domingo, 29 de abril de 2012

"Ver", "Perceber" e "Sentir"


 Em 24-04-2012 às 6hs e 45min.

A partir da palestra espírita ministrada pela Drª e irmã Anete Guimarães, pude, enfim, compreender o que me ensinou meu amigo espiritual, Naziembique, sobre a necessidade de distinguir o "perceber" do "sentir". Por acreditar poder ajudar alguém que ainda não tenha compreendido, pedi inspiração aos bons amigos para, a partir desta palestra, desenvolver o tema de hoje: ver, perceber e sentir. Que Deus  nos ilumine.

Quando passei por uma cirurgia espiritual, fiquei desesperada. Fui até a espiritualidade e disse-lhe que pude "sentir" cortar meu rosto. Saí da sala de cirurgia aos prantos, repetindo para mim mesma: "eles cortaram meu rosto!". Mesmo diante do espelho, vendo que não havia corte físico, sentia como se tivesse. Foi então, que Naziembique, com sua paciência e doçura, tentou me passar esses ensinamentos, eu não "senti", mas, "percebi", pois que foi realizada no meu perispírito e não no meu corpo físico. No processo obsessivo, também, costuma-se dizer "sentir" o que na verdade é a pura "percepção" do espírito. Passamos a "sentir", quando "psicossomatizamos" àquilo que "percebemos". Eis a possível causa de nossas doenças físicas e aflições.

É interessante notar como costumamos descrever não o que vemos mas como percebemos tudo à nossa volta. Chegamos a causar, algumas vezes, prejuízo a outro pela falta de fidelidade ao que supomos "ver". E como sofremos por não saber separar o que "sentimos" do que "percebemos", somatizando, assim, as dores alheias. Em outras palavras, somando ao nosso corpo o sofrimento e as dores do outro. É importante, portanto, sabermos discernir o que é "meu", está em mim, e o que é do "outro", está fora de mim, e, consequentemente, não somatizar. O que "sinto" vem do "eu espírito", o que "percebo" vem do "outro", logo, me é dado. "Sentir" pelas dores e sofrimentos do próximo, não significa "absorver" o seu sofrimento e, com isso, passar a sofrer junto. "Sentir", neste caso, é comover-se e, colocar-se pronto para ajudar.  Isso só é possível, mantendo-se o bem estar físico e psíquico, através do equilíbrio emocional e mental. Em desequilíbrio a ajuda é nula, porque "adoecemos" juntos.

Comumente, diz-se ter visto algo que está além do campo visual, ou seja, fora do alcance da nossa visão física. Segundo estudiosos, até 180º - "de uma orelha a outra". O que está além do campo visual,  não "vemos" e sim "percebemos". O perceber transcede a nossa visão física. Quando alguém mostrá-nos uma "mesa", por exemplo, e pede que a descrevamos, pautamo-nos no conceito "mesa", não descrevemos, assim, o objeto visto, com suas características próprias: espessura, dimensão, forma, etc., ao invés de descrever o objeto em si, dizemos: "estou vendo uma "mesa"". Porém, "mesa" é um "conceito" que nos foi passado, é o que cremos ser aquele objeto. Assim acontece quando dizemos de uma cadeira, de um livro ou, de um caderno. "Cadeira", "livro" e "caderno" são conceitos e não o objeto em si que enxergamos.

Não acontece de forma diferente quando tratamos das emoções e sentimentos, como: raiva, dor, alegria, tristeza, ciúme, inveja, amor, etc.. Mais uma vez, diante dessas expressões, não somos capazes de descrever o que a nossa visão física permite-nos enxergar. Ainda porque, emoções e sentimentos não são visíveis, concretos à nossa visão, e mesmo assim, acreditamos "ver". Sentimos as emoções, ou as percebemos no outro, porém, não as vemos, também são conceitos nos dados. Trazemos, desde que nascemos, registradas em nosso perispírito, todas essas emoções, porque já as vivenciamos em algum momento de nossas existências pretéritas, apenas, a desenvolvemos com maior ou menor grau de intensidade, durante a nossa existência terrena.

Anete Guimarães, em sua palestra, deu um exemplo muito interessante sobre isso e vou utilizá-lo à exemplo: "Uma pessoa entra correndo e gritando em casa, do outro lado da rua, alguém observava e descreve: "eu vi um homem entrar correndo, estava furioso, gritava com muita raiva, virou-se rapidamente, pegou a faca e esfaqueou a mulher". Você viu isso? Responde: sim". Na verdade a pessoa não descreveu o que "viu", mas o que "percebeu". Ele estava furioso? Gritava com muita raiva? Como "ver" a raiva sendo a raiva uma emoção? O "gritar" é uma expressão do sentimento. "O homem entrou correndo em casa porque estava com forte dor de barriga, ficou desesperado pois havia alguém no banheiro, voltou, viu na mesa uma faca, pegou a faca, virou-se e gritou quem a deixou ali. Neste momento, tropeçou com a faca na mão e caiu sobre a mulher". O homem esfaqueou a mulher com raiva? Não. O que levou, então, alguém acreditar que o homem estivesse furioso e por isso esfaqueado a mulher? A visão? Não, mas sim a percepção.

