domingo, 29 de abril de 2012

"Ver", "Perceber" e "Sentir"


 Em 24-04-2012 às 6hs e 45min.

A partir da palestra espírita ministrada pela Drª e irmã Anete Guimarães, pude, enfim, compreender o que me ensinou meu amigo espiritual, Naziembique, sobre a necessidade de distinguir o "perceber" do "sentir". Por acreditar poder ajudar alguém que ainda não tenha compreendido, pedi inspiração aos bons amigos para, a partir desta palestra, desenvolver o tema de hoje: ver, perceber e sentir. Que Deus  nos ilumine.

Quando passei por uma cirurgia espiritual, fiquei desesperada. Fui até a espiritualidade e disse-lhe que pude "sentir" cortar meu rosto. Saí da sala de cirurgia aos prantos, repetindo para mim mesma: "eles cortaram meu rosto!". Mesmo diante do espelho, vendo que não havia corte físico, sentia como se tivesse. Foi então, que Naziembique, com sua paciência e doçura, tentou me passar esses ensinamentos, eu não "senti", mas, "percebi", pois que foi realizada no meu perispírito e não no meu corpo físico. No processo obsessivo, também, costuma-se dizer "sentir" o que na verdade é a pura "percepção" do espírito. Passamos a "sentir", quando "psicossomatizamos" àquilo que "percebemos". Eis a possível causa de nossas doenças físicas e aflições.

É interessante notar como costumamos descrever não o que vemos mas como percebemos tudo à nossa volta. Chegamos a causar, algumas vezes, prejuízo a outro pela falta de fidelidade ao que supomos "ver". E como sofremos por não saber separar o que "sentimos" do que "percebemos", somatizando, assim, as dores alheias. Em outras palavras, somando ao nosso corpo o sofrimento e as dores do outro. É importante, portanto, sabermos discernir o que é "meu", está em mim, e o que é do "outro", está fora de mim, e, consequentemente, não somatizar. O que "sinto" vem do "eu espírito", o que "percebo" vem do "outro", logo, me é dado. "Sentir" pelas dores e sofrimentos do próximo, não significa "absorver" o seu sofrimento e, com isso, passar a sofrer junto. "Sentir", neste caso, é comover-se e, colocar-se pronto para ajudar.  Isso só é possível, mantendo-se o bem estar físico e psíquico, através do equilíbrio emocional e mental. Em desequilíbrio a ajuda é nula, porque "adoecemos" juntos.

Comumente, diz-se ter visto algo que está além do campo visual, ou seja, fora do alcance da nossa visão física. Segundo estudiosos, até 180º - "de uma orelha a outra". O que está além do campo visual,  não "vemos" e sim "percebemos". O perceber transcede a nossa visão física. Quando alguém mostrá-nos uma "mesa", por exemplo, e pede que a descrevamos, pautamo-nos no conceito "mesa", não descrevemos, assim, o objeto visto, com suas características próprias: espessura, dimensão, forma, etc., ao invés de descrever o objeto em si, dizemos: "estou vendo uma "mesa"". Porém, "mesa" é um "conceito" que nos foi passado, é o que cremos ser aquele objeto. Assim acontece quando dizemos de uma cadeira, de um livro ou, de um caderno. "Cadeira", "livro" e "caderno" são conceitos e não o objeto em si que enxergamos.

Não acontece de forma diferente quando tratamos das emoções e sentimentos, como: raiva, dor, alegria, tristeza, ciúme, inveja, amor, etc.. Mais uma vez, diante dessas expressões, não somos capazes de descrever o que a nossa visão física permite-nos enxergar. Ainda porque, emoções e sentimentos não são visíveis, concretos à nossa visão, e mesmo assim, acreditamos "ver". Sentimos as emoções, ou as percebemos no outro, porém, não as vemos, também são conceitos nos dados. Trazemos, desde que nascemos, registradas em nosso perispírito, todas essas emoções, porque já as vivenciamos em algum momento de nossas existências pretéritas, apenas, a desenvolvemos com maior ou menor grau de intensidade, durante a nossa existência terrena.

