quarta-feira, 22 de maio de 2013

Filho do Aborto

Em 17-05-2013, às 14hs.


"Eu queria que ela me amasse. Eu queria comer farinha com açúcar na merenda, mas, queria que ela me amasse".

Comunicação recebida em 16-12-2012, no Encontro de Médiuns e Doutrinadores, em Itacimirim, da Casa do Caminho. Caminhávamos na praia, conversando sobre nossas vidas, conhecendo-nos. De repente, quando contava sobre a minha infância difícil, mais feliz, ele tomou-me por impulso, em prantos, revelou a sua dor e ódio por não ter podido vivenciar dessa mesma felicidade, ainda que só havendo farinha com açúcar na merenda.

Em 10-12-2012, às 08hs

Estou afônica há sete dias. Voz tremula, carne  tremula, como se ansiosa e temerosa. Não sei o motivo. Passei muito mal, uma dor de cabeça insuportável, náuseas, calafrios. A nuca, os ombros, tudo dói em mim. As pernas parecem fracas não suportando o peso do meu corpo. Faltou-me o ar por diversas vezes. Sinto-me desfalecer. Oro, chamo pelos Bons Amigos Espirituais. Esta noite pude percebê-los à minha volta, a cuidar de mim. Então, adormeci. Acordei sem dores, mas ainda tremula e afônica. Uma vontade imensa de chorar! Continuo a orar a Deus. Entreguei-me a produção de pirulitos de chocolate, meu sustento material.

ADM esteve comigo toda esta semana. Fiquei feliz com a sua presença em minha casa. Mas, ainda não sinto pureza de coração em suas palavras. Vivemos uma existência como "cão e gato". Percebo seu esforço em aceitar-me e já reconheço a minha responsabilidade nesse processo. Penso que se eu fosse suficientemente boa, não traria sentimentos e percepções malévolas tão fortes contra ela, dentro de mim. 

"Mães! Abraçai, pois, a criança que vos causa aborrecimentos e dizei para vós mesmas: "uma de nós duas foi culpada" (E. S. E. cap. XIV; 9).

Se havia perturbações e dores antes, com sua presença, duplicaram-se. Recorri ao Evangelho no Lar, é muito bom convidar Jesus para está conosco nessas horas de aflição: "Vinde a mim todos vós que estais cansados e aflitos, e eu vos aliviarei" (Jesus). ADM aceitou participar e pediu-me um Evangelho Segundo o Espiritismo, pois, gostou das instruções  que os Espíritos oferecem-nos. O tema estudado foi "Honra o teu pai e a tua mãe", capítulo XIV; 9. Após o Evangelho, pediu-me para falar sobre o que há muito lhe angustiava - os abortos que praticara. Disse-me que foi movida pelo desespero e pela ignorância. Confessou-se arrependida, não sabia da gravidade de seus atos. Revelou acreditar que todo o seu sofrimento, a perda do último filho que gerou e que partiu logo ao nascer, tudo tenha sido um castigo de Deus pelos crimes que cometeu. 

Confortei-a dizendo: "Então, Deus não seria soberanamente bom e justo, e misericordioso. Deus compreende os nossos atos, não ama o pecado, mas, ama sua criaturas e as perdoa sempre, jamais repelindo os que o procuram em arrependimento. O que não nos isenta de nossas responsabilidades. Para voltar completamente à graça do Senhor, é voltar-se agora para o bem evitando o mal e, sobretudo, reparar o mal que se fez".

O perdão das ofensas é ensinamento que devemos seguir. Não existe castigo para Deus, existe aprendizado. O sofrimento é um aprendizado, desperta-nos o arrependimento e inspira-nos a reparação de nossas faltas. Isso é progresso espiritual. Perguntou-me: "E quanto aos meus filhos?" Disse-lhe: "Eles já lhe perdoaram. Agora é preciso perdoar-se. O auto perdão é a cura da nossa alma, é reconhecer-se humano, imperfeito, é ser benevolente consigo mesmo". O remorso é a maior causa da depressão, remete sempre as nossas culpas. "Se há remorso é porque houve delinquência" (E. S. E.). Encerramos o Evangelho do Lar com a oração do perdão.