A percepção é a faculdade de "formar perfeita  idéia de" ("perceber"). Logo, são conceitos, são os significados dados ao que acreditamos ser. "O homem entrou correndo, voltou, pegou a faca na mesa, virou-se, estava gritando, tropeçou e, caiu em cima da mulher", foi tão somente o que se "viu" no cenário. A raiva e a fúria, foi uma interpretação dada aos fatos. Logo, muitas vezes, fazemos interpretações não perfeitas do que está fora de nossos sentidos. Distorcemos os fatos acreditando que somos capazes de ver o que foge ao nosso campo visual. Daí a necessidade de mudar os nossos "conceitos", as nossas "crenças", sobre o que nos é passado e, consequentemente, tomado como verdade.

O prejuízo não está no que se percebe, mas, na interpretação que é dada ao que se percebe, devido aos conceitos pré-existentes, que muitas vezes, nem nos damos conta existirem. Dizer, por exemplo, cabelo "bom" e cabelo "ruím". "Bom" e "ruím" são subjetivos, neste caso, "pré-conceito" que vem da suposta supremacia da "raça ariana", denominda como "pura" (boa), sobre as demais raças denominadas "não puras" (ruíns). Os brancos seriam "bons", os negros seriam "ruíns". Não existe, portanto, cabelo "bom" ou cabelo "ruím". Existe sim, cabelo liso e cabelo crespo. Bem como, "raça" também não existe, é uma construção social. Existem pessoas distintas com características peculiar, que não lhes dá a qualidade de "boas" ou "más".

O objeto "mesa" pode significar mesa (enquanto conceito) em uma determinada cultura, em outra, o objeto referido pode constituir uma nova significação. Os símbolos são "ressignificados" de tempo em tempo, de cultura em cultura. As emoções e sentimentos, como símbolos, podem também se constituir em um novo conceito numa outra civilização, ou, em um outro tempo. Observamos esses "ressignificados" no próprio Evangelho. O que se conceituava "ódio", por exemplo, naquele tempo, hoje, tomou um novo significado. Bem como: "gênios" (demônio), "câmelo" (animal), entre outras expressões, adquirem novos significados nos dias atuais, em culturas distintas. Por isso, o Mestre supremo, Jesus Cristo, alertá-nos de olhar tudo no seu tempo.

O médium não "vê" e nem "sente" o sofrimento, nem as dores, nem a raiva do espírito comunicante. O médium as "percebe". "Perceber" não é "sentir" muito menos "ver". O "sentir" está no próprio médium ("eu espírito"). O "perceber" vem do "outro", do espírito comunicante. O médium forma, pelo sentido, a idéia sobre o "outro". Para "sentir", neste caso, é necessário "somatizar", então, o médium está absorvendo, tomando para si a energia de "outro". O médium não deve, na medida do possível, somatizar, tomar para seu corpo o que lhe é alheio, pois ira intensificar o que já está registrado no seu períspirito, causando-lhe danos tanto físicos quanto psíquicos.

Assim sendo, o médium deve "perceber" a comunicação, separar o "eu" do "outro", permitir ou não a comunicação, evitando "psicossomatizar". Em outras palavras, evitar tomar para si, as dores e os sofrimentos percebidos no "outro". Lembrando que médiuns somos todos, em maior ou menor grau, desde que temos a "percepção" inata, apenas a desenvolvemos. A acuidade visual é adquirida. O "cego" não pode ver, pois não tem a visão física, mas tem a percepção, muitas vezes, bem mais desenvolvida do que àquele que enxerga. Dizem que "o "cego" enxerga com os olhos da alma". Muitos há, que tendo visão não enxergam, olham mas não vêem, e vendo não compreendem, porque a alma não lhes é desenolvida. Assim Seja!

Luz e Amor!



"E chegando-se a ele os discípulos lhe disseram: Por que razão lhes fala por parábolas? Ele respondendo, lhes disse: Porque a vós outro vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque aos que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas aos que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso é que eu lhes falo em parábolas; porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós ouvireis com os ouvidos, e não entendereis; e vereis com os olhos, e não vereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e eu os sare" (Mateus, XIII; 10-15).
(Não Por a Candeia Debaixo do Alqueire, cap. XXIV; 3. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.