Anete Guimarães, em sua palestra, deu um exemplo muito interessante sobre isso e vou utilizá-lo à exemplo: "Uma pessoa entra correndo e gritando em casa, do outro lado da rua, alguém observava e descreve: "eu vi um homem entrar correndo, estava furioso, gritava com muita raiva, virou-se rapidamente, pegou a faca e esfaqueou a mulher". Você viu isso? Responde: sim". Na verdade a pessoa não descreveu o que "viu", mas o que "percebeu". Ele estava furioso? Gritava com muita raiva? Como "ver" a raiva sendo a raiva uma emoção? O "gritar" é uma expressão do sentimento. "O homem entrou correndo em casa porque estava com forte dor de barriga, ficou desesperado pois havia alguém no banheiro, voltou, viu na mesa uma faca, pegou a faca, virou-se e gritou quem a deixou ali. Neste momento, tropeçou com a faca na mão e caiu sobre a mulher". O homem esfaqueou a mulher com raiva? Não. O que levou, então, alguém acreditar que o homem estivesse furioso e por isso esfaqueado a mulher? A visão? Não, mas sim a percepção.

A percepção é a faculdade de "formar perfeita  idéia de" ("perceber"). Logo, são conceitos, são os significados dados ao que acreditamos ser. "O homem entrou correndo, voltou, pegou a faca na mesa, virou-se, estava gritando, tropeçou e, caiu em cima da mulher", foi tão somente o que se "viu" no cenário. A raiva e a fúria, foi uma interpretação dada aos fatos. Logo, muitas vezes, fazemos interpretações não perfeitas do que está fora de nossos sentidos. Distorcemos os fatos acreditando que somos capazes de ver o que foge ao nosso campo visual. Daí a necessidade de mudar os nossos "conceitos", as nossas "crenças", sobre o que nos é passado e, consequentemente, tomado como verdade.

O prejuízo não está no que se percebe, mas, na interpretação que é dada ao que se percebe, devido aos conceitos pré-existentes, que muitas vezes, nem nos damos conta existirem. Dizer, por exemplo, cabelo "bom" e cabelo "ruím". "Bom" e "ruím" são subjetivos, neste caso, "pré-conceito" que vem da suposta supremacia da "raça ariana", denominda como "pura" (boa), sobre as demais raças denominadas "não puras" (ruíns). Os brancos seriam "bons", os negros seriam "ruíns". Não existe, portanto, cabelo "bom" ou cabelo "ruím". Existe sim, cabelo liso e cabelo crespo. Bem como, "raça" também não existe, é uma construção social. Existem pessoas distintas com características peculiar, que não lhes dá a qualidade de "boas" ou "más".

O objeto "mesa" pode significar mesa (enquanto conceito) em uma determinada cultura, em outra, o objeto referido pode constituir uma nova significação. Os símbolos são "ressignificados" de tempo em tempo, de cultura em cultura. As emoções e sentimentos, como símbolos, podem também se constituir em um novo conceito numa outra civilização, ou, em um outro tempo. Observamos esses "ressignificados" no próprio Evangelho. O que se conceituava "ódio", por exemplo, naquele tempo, hoje, tomou um novo significado. Bem como: "gênios" (demônio), "câmelo" (animal), entre outras expressões, adquirem novos significados nos dias atuais, em culturas distintas. Por isso, o Mestre supremo, Jesus Cristo, alertá-nos de olhar tudo no seu tempo.

O médium não "vê" e nem "sente" o sofrimento, nem as dores, nem a raiva do espírito comunicante. O médium as "percebe". "Perceber" não é "sentir" muito menos "ver". O "sentir" está no próprio médium ("eu espírito"). O "perceber" vem do "outro", do espírito comunicante. O médium forma, pelo sentido, a idéia sobre o "outro". Para "sentir", neste caso, é necessário "somatizar", então, o médium está absorvendo, tomando para si a energia de "outro". O médium não deve, na medida do possível, somatizar, tomar para seu corpo o que lhe é alheio, pois ira intensificar o que já está registrado no seu períspirito, causando-lhe danos tanto físicos quanto psíquicos.