Retomei o meu trabalho quando fui tomada de surpresa. Num efeito dominó, meus pirulitos começaram a se quebrar, um por um, diante dos meus olhos. Parte do meu trabalho jogado fora! Meu coração acelerou. Busquei respirar e contornar a situação. ADM veio correndo, justificando-se: "não fui eu!". Não permiti que se sentisse culpada. É constante a manifestação de efeitos físicos quando na sua presença. Na noite anterior foi a interrupção de energia. As luzes começaram a acender e a apagar rapidamente, parecendo que todos os eletrodomésticos iriam queimar. Um "blecault" súbito, sem causas aparentes, sem que nada fosse verificado nas instalações elétricas internas que justificasse o "apagão" somente na minha casa. Foi quando percebi a presença de um irmão sofredor. Orei, mais uma vez, orei. A impressão permaneceu.

Então, fomos dormir. Acomodei-a em seu quarto e fui para o meu. Na passagem para o quarto tive a nítida impressão de ter alguém no sofá da sala. Meu coração disparou e uma sensação de angustia fez-me voltar para a sala. Lá estava ele, largado no meu sofá, e, mentalmente disse-me: "Não fale por mim, eu não a perdoo!". Respirei profundamente e entrei para o quarto, em oração. Compreendi que ele houvera participado atentamente do nosso Evangelho no Lar. No dia seguinte, o serviço de energia constatou que uma das "fases" externa (no alto do poste) fora desconectada, só não soube como alguém teria feito. Semana depois, ADM retornou para sua casa. Tudo parecia calmo, até o Encontro em Itacimirim.

ADM, há poucos dias, perturbada, tentou suicídio. Voltou para minha casa. Hoje, está em tratamento no Centro Espírita. Porém, ele, o "filho do aborto", manifestou-se mais uma vez, durante o Evangelho no Lar. Novamente a mensagem trazida foi "Honra o teu pai e a tua mãe", capítulo XIV; 9. Ela começou a sentir-se mal, acometida por uma forte dor de cabeça. Não conseguiu terminar a leitura, chorava estremecida, debruçada sobre a mesa. Orei com toda força da minha fé. Roguei a Jesus a presença de nossos Benfeitores Espirituais. Então, percebi a presença dele, seu voraz obsessor. Ele estava a apertar-lhe a cabeça, perguntando: "o que fizeste da criança que eu vos confiei?". ADM, em grande aflição, pediu-me para encerrarmos o Evangelho. Segurei sua mão firme e impulsionada por uma voz íntima, pus-me a rezar. Conseguimos, assim, terminar o Evangelho no Lar. Percebi, naquele momento, que os Amigos Espirituais presentes o conduziram para tratamento no plano espiritual.

Ela atirou-se na cama em prantos, tomada por uma dor imensa no olho e no lado direito da face. Começou a vomitar muito, e, eu, comecei a contorcer-me de cólicas, parecia estar abortando. Liguei imediatamente para um irmão da Casa Espírita, para o socorro imediato. Obsessão! Um verdadeiro tormento da obsessão! Paramos na emergência de um Hospital, onde nenhum mal orgânico foi diagnosticado. Todos sinais vitais de ADM estavam completamente normais: batimentos cardíaco, pressão arterial, exame sanguíneo, nada que justificasse tamanha dor física. O sofrimento que lhe acometera era de causa moral. A culpa surgiu e cresceu em seu mundo íntimo a partir do ato abortivo.




"Sabe o filho que ela arrancou uma vez do ventre da tia que a persegue? (ver "Relato de um obsessor") Sou o mesmo que ela arrancou do próprio ventre, não me permitindo, por duas existências, nascer. Duas vezes, homicídio! Aborto é homicídio".  

Ele, agora vagueia na escuridão movido pelo ódio e vingança: "o que fizeste da criança que eu vos confiei?". Ela, o remorso atormenta agora a sua alma insana e, ele aproveita de todos esses momentos para torturá-la mais e mais:  

"Ela me colocou num abismo. Por culpa dela conheci as trevas, jamais vi a luz, porque ela não me permitiu. Por duas vezes ela ceifou minha vida. Não, eu não a perdoo" (Filho do Aborto, em 03-05-2013).

