terça-feira, 9 de junho de 2015

O BEM É AQUILO QUE NOS FAZ SENTIR BEM



Em 08/06/2015; às 22:00 hs

Enquanto aguardo a próxima etapa do meu tratamento de reconstrução facial, já agendada para meado deste ano, resolvi passar alguns dias em companhia da minha família. Fiquei com minha filha alguns dias, e depois com minha mãe, irmã e sobrinhos. O acolhimento foi muito caloroso, contudo, não passei muito bem.

Estou vivendo um processo de reabilitação. Senti um enorme "estranhamento" após as cirurgias de face, fiquei realmente muito perturbada, emocionalmente fragilizada. Foram muitas as mudanças, cheguei a me perder de mim mesma. Desejei até mesmo resgatar um tempo que já não existe mais - os meus dezenove anos, que já vai bem longe..."tão longe, de mim distante, onde irá, onde irá meu pensamento...". Eu reconstruí a face mutilada, porém, não me encontrava mais nela. Eu voltei a parecer com a Lena, na plenitude de sua juventude, mas não mais a reconhecia dentro de mim.

Eu tentei voltar ao passado e resgatá-la. Então, viajei para tempos distantes buscando encontrá-la, mas ela já não estava mais ali, e, eu chorei desesperadamente... Entrei num sofrimento tão profundo, porque eu não percebia o quanto era profunda a mutilação, que de tão profunda, cirurgia alguma poderia me trazer de volta.

Busquei o velho álbum de fotografias. Cortei os cabelos como alucinada, (TOC - Transtorno Obssessivo Compulsivo). Eu queria achá-la de qualquer forma. Colori os cabelos, ela precisava voltar! Então, para quê cirurgia de reconstrução, se nada mais há o que reconstruir? Passou... A vida passou e eu estava presa no tempo, esperando o dia de voltar a existir em uma existência que já não mais me pertencia.

Não tenho sentido vontade de nada, encontro-me atônita. O espelho tornou-se meu inimigo número hum. Ele revela uma imagem fantasmagórica, já que eu não estou mais ali. É como a casca do ovo sem a clara e sem a gema, vazia. Cada vez que olho-me no espelho, sinto-me apenas uma fotografia apagada pelo tempo. Uma fotografia que revela muitas lembranças, mas, apenas, uma fotografia. O conflito agora é preencher o vazio que tomou o lugar do meu Ser. É me posicionar novamente no mundo, já que eu não sou mais ela, apesar do rosto reconstruído. É o meu próprio reconhecimento. 

Por este motivo, não passei bem, nem mesmo junto à minha família, ainda com todo acolhimento, sinto-me sangrando. Na verdade, eu só aceitei passar estes dias junto a ela, somente para agradá-la. Eu queria mostrar que estava bem, mesmo porque, Deus tem revelado sua misericórdia sobre mim, que não me permito ficar triste, lastimar. Procuro pensar, apenas, o que Ele quer que eu faça com tudo isto. Acredito que quando não estamos felizes, é porque estamos fazendo algo de errado. O bem é aquilo que nos faz sentir bem. O bem não é agradar ao outro, mas é ser autêntico. E, eu não podia ser eu mesma naquele momento, porque nem mesmo sei mais quem eu sou. Sinto-me um passarinho fora do ninho.

Hoje, ocorreu-me a lembrança da minha tentativa de suicídio. Quando já estava para descer o "Vale dos Suicidas" e fui resgatada, e que meu Anjo Protetor, estendendo-me a mão, disse-me: " _ Deus tem algo de muito bom reservado pra você, sua missão não acabou ainda". Então, aceitando a mão estendida, retirei-me daquele lugar de sofrimento eterno e retornei à vida.

Compreendo que Deus nunca desiste de nós, até no instante que poderia significar o último, Ele oferece ainda a mão estendida e, dá-nos a oportunidade de abraçar a vida e seguir em frente. Se Deus não desiste de nós, então, porque desistir de si mesmo? É como se hoje, meu Mentor estivesse me repetindo aquelas mesmas palavras, com a mão estendida, convidando-me novamente para a vida. "Todos podem estende-lhe as mãos, mas só você pode se retirar do abismo".

Autoestima significa "estimar a si mesmo". Neste estágio em que me encontro, sei que é passageiro, não consigo ainda interagir com o que vejo ou sinto da vida que ficou. Como interagir com o vazio, se interação é troca? Estou aguardando finalizar o processo de reconstrução, pois, neste momento, nada posso fazer a não ser esperar que o tempo me aponte o caminho.

Enquanto aguardo, vou pensando como sair dessa situação em que me coloquei, pois, se me coloquei também posso me retirar. Enquanto a gente não se retira da situação de vítima, a gente não caminha, não muda nada. Analisar o que fazer das decisões já tomadas, já que não existe decisão certa ou errada, mas, necessária para o nosso desenvolvimento, e, enfim, sentir-me bem. Viver bem é, acima de tudo, uma sincera decisão interior! Que Assim Seja!

Luz e Amor!




"Abri, pois, vossos ouvidos e vossos corações, meus bem-amados! Cultivai esta árvore da vida, cujos frutos proporcionam a vida eterna. Aquele que a plantou vos convida a cuidá-la com amor, que ainda a vereis dar com abundância os seus frutos divinos. Deixai-a assim como o Cristo vo-la deu: não mutileis. Sua sombra imensa quer estender-se por todo o universo; não lhe corteis a ramagens. Seus frutos generosos caem em abundância, para alentar o viajor cansado, que deseja chegar ao seu destino.. Não os amontoeis, para guardá-los e deixá-los apodrecer, sem servirem a ninguém. "São muitos os chamados e poucos os escolhidos""

(Muitos os Chamados e Poucos os Escolhidos, cap. XVIII; 16. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.