Assim sendo, o médium deve "perceber" a comunicação, separar o "eu" do "outro", permitir ou não a comunicação, evitando "psicossomatizar". Em outras palavras, evitar tomar para si, as dores e os sofrimentos percebidos no "outro". Lembrando que médiuns somos todos, em maior ou menor grau, desde que temos a "percepção" inata, apenas a desenvolvemos. A acuidade visual é adquirida. O "cego" não pode ver, pois não tem a visão física, mas tem a percepção, muitas vezes, bem mais desenvolvida do que àquele que enxerga. Dizem que "o "cego" enxerga com os olhos da alma". Muitos há, que tendo visão não enxergam, olham mas não vêem, e vendo não compreendem, porque a alma não lhes é desenolvida. Assim Seja!

Luz e Amor!



"E chegando-se a ele os discípulos lhe disseram: Por que razão lhes fala por parábolas? Ele respondendo, lhes disse: Porque a vós outro vos é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não lhes é concedido. Porque aos que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas aos que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso é que eu lhes falo em parábolas; porque eles vendo, não vêem, e ouvindo não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Vós ouvireis com os ouvidos, e não entendereis; e vereis com os olhos, e não vereis. Porque o coração deste povo se fez pesado, e os seus ouvidos se fizeram tardos, e eles fecharam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e entendam com o coração, e se convertam, e eu os sare" (Mateus, XIII; 10-15).
(Não Por a Candeia Debaixo do Alqueire, cap. XXIV; 3. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

sábado, 21 de abril de 2012

Despedida, Separação e Perda

"É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos" (O Livro dos Espíritos, questão 728).

Em 19-03-2012, às 9hs e 45mint.

É bastante compreensível as lágrimas pela separação. A separação pode representar um estado momentâneo, que não significa, necessariamente, a quebra de uma relação, a ruptura de um vínculo afetivo, mas, uma interrupção necessária para seguirmos o nosso próprio trajeto. A perda também não existe, como bem disse um grande filósofo: "na natureza nada se perde, tudo se transforma". A própria destruição ocorrida pelos "tsunami" da vida é, na verdade, "transformação" e, a transformação é necessária para o desenvolvimento da Humanidade, segundo os ensinamentos espíritas. É preciso aprendermos a nos despedir do apego, aprender o desapego das coisas, das pessoas, dos costumes. Desapego não é desprezo, e sim, aceitar, de boa vontade, essas transformações em nossas vidas, designadas por Deus.

As lágrimas de tristeza são inevitáveis, no entanto, sofrer é uma opção. A forma como demonstramos os nossos sentimentos e emoções está de acordo com o grau da nossa evolução. A separação, bem como a perda de entes queridos, despertam na alma emoções que se condensam no corpo físico em lágrimas. As lágrimas são, pois, como a materialização das nossas emoções mais profundas, as vindas da alma. O sofrimento nasce da imaturidade do espírito em trabalhar com essas sensações. É o grau de desenvolvimento espiritual que nos permite sentir sem sofrer, ou seja, comover-se sem, com isso, absorver o sofrimento. O conhecimento espiritual mostra-nos a necessidade do "fim", que, em si mesmo, não é o fim, mas o recomeço, ou, um novo começo, a regeneração.

Morre-se o corpo físico para renascermos em Espírito. O corpo orgânico nasce, desenvolve-se, definha e morre. Porém, a alma liberta-se e, torna-se Espírito, uma metamorfose comparada à da borboleta e do casulo. Despe-se da roupagem pesada (invólucro corpóreo), e voa-se livre. Morrer, assim, significa uma nova vida, um renascimento, é o sinal de que já se cumpriu, neste tempo, o que foi determinado por Deus, Senhor único de tudo o que há no Céu e na Terra. Vale lembrar que o nosso tempo não é o de Deus. A nossa curta visão não nos permite enxergar além de 180º à nossa volta, e, a nossa pouca evolução espiritual não nos permite perceber, além do nosso campo visual, a grandeza em tudo o que há no Universo, pois que, tudo parte do Princípio Inteligente Universal, que é Deus, assim sendo, nada é por um "acaso". Não conseguimos, enfim, captar a essência de tudo o que está envolto na perda, nas dores e nas calamidades. O não conhecimento das causas leva-nos ao desajuste mental como forma de defesa: "(...) o que chamais destruição não passa de uma transformação (...)" (KARDEC)