De acordo com o "Livro dos Espíritos", a união da alma ao corpo começa na fecundação e completa-se na ocasião do nascimento. Neste caso específico, são duas encarnações que não se completou. Por duas vezes, ela (gestante) fugiu a responsabilidade assumida com esse irmão, que por sua negação, tornou-se um Espírito endurecido.  É um tormento muito grande para o Espírito, não poder reencarnar, não poder evoluir. A encarnação é a oportunidade que Deus oferece para ajudar o Espírito a se melhorar. A gravidez, assim, é sinal de que foi dada a um Espírito a oportunidade de reencarnar na Terra para essa evolução e resgate de suas dívidas pretéritas. A reencarnação é também uma oportunidade para os pais de evoluir e quitar dívidas perante a vida. A gravidez, mesmo indesejável, nunca acontece por um acaso, como nada é casual no Universo, pois que, Deus é Inteligência Suprema e nada permite sem um propósito.

O aborto é o rompimento desse contrato com a Lei do Amor. É frustrar o direito a reencarnar de cada Espírito necessitado de evoluir, objetivo maior da reencarnação. O aborto se constitui, assim, em transgressão a Lei Divina. Quando reencarnamos esquecemos dos compromissos assumidos na Pátria Espiritual e, por isso, muitas vezes, interrompe-se contratos de vidas. O Espírito sendo mais evoluído é capaz  de perdoar e trabalhar pelo amor. Porém, aquele que não conseguiu atingir esse estágio evolutivo, dificilmente consegue perdoar, e, cada vez mais, atira-se nas trevas do ódio e da vingança, tornando-se um algoz ferrenho. Em regra, no plano de provas e expiações, a reencarnação se dá quando o Espírito já não consegue ser feliz. Levado pelo atraso evolutivo que ainda carrega consigo pelo aborto, nasce o desespero. Estando infeliz no mundo Espiritual passa a perseguir,  com ódio e desejo de vingança, a mãe e todos os responsáveis na interrupção de seu nascimento.

O aborto é por isso considerado uma das causas invisíveis de certas doenças e, acima de tudo, das obsessões conhecidas na patologia mental. Somente a desobsessão para doutriná-lo e ensiná-lo o perdão, fazendo-o compreender que terá outras oportunidades de existência, pois que, Deus é soberanamente bom e justo, dando a cada um segundo as suas obras. O Espiritismo, através do despertar da consciência, mostra o caminho que nos convém e nos leva a compreensão das patologias no corpo físico, bem como, o esgotamento das energias perispirituais desestruturadas, contribuindo para a paz com a própria consciência.

Ele, hoje, está no Centro Espírita Casa do Caminho, onde trabalho. Ainda não suporta a presença de ADM, mas, com o auxílio dos Benfeitores, e de todo o amor e compreensão que estamos lhe dispensando, já compreende sua condição de Espírito e da necessidade de ficar bem para reencarnar em outra oportunidade. Há outras maneiras de evoluir na Pátria Espiritual, através do trabalho para o bem. Afinal, são tantos os sofredores! Ele ainda não a perdoou, o que é compreensível após longos anos de sofrimento. Mas, já o sinto mais calmo.

Choramos juntos na publicação deste relato. Sei que para ele "honrar pai e mãe" na condição a que foi submetido é quase impossível, de imediato, já que somos todos, por natureza, imediatista. Além do que, no seu entendimento, assim, como no meu, "honrar pai e mãe" é ser-lhes gratos pela existência terrena, o que não lhe sucedeu. A vida é o bem maior, por isso estaremos sempre "abaixo" de nossos pais. Seremos sempre seus devedores por que nunca poderemos lhe retribuir a vida em vida. Contudo, "honrar pai e mãe" é respeitá-los, saber que são humanos, sujeitos a faltas, independente de suas condições de genitores. Não nos cabe julgá-los e, sim, amá-los como irmãos que somos. Os pais também são nossos irmãos em Cristo. "Amar ao próximo como a si mesmo, em seu próprio sangue na multiplicação da vida". Destruí-los por meio de vingança seria cometer os mesmos erros que ora condenamos, seria também derramar o sangue que multiplica a vida.

Os problemas emocionais gerados pelo aborto são muito graves, tanto para o Espírito que teve a vida ceifada por esse ato criminoso, muitas vezes, motivado pelo desespero e ignorância, quanto para a mãe, que sofrerá longos anos os efeitos do seu ato, em remorso e arrependimento. "O aborto é um verdadeiro genocídio que se perpetra contra milhões de pessoas não nascidas sem qualquer possibilidade de defesa" (ZIMMERMAMN, 1999).

