Em 07-03-2012, às 22hs e 30mints.
Fico pensando o quanto é difícil dar o nosso testemunho, em um mundo de pessoas tão descrentes e de pouca fé. Mundo do qual faço parte, pessoas às quais me incluo. Mesmo vivenciando todas as experiências espirituais que já relatei nas várias páginas deste diário, ainda assim, sinto-me covarde. O meu orgulho e a minha vaidade quase nunca me permitiu fazer aquilo que me foi pedido pela Espiritualidade, dar o meu testemunho sobre a vida egressa.
Chamariam-me, como já fizeram muitas vezes, louca, ou, gente ruím (demônio), "pessoas que se metem com essas coisas" ... Então, quem somos nós, além de inteligência moldada por um corpo perispiritual? Espíritos encarnados em um corpo físico? É isso o que verdadeiramente somos, parafraseando o Espírito Camilo Cândido Botelho, um ego sensível, pensante e inteligente (espírito); revestidos de uma organização astral que guarda em si, registros de tudo o que vivemos (períspirito); protegidos por um envoltório material (corpo); magnetizados por um fluido cósmico universal (energia vital).
Acreditei que ao menos no meio espírita poderia relatar minhas experiências com credibilidade, qual nada, os espíritas também não acreditam naquilo que professam, em sua maioria, hipócritas. Muitos acreditam, tão somente, em escritores renomados, desprezando os conhecimentos dos mais humildes, menos afamados. É difícil acreditar na existência de outro plano que não o terreno, até mesmo para os que experimentaram experiências do plano invisível. Muitos olhos não crêem naquilo que não vêem, e outros, até mesmo duvidam do que vêem, apenas por uma questão de cultura religiosa.
Porém, Jesus adverte: "Se fosseis cegos, não terieis tanta culpa". De acordo o Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVIII; 12, "Jesus confirma que a culpabilidade está na razão do conhecimento que se possui. Os fariseus, que tinham a pretensão de ser, e que realmente eram, a parte mais esclarecida da nação, tornavam-se mais repreensíveis aos olhos de Deus que o povo ignorante". Segue: "Aos espíritas, portanto, muito será pedido, porque muito receberam, mas também aos que souberam aproveitar os ensinamentos, muito lhe será dado".
Há muito, comunico-me com os espíritos, antes, muito antes de conhecer a Doutrina Espírita, vivenciei algumas experiências como: EQMs (Experiência de Quase Morte): natural (19 anos) e através do suicídio (29 anos); manifestações físicas (foram as primeiras), como já relatei em outra parte do diário, a exemplo dos peixes voarem, sairem da bacia, na pia, aparecendo, depois, nas gavetas, em Semana Santa ( 07 anos); bem como, passos pela casa, portas de armários abrindo sozinha, banqueta sendo arremessada, longe, na parede (14 anos). Eu conheci a Umbanda aos 25 anos, levada pelos meus guias espirituais, onde, primeiramente, comunicaram-se. Abandonei aos 30 anos, após a tentativa de suicídio. Eu não aceitei culpar aos espíritos, ou a outrém, pelos meus atos.
Na Umbanda não fazemos estudos doutrinários, recebemos as entidades espíritas (pretos-velhos, índios, cablocos, êres, marujos, ciganas, exus) seguindo um ritual muito peculiar aos centros de Umbanda. São pontos riscados, pontos cantados, tambores, atabaques, defumador, encenso ... e os guias descem para trabalhar, envoltos, pelo que parece aos olhos leigos, por uma forte mágia. Somente aos 45 anos, passei a conhecer a Doutrina Espírita Kardequiana. Bem antes de frequentar a Casa Espírita, eu já escrevia, mas não percebia como comunicações do além túmulo, apenas eram manuscritos meus, minhas dores da alma "Apontamentos e Desapontamentos", este era o título do meu diário, relatos que apresentava somente para a minha terapêuta, na época.
Acreditei que eram rompantes psicológicos, uma busca incessante de mim mesma. Em um surto psíquico, rasguei todas aquelas amargas páginas, como se pudesse romper a vida dentro de mim. Anos depois, quando já havia abandonado a Umbanda, terapia, etc., acreditando ser tudo ilusão de ótica, devaneios, desequilíbrio mental e emocional, ilusão torpe de não mais precisar de nada daquilo, voltei a sofrer perseguições. Vieram-me cobranças, assim, de repente, quando tudo aquilo já parecia não ter mais efeito sobre mim. Eles (os Espíritos) voltaram a me procurar, ora em sonhos, ora na vida cotidiana, vida real: "quanto tempo mais você vai precisar para falar (testemunho), mais dezenove anos? Até, enfim, encontrar a Casa do Caminho.
Hoje, no grupo de socorro ao suicídas, finalmente, pude ler a obra de Yvonne Pereira, "Memórias de um Suicída" e lendo as primeiras páginas, vi-me em suas passagens. Logo quando cheguei a Casa, ao relatar ao amigo espiritual, Naziembique, sobre as lembranças vivas, que trago do Vale dos Suicídas, quando do meu atentado, contra a minha própria vida, ele indicou-me a leitura deste livro, mas, somente agora pude obtê-lo para estudo. Silenciei minhas experiências por acreditar que todos me achariam ridícula, louca, preferindo acreditar-me insâna do que assumir responsabilidades diante do que me foi passado e pedido: "vá e diga a todos, o mundo precisa de oração". Calei-me.