Quando "perdi" Puma, a minha cadelinha de estimação (ver "Homenagem aos animais"), no seu primeiro ano de vida, não entendia nada sobre esse processo de transformação, ainda sabendo que tudo tem início, desenvolvimento e fim, não compreendia a existência de Deus sobre todas as coisas, sobre a "vida" e a "morte". Deus não permite o sofrimento a nenhuma de suas criaturas, senão, para o seu desenvolvimento moral, pois que, não seria bom e justo. Se ainda sofremos é por não o conhecermos, por não confiarmos, verdadeiramente, na sua suprema existência. Acreditássemos que está sobre todas as coisas, não lastimaríamos, ao contrário, render-se ia-lhe glória em louvor. Deus está em nós. "Somos filhos de Deus, dotados de força infinita". Aceitar a partida do ser que amamos, sem lastimar, é prova de gratidão e humildade ao Pai, que tudo criou. Quem ama a Deus, não lamenta devolver-lhe a vida, que nem mesmo nos pertence, pois que somos todos depositários dos bens terrenos.

Se tivesse compreendido os ensinamentos do Evangelho, segundo Cristo, entenderia que fiz o que tinha que ser feito naquele momento, para o meu bem, de minha família e da própria Puma, que sofria de uma doença, no caso dela, incurável - cinomose - pois que já havia atingido seu sistema nervoso central. Ela já não mais se alimentava, não dormia e mordia a quem se mexesse próximo dela, incluindo-nos, os seus donos... Lembro-me da minha filha chorando, dizendo: "o que mais me dói é saber que ela jamais me mordeu antes dessa doença, sei que ela não queria me morder". E como doeu, em mim, tê-la que sacrificar pelo bem de todos. Eu  não "a" sacrifiquei, eu "me" sacrifiquei, morri um pouco no instante de assinar a sua sentença de morte. As minhas mãos que só lhe deram carinho, abreviavam-lhe a vida.

Ainda não estou completamente curada da dor, choro ao relatar. Sempre penso que a dor já passou, mas não passou, apenas deixou de ser sofrimento. Mesmo sendo, hoje, estudante do Espiritismo, ainda não me transformei internamente, esforço-me. Mas, quem disse que seria fácil libertar-se? Ao menos, os meus olhos já não disparam "piscadelas", num descontrole total, como se fosse apagar os reflexos de culpa da minha consciência. Já não me sinto mais culpada. Aceito que foi como precisava ser. O por quê, só a Deus pertence conhecer.

Resistimos às perdas por não compreendermos os ganhos. Com a dor da "transformação", ganhei em força, em paciência e em autoconhecimento. Passei a buscar essa "reforma íntima". Procurei conhecer em Kardec, no Livro dos Médiuns, sobre os animais, sobre a sua existência em nossas vidas: "(...) Deus colocou os animais ao vosso lado como auxiliares, para vos alimentarem, para vos vestirem, para vos secundarem (...) Mas, em sua sabedoria, não quis que estivessem sujeitos à mesma lei do progresso. Tais como foram criados se conservaram e se conservarão até a extinção de suas raças" (O Livro dos Médiuns, cap. XXII). Aprendi, assim, a amar sem excesso, sem apego, compreendendo que somos apenas depositários do Senhor, usufrutuários dos bens terrenos, que nada nos pertence, para tudo há um propósito Divino. "Tudo voltará à Deus".

Dei-me conta do amor sem apego quando da separação de minha filha. Ela seguiu para morar em um outro Estado, no sentido de construir o seu próprio trajeto, cumprir seu destino. Entendo que é uma separação apenas geográfica e temporal. A distância não existe para almas que se afinam, amam-se, nem para os Espíritos. Chorei a despedida pois que ainda necessito, devido a minha imperfeição, "tocar" o amor, mas não é sofrimento, não é solidão. Estou sozinha sem me sentir só. Compreendo que seguir cada qual o seu destino, faz parte da nossa caminhada evolutiva. Antes de partir, pediu-me: "mãe, depois você vem morar comigo em São Paulo". Respondi-lhe que esse é um projeto de vida dela, e não meu. Ela tem que vivê-lo, é o seu processo de amadurecimento, de construção, e, o meu momento de reconstrução. A separação, para ela, significa o começo do "caminhar com as próprias pernas", para mim, o "reaprender a caminhar sozinha". Como todas as coisas do mundo, os filhos também não nos pertencem.