O aborto não é uma "solução fácil", mas, um problema grave. O aborto é um ato agressivo que repercutirá continuamente na vida daquela mãe. É o que os especialistas chamam de "síndrome pós-aborto". Muito dificilmente a mulher esquecerá o trauma sofrido. São observados nessas mulheres, através de estudos: "depressão, tendências suicidas, abuso de drogas e álcool, demonstrando que é o aborto e não a gravidez que causam problemas mentais" (SPRINGFIELD, 2006). Segundo esses especialistas, as mães tentam ignorar os efeitos do abordo e só mais tarde esses efeitos se manifestam, quase sempre em problema emocionais sem solução (Manifesto contra o aborto - AMERGS (Associação dos Médicos Espíritas do Rio Grande do Sul), publicado em 25/03/2013).

Segundo a Doutrina Espírita, o reparo só é possível através da reforma moral do obsedado. Tornar-se melhor para que o outro que o espreita possa aprender a respeitá-lo. Essa é uma condição imprescindível para a desobsessão - transformação moral. Colocar-se como vítima e persistir nos erros somente aumenta o desprezo daquele que o persegue, tornando-o ainda mais incrédulo da misericórdia Divina, e, o não crer na misericórdia Divina, levá-o a buscar fazer justiça com as próprias mãos. Faz-se necessário que o obsedado contribua para esse trabalho, não se isentando de suas responsabilidades. "Os maus Espíritos só estão aonde podem satisfazer a sua perversidade. Para afastá-los, não basta pedir, nem mesmo ordenar que se retirem: é necessário eliminar em nós aquilo que os atrai. As boas qualidades do coração nem sempre nos livram das suas tentativas, mas nos dão a força necessária para resistir-lhes". (E. S. E., cap. XXVIII; 16).

Como nos ensina Jesus "amar ao próximo como a si mesmo". Quem comete aborto está cometendo um crime contra alguém indefeso. Ouviste que foi dito aos antigos: "Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo" (Mateus 5;21). Jesus ensinou que além de não matar, devemos fazer o bem e a caridade ao nosso semelhante. Permitir a vida é a maior de todas as caridades. Que Assim Seja!

Luz e Amor!



"Guardai-vos de menosprezar um só desses pequeninos" (Mateus, 18;10)



sexta-feira, 17 de maio de 2013

Transformando a Dor em Aprendizado



Em 15-05-2015, às 7hs.

Queridos amigos, passei esses dias em angústia. Não consegui remover do meu pensamento o momento em que fui transportada para outro plano durante a Reunião Mediúnica (ver relato "Aconteceu na Reunião Mediúnica"), quando encontrei-me com o meu grande amor, desencarnado. Passei esses dias orando por ele. Desejosa que se tratasse de um Espírito zombeteiro ou malfazejo, tentando desequilibrar-me emocionalmente.

Allan Kardec pergunta aos Espíritos, Livros dos Médiuns, cap. VI, questão 14ª.: "Não poderiam os Espíritos zombeteiros tomar a aparência das pessoas que nos são caras, para nos induzirem ao erro?". O Espíritos respondem: "Somente para se divertirem  à vossa custa tomam eles aparências fantásticas. Há coisas, porém, com que não lhes é lícito brincar".

Esperei estar acometida por uma fascinação. Pensei até mesmo em retirar o Blog, esquecer as postagens, pois, tudo seria uma alucinação e logo ele me procuraria como sempre fez. Mas, não foi o que aconteceu. Liguei diversas vezes para seu número, agora fora de serviço. Então, busquei força para procurá-lo pessoalmente. No mais íntimo do meu coração sabia que já não o encontraria. Ele faleceu em 11 de Março do ano corrente. Não soube a causa, apenas que sumira do trabalho por um mês, reaparecendo amparado pela filha e vindo a  falecer dias depois.

"Voltando à vida espiritual, o Espírito reencontra a lembrança do passado" (E.S.E., cap. V; 11). O Espírito leva lembranças do que vivemos, do que fomos, do que sentimos, do que fizemos e, despertamos para o que somos, Espíritos imortais. "Todo o seu passado se desenrola diante dele, como as etapas do caminho que o viajante percorreu" (L. E. questão 308). É angustiante esse despertar quando o Espírito não está preparado para o retorno a Pátria Espiritual. Perturba-se e sofre longamente a perda do invólucro corpóreo. As sensações ainda lhe são presentes como: o frio, o calor, a fome, a sede, o sono, o cansaço, até mesmo a própria morte. E como não se perturbar estando despido de si mesmo? É mesmo perturbador ver-se sem máscaras, frente a frente consigo mesmo, sem falsas aparências.

