quando poderia tê-lo melhor amparado. Mas, como reagir diante da morte de um ente querido, ainda mais quando lhe entregam o Espírito? Não foi o corpo que me apresentaram sem vida, mas, a vida sem o corpo!

Talvez tenha sido pelo amor que nos uniu na Terra. Talvez eu o tenha ajudado mesmo sem perceber. Não sei! Sei que não serei jamais a mesma depois desta experiência. Agora eu não posso mais duvidar da existência espiritual fora da carne. Nunca mais poderei desculpar-me dizendo: "é alucinação". Parece-me agora que as responsabilidades assumidas são outras, as quais não poderei mais fugir, porque não há mais para onde fugir, enganar-me. "A quem muito foi dado, muito será pedido" (Jesus).

"A possibilidade de entrar em comunicação com os Espíritos é uma bem doce consolação, visto que ela nos proporciona o meio de conversar com nossos parentes e nossos amigos que deixaram a Terra antes de nós. Pela evocação, os aproximamos de nós, ele estão ao nosso lado, nos ouvem e nos respondem; não há, por assim dizer, mais separação entre eles e nós. Eles nos ajudam com seus conselhos, nos testemunham sua afeição e o contentamento que experimentam com nossa lembrança. É para nós uma satisfação sabê-los felizes, aprender por eles mesmos os detalhes de sua nova existência e adquirir a certeza de, por nossa vez, a eles nos reunir" (L. E. questão 935).

Ele era um homem culto, mas, não foi suficientemente inteligente para compreender que há muito mais vida em nós do que acreditamos, e sempre haverá. Agora, talvez, com a minha presença, ele possa ter reconhecido o quanto esteve equivocado ao afirmar que: " _ isso é coisa de gente sem formação". Se uma educação moral o tivesse elevado acima dos tolos preconceitos do orgulho, ele não seria apanhado de surpresa (L. E., livro IV, cap. I.). Talvez agora ele já não seja mais o mesmo, como eu também jamais voltarei a ser. A consciência uma vez desperta não tem como retroceder. Fui transportada para junto dele, em outra dimensão, para compreender a dimensão da existência Divina. 

Compreendo, hoje, através da Doutrina Espírita, que não devo fazer dessa dor um sofrimento maior, porque disso depende o seu pronto refazimento no plano espiritual. Como esclarecem os Benfeitores Espirituais: "O Espírito é sensível a lembrança e aos lamentos daqueles que amou, mas uma dor incessante e irracional o afeta penosamente, porque ele vê nessa  dor excessiva uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao progresso e, talvez, ao reencontro" (L. E. questão 936). Entre nós dois não havia o que se perdoar, pois que, o amor a tudo perdoa. É preciso deixá-lo seguir liberto, sofrer o prenderia ao meu lado e seu egresso seria um eterno pesar. 

"A paz eu vos deixo. A minha paz vos dou" (Jo 14, 27-31). Não pudemos nos despedir, dar-nos o último abraço e, esse foi o seu derradeiro desejo e o meu lamento. Eu, não sabendo de sua partida, aguardava revê-lo, buscava-o em meus pensamentos. O reencontro foi necessário para que ambos pudéssemos seguir nossos próprios caminhos. Para que ele partisse em paz, e, eu ficasse em paz. A dor foi inevitável, foi para um bem maior, pois que, Deus não a permite se não por um propósito de amor. Que Assim Seja!

Luz e Amor!

"O homem é um ser livre, que sempre poderá modificar o ponto de partida de seu agir". 

Depois de passado quinze dias, já mais confortada e lúcida, fui levada ao seu encontro, em desdobramento, pelo meu Anjo Amigo. Era uma espécie de hospital, com um enorme corredor, onde aguardávamos, não somente nós, mas outros Espíritos, o reencontro. Logo ele apareceu no corredor, sendo dirigindo a uma espécie de sala de visita ou quarto, veio acompanhado por Espíritos auxiliares, enfermeiros, que o guardava, um de cada lado e um outro em seguida. Ele veio, como sempre, muito imponente, parecia ter aumentado de tamanho, mas estava mais envelhecido, talvez sofrido. Foi conduzido até uma cadeira, ao centro da sala, e, então, foi-me permitido aproximar dele. Ele permanecia estático, com o olhar no vazio, abaixei-me próximo ao seu ouvido e disse-lhe em sussurro: "eu te amo!". Neste momento, uma lágrima caiu-lhe dos olhos. Levantei-me para seguir, quando, acompanhando-me com o olhar, perguntou-me sobre a sua filha. Ele acreditava que era ela quem havia partido. Nada pude lhe dizer. Então, retornei ao meu corpo físico, despertando com a lembrança do reencontro, muito emocionada e muito agradecida ao Divino Criador.

Luz e Amor!





"... nesses rápidos instantes que lhe arrebatam os últimos momentos da vida, o homem perdido se volta para a sua vida passada, ou melhor, ela se ergue diante dele ... Lançai-vos, pois, homens! Vós, que a ciência espírita esclareceu, lançai-vos, arrancai-o ao perigo! E, então, esse homem, que teria morrido injuriando-vos, talvez se atire nos vossos braços. Entretanto, não deves perguntar se ele o fará ou não, mas, correr em teu socorro, pois, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração que vos diz: Podeis salvá-lo, salvai-o!"
(Amar ao próximo como a si mesmo, cap. XI; 15. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.