Desejo que quando Deus perguntar-me do que foi feito da criança que me confiou, possa responder-lhe: "tornou-se uma linda criatura Senhor. Ela cresceu dentro dos princípios morais cristãs, evoluiu e seguiu o seu próprio caminho. Constituiu uma nova família e, isto muito alegra-me, Senhor. Dela só tive do que me orgulhar, do que bem dizer. E, isto é motivo de felicidade para uma mãe em processo de aprendizado. Creio Senhor, que muito mais aprendi a partir dela. Obrigada, Senhor, por tê-la permitido na minha existência. Saudades! Ah! são muitas! Mas saudade não é tristeza, só a sentimos de quem verdadeiramente amamos". Que Assim Seja!

Luz e Amor!



"Meus amigos, agradeceis a Deus, que vos permitiu gozar a luz do Espiritismo. Não porque somente os que a possuem possam salvar-se, mas porque, ajudando-vos a melhor compreender os ensinamentos do Cristo, ela vos torna melhores cristãos. Fazei, pois, que ao vos vendo, se possa dizer que o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são uma e a mesma coisa, porque todos os que praticam a caridade são discípulos de Jesus, qualquer que seja o culto a que pertençam" (Fora da Caridade não há Salvação, cap. XV; 10, O Evangelho Segundo o Espiritismo).

domingo, 15 de abril de 2012

O Ato de Perdoar-se


 Em 14-04-2012, às 4hs e 30min.


"Toda alma pode evoluir e tornar-se perfeita, basta que procure o caminho do bem". Recebi está mensagem pouco antes de despertar, cuidei em anotá-la de imediato para poder compartilhá-la com vocês, meus amigos, no dia de hoje. Não saberia dizer de quem a recebi, porém, respondeu às minhas inquietações mais recentes - "reforma íntima".

Perdoar ao próximo torna-se um ato difícil porque não conseguimos perdoar, antes, a nós mesmos. Não perdoamos no outro aquilo que não concebemos em nós. O auto-perdão é um exercício necessário para que consigamos perdoar no outro o que não aceitamos em nós mesmos, pois que, o outro reflete a nossa própria imperfeição. "Ó homem! Quando julgas o outro, tu te condenas a ti mesmo ao fazeres as mesmas coisas que condenastes em teu irmão" (Rom., cap II, 1). Se pudéssemos ver-nos no pretérito, envergonharíamos-nos do nosso comportamento. Não podemos, é claro! Deus é misericodioso. Porém, tudo fica registrado no nosso inconsciente e, como gostaríamos de apagar em nós mesmos quaisquer resquícios do passado. O outro, assim, torna-se uma ameaça constante a desvelar, a qualquer instante, o nosso falso conceito moral, então,  o repudiamos.

Perdoar-se é ser humilde em reconhecer-se como ser humano falível, imperfeito, capaz de errar. O orgulho e o egoísmo são as causas que não nos permitem esse olhar. Deus deseja que antes trabalhemos as nossas próprias faltas, "não se ensina pelas palavras, mas antes pelos exemplos", senão, as palavras soam vazias. Deus, na sua sabedoria infinita, precisando que não seria fácil perdoarmos à nós mesmos, cuidou de passar um exercício de paciência, que poucos o compreenderam: "Não te digo que será até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes" (Mateus, XVIII:15, 21, 22). Em outras palavras, infinitamente. O que sugere que devemos ser pacientes com as nossas imperfeições, procurando perdoar no "outro" as nossas próprias faltas.