Por isso, irmãos, faz-se necessário a reforma moral que o Cristo nos ensinou através do Evangelho. "Conhece-te a ti mesmo", somente através do conhecimento de si mesmo é possível a reforma íntima. É pelo Ensinamento de Jesus que podemos escolher e exercer o nosso livre-arbítrio: transformar a dor em sofrimento, ou , transformá-la em aprendizado. O Espiritismo vem revelar que é possível ser feliz no mundo de provas e expiações, a partir do momento em que ensina, ilumina e esclarece os Ensinamentos de Jesus. Não disse Jesus que neste mundo haveria choro e ranger de dentes para aqueles que não o conhece? Contudo, logo consola-nos: "tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jesus).

A dor é involuntária. Neste momento está doendo muito a sua partida, mas, o sofrimento é uma escolha. O sofrimento é uma das vias para o crescimento espiritual: ou se aprende pela educação ou pelo sofrimento. Os sofrimentos voluntários não servem para nada quando eles nada fazem para o bem de outrem" (L. E. questão 726). Eu não preciso viver mergulhada na angústia, nem na solidão. "A Doutrina Espírita, pelas provas patentes que dá da vida futura, da presença em torno de nós, daqueles que amamos, da continuidade da sua afeição e da sua solicitude, pelas relações que nos faculta manter com eles, nos oferece uma suprema consolação numa das causas mais legítimas de dor. Com o Espiritismo, não há mais solidão, mais abandono, porquanto o homem mais isolado, tem sempre amigos perto de si, com os quais pode conversar" (L. E.). 

"A felicidade do egoísta é uma triste felicidade esta" (L. E.). É egoísmo desejar que o outro não goze de liberdade. Prender o outro ao nosso lado é manter-se preso também. É preciso romper esse vínculo que nos liga ao outro e deixar a vida fluir naturalmente. Amar é libertar-se e libertar o outro, através da aceitação e acolhimento, dando-lhe lugar no coração. Olhar para esse amor com gratidão e amor.

O Espírito almeja cumprir sua pena e seguir liberto. É como quem pagou a sua dívida e ficou quite com a justiça. Bem assim, é o Espírito. O amor de quem prende a pessoa amada para si se compara com o amor de quem  prende seu animal de estimação pela corrente. Quem ama permite que a vida da pessoa amada siga o seu curso natural. O amor de Deus é natural.

Agora é recomeçar. Recomeçar com Jesus, seguindo as diretrizes de Jesus. Mudar o caminho, preocupar-se com o desenvolvimento espiritual, motivo principal da reencarnação. A vida continua, pois que, a morte não é o fim. É preciso ter fé em Deus, acreditando na força interior da qual somos dotados. Deus é invisível, mas está junto a nós em toda parte do Universo. Vida é trabalho, e, é preciso continuar trabalhando. O Espírito não para porque a vida não se apaga, o que cessa é tão somente a vida corpórea. Ele continuará o seu trabalho em outro plano.

Eu não sei porque a Espiritualidade colocou aquela ficha em minhas mãos. Fiquei triste, pois, acreditei que, pelo meu descontrole, no momento, posso tê-lo prejudicado quando poderia tê-lo melhor amparado. Mas, como reagir diante da morte de um ente querido, ainda mais quando lhe entregam o Espírito? Não foi o corpo que me apresentaram sem vida, mas, a vida sem o corpo!

Talvez tenha sido pelo amor que nos uniu na Terra. Talvez eu o tenha ajudado mesmo sem perceber. Não sei! Sei que não serei jamais a mesma depois desta experiência. Agora eu não posso mais duvidar da existência espiritual fora da carne. Nunca mais poderei desculpar-me dizendo: "é alucinação". Parece-me agora que as responsabilidades assumidas são outras, as quais não poderei mais fugir, porque não há mais para onde fugir, enganar-me. "A quem muito foi dado, muito será pedido" (Jesus).