"Deus Altissímo, Pai justo e bom, não quer a morte do pecador, mas que ele viva e se arrependa". Quando relato sobre o suicídio, especialmente, a respeito do Vale dos Suicídas, conto sobre os horrores, que na Terra, não há igual, nem mesmo os amigos da seara espírita creem-me. Ocorreu-me, então, escrever, a partir da solicitação de amigos espirituais desencarnados, sobre esta e outras vivências espirituais, fundamentando-as através dos Ensinamentos de Jesus, o Evangelho, como tenho feito. Encontrei-me em situação difícil, tal qual relata Yvonne Pereira, "para redigir o trabalho dando feição doutrinária e educativa as revelações ..." (p. 7), igualmente a autora, eu não sou escritora, nem sinto-me capaz, por mim mesma, tentar a experiência. Sinto-me arrependida por não ter guardado os manuscritos, como fez Yvonne, em alguma gaveta.
Yvonne Pereira revela que levou, então, oito anos, aguardando o futuro, até que, finalmente, foi-lhe concedida a assistência necessária para prosseguir. E, eu, aqui, desejando nunca ter desestido do caminho, talvez já tivesse desvelado esse mundo invisível, tão desejado e ao mesmo tempo temido. Comentei com meu amigo espiritual da Casa sobre poucos acreditarem nos meus relatos, apesar de espíritas. E ele, muito sabiamente, disse-me: "você pode relatar, mas não pode querer que todos acreditem". Realmente, ninguém é obrigado a acreditar-me, eu mesma busquei a negação até a última cobrança sobre o meu testemunho
Percebo neste instante, que esse tempo, o qual lastimo ter perdido, foi necessário para o meu próprio crer, para firmar minha convicção sobre o que meu foi permitido conhecer, poder dizer agora, sem medo, o que conheci de perto, pois que já me sinto preparada e amparada, um pouco mais, para tal confirmação. Antes de conhecer e procurar aprimorar o meu estudo da Codificação de Kardec, tudo parecia-me irreal, imaginário, um surto psíquico.
Como poderia compartilhar de uma experiência, a qual nem mesmo eu compreendia e, por não compreender, ignoravá-a. Como desejar que alguém acreditasse-me, sem base para fundamentar tal experiência. Soaria loucura, talvez, estes que ainda consideram-me louca, não conhecem o fundamento doutrinário kardequiano, não conhecem o Evangelho de Jesus Cristo e Seus ensinamentos, segundo o Consolador. Hoje conhecendo um pouco mais, compreendo-os e compreendo-me. Perdoo-os e perdoo-me pela pouca fé. Como o próprio Evangelho ensina-nos, a fé cega é fanatismo; a fé esclarecida sucederá o fanatismo trazendo a fraternidade universal.
Eu não cheguei a descer ao Vale dos Suicídas, fiquei por um período, que na terra equivale aos três dias que permaneci em estado de coma, em um espaço vázio e silencioso, parecendo uma câmara, de tom alaranjado sombrio, entre os dois planos. Sentada à beira do abismo, com um dos pés voltado para dentro, já adentrando aquele "Vale de Lágrimas". Lembro-me chorando e refletindo sobre meu mal ato, num arrependimento profundo, diante de todo aquele sofrimento sem igual.
Espíritos sombrios queriam puxar-me para dentro, escalando aquela parede rochosa, feito lobos, querendo atingir sua presa, enquanto outros imploravam-me, desesperados, suas retiradas dali. Figuras assustadoras, descabeladas, sujas, seus trajes eram mulambos escuros, trapos humanos, dementes em seus devaneios, uns pareciam não enxergar os outros. Lugar sombrio, fétido, jamais alguém que não esteve ali poderá acreditar existir tal lugar; galhos secos em troncos mortos, soltando cinzas, fumaça, lama, gemidos, horrores jamais imaginados, nem mesmo em filmes de terror.
Ao contrário do que se imagina, não está abaixo da Terra. Está no espaço, assim como o Céu, mas, em um plano astral muito inferior. Eu me encontrava no intermediário, de onde olhava o Vale abaixo. Dali, ao ser retirada pelo meu anjo guardião, fui levada até o Portal, de onde retornei para o espaço físico, retomando o meu corpo material, no leito hospitalar. Do Portal, antes de voltar, vi-me deitada, com os aparelhos que me mantinham respirando. Alegrei-me ouvindo o meu irmão em oração, implorando-me que não desistisse da vida e o dizendo, do mais fundo do seu coração, o quanto me amava. A paz sorriu dentro de mim. Lembro-me da felicidade que senti ao despertar daquele inferno astral.
Assim, mais uma vez, independente de crenças, dou o meu testemunho, em nome de Deus. Assim Seja!
Luz e Amor!
"E Jesus lhe disse: Eu vim a este mundo para exercitar um juízo, a fim de que os que não vêem, vejam, e os que vêem, se tornem cegos. E ouviram alguns dos fariseus que estavam com ele, e lhe disseram: Logo, também nós somos cegos? Respondeu-lhes Jesus: Se vós fosseis cegos, não terieis culpa; mas como agora mesmo dizeis: Nós vemos, fica subsistindo o vosso pecado". (João, IX; 39-41)
(Muitos os chamados e poucos os escolhidos, cap. XVIII; 11, O Evangelho Segundo o Espiritismo)
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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.