Sendo Deus sábio e justo nada fez por "acaso", pois que, é Princípio Inteligente Universal, e, o "acaso" não é inteligente (Espírito HAMMED), "o acaso é o nome que damos àquilo que não sabemos explicar", é cego e nada produz, ao contrário da inteligência. Não é por "acaso" que encontramos pessoas que nos causam contrariedades, elas existem para que possamos nos melhorar moralmente, porque é o desejo do Pai que está no Céu: "toda alma pode evoluir e tornar-se perfeita basta que procure o caminho do bem". O caminho é o perdão, acima de tudo, de nossas próprias faltas; da caridade primeiro para conosco. "Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se arrependa". Deus nunca fecha as portas para o arrependimento. Arrependendo-nos, podemos, enfim, colocar-nos no lugar do outro com comiseração e, dar-lhe o nosso perdão. Se não o fazemos é por orgulho e egoísmo.

Trazemos de vidas pretéritas, registrados em nosso perispírito, arquivo astral das nossas existências, vícios latentes na alma, os quais gostaríamos de manter adormecidos na eternidade. O que condenamos severamente no outro é o que gostaríamos que morresse em nós, não para que o outro não viesse a saber que somos capazes de atitudes iguais, semelhantes ou, até mesmo piores, mas, para mantê-las escondidas de nós mesmos. Porém, se não nos permitirmos conhecê-las, como poderíamos mudá-las? Como transformar aquilo que eu não quero ver em mim? O outro é o remédio que Deus nos oferece como auto-cura. Quando reconhecemos as nossas faltas e perdoamo-nos, ocorre a transformação íntima. Mas, quantas vezes iremos incorrer nos mesmos erros? Sete vezes? O Senhor entendendo as nossas frágeis limitações, frutos da nossa imperfeição, com toda a paciência e misericórdia que Lhe é única, deu-nos infinitas oportunidades, se não chegarmos nessa reencarnação à perfeição, quem sabe, em uma outra, pois que é possível a todos que buscam a Verdade.

Não posso desejar de outrem o que não melhorei em mim: "Por que vês tu, pois, o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho?" (Mateus VII: 3-5). "Reconhecendo que somos todos iguais nesta grande Escola Universal, sujeitos de causas e efeitos, seremos mais indulgentes com os nossos semelhantes, arrancando de nossas almas essa erva daninha - a malediscência - pois que esta é a maior, senão, a pior causa de todos os nossos males. A malediscência não só fecha a nossa porta (nosso coração) para o próximo, como fecha as demais portas, tornando-se, assim, a mais cruel de todas as nossas culpas. Neste caso, eu não só deixo de perdoar como, ainda, contribuo com sua vil condenação. Lembrando: Jesus aceitou a morte de cruz para nos livrar da vil condenação".

"Sedes, então, misericordiosos. Não faças ao teu próximo o que não desejas para contigo. Com a mesma intensidade que julgardes, sereis julgados pelo Pai que está no Céu. Liberta-te do orgulho e da vaidade, torna-te humilde e a humildade te levará ao perdão. O perdão é a maior de todas as caridades que possais praticar, contigo mesmo e com o teu próximo. O teu aprimoramento moral fará de ti o exemplo para o teu próximo, que, vendo-se em ti, procurará melhorar-se e, assim, sucessivamente, contribuindo para o progresso da Humanidade, como deseja o Pai Celestial" (Um Espírito Protetor).

Luz e Amor!



 "Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo; perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se melhora. Perdoai, pois, meus amigos, para que Deus vos perdoe. Porque se fordes duros, exigentes, inflexíveis, e guardardes até mesmo uma ligeira ofensa, como quereis que Deus esqueça que todos os dias, tendes grande necessidade de indulgência? (...) Quem sabe se, mergulhando em vós mesmos, não descobrireis que fostes o agressor? (...) Se não vos escapou uma palavra ferina? (...) Admitamos que fosseis realmente o ofendido, em certa circunstância. Quem sabe se não envenenastes o caso com represálias, fazendo degenerar numa disputa grave aquilo que facilmente poderia cair no esquecimento? (...) O esquecimento completo e absoluto das ofensas é  próprio das grandes almas; o rancor é sempre um sinal de baixeza e de inferioridade. Não esqueçais que o  verdadeiro perdão se reconhece pelos atos, muito mais que pelas as palavras". (Bem-Aventurado os misericordioso, cap. X; 15, O Evangelho Segundo o Espiritismo)


domingo, 1 de abril de 2012

Sedes paciente para consigo mesmo: dê-se uma chance



Em 01-o4-2012, às 14hs.