"A possibilidade de entrar em comunicação com os Espíritos é uma bem doce consolação, visto que ela nos proporciona o meio de conversar com nossos parentes e nossos amigos que deixaram a Terra antes de nós. Pela evocação, os aproximamos de nós, ele estão ao nosso lado, nos ouvem e nos respondem; não há, por assim dizer, mais separação entre eles e nós. Eles nos ajudam com seus conselhos, nos testemunham sua afeição e o contentamento que experimentam com nossa lembrança. É para nós uma satisfação sabê-los felizes, aprender por eles mesmos os detalhes de sua nova existência e adquirir a certeza de, por nossa vez, a eles nos reunir" (L. E. questão 935).

Ele era um homem culto, mas, não foi suficientemente inteligente para compreender que há muito mais vida em nós do que acreditamos, e sempre haverá. Agora, talvez, com a minha presença, ele possa ter reconhecido o quanto esteve equivocado ao afirmar que: " _ isso é coisa de gente sem formação". Se uma educação moral o tivesse elevado acima dos tolos preconceitos do orgulho, ele não seria apanhado de surpresa (L. E., livro IV, cap. I.). Talvez agora ele já não seja mais o mesmo, como eu também jamais voltarei a ser. A consciência uma vez desperta não tem como retroceder. Fui transportada para junto dele, em outra dimensão, para compreender a dimensão da existência Divina. 

Compreendo, hoje, através da Doutrina Espírita, que não devo fazer dessa dor um sofrimento maior, porque disso depende o seu pronto refazimento no plano espiritual. Como esclarecem os Benfeitores Espirituais: "O Espírito é sensível a lembrança e aos lamentos daqueles que amou, mas uma dor incessante e irracional o afeta penosamente, porque ele vê nessa  dor excessiva uma falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao progresso e, talvez, ao reencontro" (L. E. questão 936). Entre nós dois não havia o que se perdoar, pois que, o amor a tudo perdoa. É preciso deixá-lo seguir liberto, sofrer o prenderia ao meu lado e seu egresso seria um eterno pesar. 

"A paz eu vos deixo. A minha paz vos dou" (Jo 14, 27-31). Não pudemos nos despedir, dar-nos o último abraço e, esse foi o seu derradeiro desejo e o meu lamento. Eu, não sabendo de sua partida, aguardava revê-lo, buscava-o em meus pensamentos. O reencontro foi necessário para que ambos pudéssemos seguir nossos próprios caminhos. Para que ele partisse em paz, e, eu ficasse em paz. A dor foi inevitável, foi para um bem maior, pois que, Deus não a permite se não por um propósito de amor. Que Assim Seja!

Luz e Amor!

"O homem é um ser livre, que sempre poderá modificar o ponto de partida de seu agir". 

Depois de passado quinze dias, já mais confortada e lúcida, fui levada ao seu encontro, em desdobramento, pelo meu Anjo Amigo. Era uma espécie de hospital, com um enorme corredor, onde aguardávamos, não somente nós, mas outros Espíritos, o reencontro. Logo ele apareceu no corredor, sendo dirigindo a uma espécie de sala de visita ou quarto, veio acompanhado por Espíritos auxiliares, enfermeiros, que o guardava, um de cada lado e um outro em seguida. Ele veio, como sempre, muito imponente, parecia ter aumentado de tamanho, mas estava mais envelhecido, talvez sofrido. Foi conduzido até uma cadeira, ao centro da sala, e, então, foi-me permitido aproximar dele. Ele permanecia estático, com o olhar no vazio, abaixei-me próximo ao seu ouvido e disse-lhe em sussurro: "eu te amo!". Neste momento, uma lágrima caiu-lhe dos olhos. Levantei-me para seguir, quando, acompanhando-me com o olhar, perguntou-me sobre a sua filha. Ele acreditava que era ela quem havia partido. Nada pude lhe dizer. Então, retornei ao meu corpo físico, despertando com a lembrança do reencontro, muito emocionada e muito agradecida ao Divino Criador.

Luz e Amor!





"... nesses rápidos instantes que lhe arrebatam os últimos momentos da vida, o homem perdido se volta para a sua vida passada, ou melhor, ela se ergue diante dele ... Lançai-vos, pois, homens! Vós, que a ciência espírita esclareceu, lançai-vos, arrancai-o ao perigo! E, então, esse homem, que teria morrido injuriando-vos, talvez se atire nos vossos braços. Entretanto, não deves perguntar se ele o fará ou não, mas, correr em teu socorro, pois, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração que vos diz: Podeis salvá-lo, salvai-o!"
(Amar ao próximo como a si mesmo, cap. XI; 15. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

sábado, 4 de maio de 2013

Isolar-se é não permitir a vida


Em 14-03-2013, às 01hs 20 min.

"A senhora não tem nada que possa pagar o meu indulto?". Acordei. Escuto sons quem vem de dentro de mim. Romper de tambores e batida de pés tum ... tum ... tum .... Não há nenhum outro som no espaço vazio da minha mente. Levanto-me, o som desaparece. Em vigília, reaparece. Então, volto ao sonho, o lugar em que me encontro agora é isolado, no meio do mato. Não há iluminação, é um ambiente sombrio. Limpo o canto da parede do quarto, entre o armário. Passo a vassoura em uma teia de aranhas, que pulam sobre mim. Eu grito desesperadamente que as tirem. Vejo-me envolvida por suas teias. Eram aranhas marrons, pude vê-las nitidamente. Acordei apavorada, então, disseram-me: "trata-se de Espíritos misantropos". Fiquei confusa no momento: "espíritos que tomam para si formas de bichos?". Não, seria zoantropia. Recorri ao Livro dos Médiuns (Allan Kardec, cap. IX, questão 132), os Espíritos misantropos são os que vivem isolados, preferindo a solidão.

Eu, sem perceber, estava frequentemente isolando-me. Irritava-me a multidão, causava-me um certo "pânico", uma "fobia". Lembro-me, já na adolescência, em meio aos tormentos da obsessão, por não saber controlar a fúria que me tomava repentinamente, trancava-me no vão da dispensa da casa, onde eu mesma me torturava, não só psicologicamente, bem como, fisicamente, batendo com a cabeça na parede, ou, com o martelo sobre o meu corpo, mordia-me os braços e arrancava os cabelos, possuída por uma força maior do que o meu corpo podia suportar. Chorava sozinha, horas e horas, sem nada compreender, sem ter um abraço para me consolar, até tudo passar.

Isolava-me por ouvir minha mãe dizer, por ignorância, todas às vezes que eu entrava em "crise": "você não ama ninguém". Eu os amava tanto que preferia a solidão e a tortura para não afetá-los com o ódio que me sobressaltava sem a menor explicação. Eu contava somente quatorze anos de idade e nada sabia sobre o Espiritismo, mas, já conhecia a influência dos Espíritos. Um dia, meus pais brigavam em casa, avancei contra meu pai, com uma  faca de cozinha em punho, com a fúria e força de cem homens, depois, "apaguei". Por isso minha mãe passou a repetir: "você não ama ninguém".  Tentei pela primeira vez o suicídio, e, depois, busquei o isolamento, para não fazer mal a ninguém.

Quem se isola perde a oportunidade preciosa de ajudar e de ajudar-se. "Deus fez o homem para viver em sociedade (...) e que deve concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente" (L.E., questão 766). Isolar-se do mundo não irá acrescentar nada em sua transformação moral. A solidão é apenas uma condição momentânea para uma reflexão, pois que, o silêncio ajuda a acalmar os pensamentos. Porém, o homem somente se transforma através do contato com o mundo, com o "outro". "O homem deve progredir. Sozinho, ele não pode porque não tem todas as faculdade; é-lhe preciso o contato dos outros homens. No isolamento ele se embrutece e se debilita" (L.E., questão 768). O outro é o espelho que reflete a nossa própria imagem e, por isso, muitas vezes, desejamos isolar-nos como se pudéssemos eliminar o nosso próprio eu.

Somente em sociedade o homem se transforma. Isolado apenas afasta-se da oportunidade ofertada pela misericórdia Celestial. "O voto de silêncio absoluto, da mesma forma que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que podem lhe fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso".  Impulsionado muito mais pelo egoísmo e não pela caridade, o homem diz: "assim eu não ouço e nem digo", e não se percebe estar dizendo: "eu não me comprometo". Assim, "evitando um mal ele cai em outro, visto que esquece a lei de amor e de caridade". Contudo, estamos na Terra por estarmos comprometidos com Deus e com o próximo. Como nos mostra Kardec, o mal é a ausência do bem. Aquele que se isola para não fazer o mal, também não faz o bem e Deus não o isenta das provas que deve suportar (Livro dos Espíritos). Kardec pergunta, questão 770: Que pensar dos homens que vivem na reclusão absoluta para fugir ao contato no mundo? Os Espíritos respondem: "Duplo egoísmo".