"_ De volta ao trabalho". Pede-me Pai João, neste momento, para escrever. "_ Aproveite a inspiração que lhe é dada e, se beneficie ajudando ao seu próximo agora distante".

Fui, neste domingo, para a Sustentação mensal dos trabalhadores da Casa do Caminho, o trabalho foi muito bonito e gratificante, homenagem aos 27 anos do grupo de socorro aos suicidas realizado pela Casa Espírita. Ao adentrarem o salão para darem seus depoimentos (os espíritos), senti um forte impacto no peito, comentei com minha amiga e psicóloga que estava sentada ao meu lado sobre o impacto que senti sem nem mesmo saber do tema que ali seria tratado - o suicídio. Era um grupo de suicidas vindo a este plano para dar-nos, à todos, os seus testemunhos.

Então, parecia não mais estar presente no meu corpo físico, conhecia as suas dores de outra vivência, estava com eles para dar-lhes, em oração, o meu apoio e amor incondicional. No final senti uma necessidade imensa de homenagear a Senhora zeladora das nossa dores mais secretas e infinitas - Nossa Senhora de Nazaré. Não sabia, até então, o porque da minha devoção e de sempre o meu pedido por Vossa intercessão. Agora sei quem nos socorre nas horas de aflições profundas quando desistimos da vida, que por mais que se busque uma justificativa, leva-nos sempre a mesma resposta, após somarmos tudo, o orgulho e a vaidade. Desistimos da vida pelo orgulho e pela vaidade, no mais, tudo são justificativas infundadas de um coração que não aprendeu a amar.

Maria de Nazaré
Maria de puro amor
Igual a Você ninguém
Mãe pura do meu Senhor.
Às vezes eu paro e fico a pensar
e sem perceber me vejo a rezar
e o meu coração se põe a cantar
pra Virgem de Nazaré.
Maria que Deus amou e escolheu 
pra mãe de Jesus, o filho de Deus
Maria que o povo inteiro elegeu
Senhora e mãe do céu.
Ave Maria, mãe de Jesus...
Maria que eu quero bem,
Maria de puro amor
Igual a você ninguém, 
mãe pura do meu Senhor.
Em cada mulher que a terra criou 
um traço de Deus Maria deixou, 
um sonho de mãe Maria plantou 
pra o mundo encontra a paz. 
Maria que fez o Cristo falar, 
Maria que fez Jesus caminhar, 
Maria que só viveu pra seu Deus. 
Senhora do povo meu.
Ave Maria, mãe de Jesus...

Encerrado os trabalhos, abracei Pai João, agradecendo-lhe pelo acolhimento. Sei que muitos aproveitam da oportunidade para exporem seus problemas pessoais e pedir auxílio a espiritualidade, mas, eu não consigo fazê-lo. Parece que ali não há lugar para eles, é como se "eu" não tivesse importância, os meus problemas tornam-se pequenos, ínfimos. Saí, e na saída carreguei-os comigo, como sempre faço. Ao chegar em casa senti o alívio que nos causa a "Sustentação". Sustentar, suporte para seguirmos em frente na caminhada com o nosso fardo. 

Ao chegar em casa, encontrei os meus problemas ali, esperando-me, chorei. Desejei imensamente que a espiritualidade se materializasse em minha presença, queria ter alguém para chorar junto comigo, dizer-me: "Tudo acaba bem. Se ainda não está bem é porque não é o fim!". Então, senti um forte cheiro de charuto: "Pai João, o senhor está aqui?", exclamei. Percebi que a espiritualidade estava junto de mim. Neste momento, em que meus pensamentos vagueavam confusos no espaço, eis que chegou em minha casa um amigo e afilhado. Tão grande a surpresa, trazia a mensagem que buscava ouvir à dias e, por isso, pedia a presença dos amigos espirituais materializados, os meus pensamentos absortos não me permitiam atinar para novas idéias, estava cansada, queria alguém que me mostrasse, de forma concreta, papável a causa da minha desesperança e uma possível, não solução pois que está depende de mim, mas, luz. E aconteceu.