O isolamento faz parecer que estamos livres das vicissitudes da vida e, isso, leva-nos acreditar sermos pessoas melhores, muitas vezes, trás a sensação de superioridade sobre o outro. Pura ilusão! No momento em que a menor vontade nos é contrariada, deixamos revelar o que temos ainda de primitivo em nós - o instinto. O instinto, segundo os Espíritos "é uma inteligência não racional (...) a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio" (L. E., questão 73-75). A razão se eleva quando nos colocamos no lugar do outro, como ensina Jesus: "amar ao próximo como a si mesmo".

O instinto, conforme esclarece Kardec, "nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, quer dizer, à vontade e à liberdade. Manter-se isolado é permanecer preso dentro de si mesmo, sem se permitir conhecer-se, é não permitir a vida. É estacionar no tempo, onde o progresso pede participação e conhecimento de si mesmo. Sem a interação com o outro, desconhece-se as próprias motivações. Assim sendo, o isolamento constitui-se na privação do "eu".

Quando ocorre a transformação íntima? Quando, em contato com o outro, diante de qualquer situação,  já não me permito contaminar pelo meio. Mantenho-me elevado, sob qualquer situação que a vida se apresente. Já não mais "estou", e sim, "sou". O Espiritismo não elimina os problemas existentes, mas, ensina-nos, a partir da sua Doutrina, a lidar com eles, da maneira que o Cristo nos ensinou. Então, eu realmente sou ...

  • Indulgente: diante da maledicência, calo-me. Já não contribuo em disseminar a discórdia, nem fecho as portas para o perdão;
  • Humilde: "reconheço na gratidão o único tesouro dos humildes";
  • Benevolente: estou naturalmente disposto a fazer o bem,  lembrando-me que "a verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola";
  • Paciente: aprendi que a paciência nasce da boa vontade e da compreensão;
  • Perseverante: já não me desespero, pois, creio que tudo está ao nosso alcance;
  • Compaixão: já não mais possuo a frieza da indiferença. Busco diminuir o sofrimento, procurando contribuir para que as suas causas sejam afastadas;
  • Caridade: percebo que "é amor, em manifestação incessante e crescente. É o sol de mil faces, brilhando para todos, e o gênio de mil mãos, amparando, indistintamente, na obra do bem, onde quer que se encontre, entre justos e injustos, bons e maus, felizes e infelizes, por que, onde estiver o Espírito do Senhor aí se derrama a claridade constante dela, a benefício do mundo inteiro" (Emmanuel);
  • Amor: compreendo que "amar é ultrapassarmos-nos" (Oscar Wilde)
  • Fé: quando padeço sem forças diante das adversidades do mundo, recorro, em silêncio e oração, a ajuda do Pai que está no Céu, na Terra, no Mar, no Oceano, está em tudo que criara. Reconheço-me como parte de  tudo o que há no Universo, e, de tudo o que há, sou a parte mais importante, pois que, sou feito à Sua imagem e semelhança. Eu sou amor.
Quando, enfim, reconheço-me em Deus, reconheço-me no amor, a transformação se completou. Isolar-se, portanto, é negar a evolução do Espírito. É fugir às responsabilidades. É comprometer-se ainda mais. Ainda que no final da caminhada, nada mais restasse do que o aqui se viveu, ainda assim, teria valido à pena trabalhar em busca da perfeição, junto a Jesus. No entanto, como duvidar que a vida continua após a morte? Jesus consola-nos: "Meu Reino não é desse mundo, tende bom ânimo, Eu venci o mundo". A vida torna-se mais leve quando se trabalha para o bem. "Seja qual seja o seu problema, o trabalho será sempre a sua base de solução" (Emmanuel). A vida é trabalho conjunto e constante. Permita-se! Que Assim Seja!

Luz e Amor!


"Até quando os vossos olhos só alcançarão os horizontes marcados pela morte? Quando, enfim, vossa alma quererá lançar-se além dos limites do túmulo? Mas ainda que tivésseis de sofrer uma vida inteira, que seria isso ao lado da eternidade de Glória reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação? Procurai, pois, a consolação para os vossos males no futuro que Deus vos prepara, e vós, os que mais sofreis, julgar-vos-eis os bem-aventurados da Terra". 
(Bem-Aventurados os Aflitos, cap. V; 19. O Evangelho Segundo o Espiritismo)