Mostrou-me que, a minha dificuldade em tornar real os meus propósitos é a falta de confiança em minha capacidade em torná-los reais. Cobranças sem fundamentos - "eu não posso errar!". Desde que somos seres imperfeitos, todos podemos e iremos errar sempre até aprendermos - isso nada mais é do que orgulho e vaidade, é o que nos leva ao desespero, e, dependendo da exacerbação, até ao suicídio. 

É a primeira vez que preciso trabalhar, por conta própria, para o meu sustento. Até então, não havia experimentado na pele essa necessidade. Não sei negociar o que produzo, acabo dando de presente, acho que não tem valor comercial, que não é bom como o de fábrica. Então, meu amigo e afilhado disse-me o seguinte: "É na imperfeição do seu produto que está o valor do seu trabalho por ser um trabalho artesanal". "Artesanal tem esse significado - "imperfeito", "não industrializado", mas feito por seu esforço e dedicação, tem muito mais valor de mercado". Eu não havia nunca olhado por está vertente, estava lá, cobrando perfeição. Perfeição sem nem mesmo ter a prática pois que estou começando só com a "coragem", que, por sinal, já estava a perdê-la antes mesmo de ter iniciado e por isso chorava. 

Foi então, depois dessa visita surpresa, que Pai João alertou-me: "Sedes paciente para consigo mesma, dê-lhe sempre uma outra chance. Quantos estão tentando, a longas datas e ainda continuam errando, porque você quer acertar de primeira?. Errar é melhor do que acertar, quando acertamos de primeira se quer observamos como o fizemos e logo esquecemos. Errando e voltando uma, duas, três, quantas vezes precise, adquirimos conhecimentos, aprendemos e colhemos os frutos. Dê-se a oportunidade de errar, esse é o caminho certo e seguro".

Agradeci muito a presença da espiritualidade que se materializou naquela visita. Às vezes, não percebemos a fala dos Espíritos amigos junto à nós. Somos tão materialistas ainda, mesmo os ditos espíritas, que somente prestamos atenção no que um outro "encarnado" nos fala, mesmo que nada de bom acrescente em nossa trajetória. Porém, não damos a atenção devida ao que nos diz a nossa alma em diálogo com os Espíritos solidários. Desde a noite anterior, quando tudo parecia dar errado, a espiritualidade já se fazia presente orientando-me, pedia-me calma, mas, invigilante que ainda me encontro, parecia não perceber as suas investidas, tanto que fui dormir aos prantos. 

Não me dei conta, como muitas vezes fazemos, que precisava de suporte, "sustentação", que ninguém se faz sozinho, sem apoio, sem carinho, sem um bom amigo de perto para poder suportar as agruras da vida. Não é certo pensar que o nosso problema é o maior do mundo, bem como, não se deve ignorá-lo, isso também é egoísmo. Pensar em si não é egoísmo, é prova de amor pela vida que Deus nos ofertou, é reconhecermo-nos como Sua morada e, por isso devemos estar bem e cuidados. Mas, para isso acontecer é preciso livrarmos-os do orgulho e da vaidade,  aceitarmos-nos "seres humanos" num mundo de provas e expiações, e apesar do mundo em que vivemos, podemos ser felizes, essa felicidade depende de nossas aspirações, do nosso desejo sincero de nos fazermos seres melhores.

"Não é por vivermos num mundo de provas que estamos fadados a sofrer como um merecido castigo, são apenas "provas" as quais temos que vencer e sair vitoriosos, porque é isso que espera o Senhor nosso Deus. Assim Seja!"

Luz e Amor!


 "Vossa Terra é por acaso um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta não soa ainda, aos vossos ouvidos? Não clamou ele que haveria choro e ranger de dente para os que nascessem nesse vale de dores? Vós que nele viestes viver, esperai portanto lágrimas ardentes e penas amargas, e quando voltai os olhos ao céu e bendizei  ao Senhor, por vos ter querido provar!" 
(Bem-Aventurados os Aflitos, cap. V; 19. O Evangelho Segundo o Espiritismo)