segunda-feira, 20 de abril de 2015

EU NASCI PARA BRILHAR



Em 18/04/2015; às 11 hs e 30 min.

Hoje, percebo um pouco melhor o quanto está sendo proveitoso este tempo, que, à princípio, pareceu-me tempo perdido. Eu precisava recolher-me, em mim mesma, para redescobrir o sentido da vida e o sol que brilha dentro do meu ser. Redescobrir que tenho luz própria, e que sou um ser único e especial. Apesar das minhas imperfeições, sou criatura de Deus e, por isso, divina: " _Vós sois deuses..." (Jesus). Sou dotada de um poder de transformação infindável. Eu nasci para brilhar...

Cada um de nós somos um ser único e especial, e com luz própria. Muitas vezes, não nos percebemos assim, porque vamos ao longo da nossa caminhada colecionando uma série de valores e comportamentos que não são nossos, que não representam o que verdadeiramente acreditamos, mas, que agradam aos outros, e, os aceitamos para que possamos nos sentir parte dessas relações pessoais e sociais. E, dentro deste processo, deixamos de nos reconhecer como indivíduos, e, respeitar a individualidade do outro. "Eu sou eu, e o outro é o outro" (GASPARETTO: 2010).

Passei dias abatida pela angústia que assolava meu coração. A cirurgia de reconstrução da mandíbula foi um sucesso, é um desejo meu se confirmando no Universo. Então, perguntava-me: _ Por que essa angústia corroendo a minha alma? Sofrida por não mais me reconhecer, desci o mais fundo do poço da minha existência, na mais profunda solidão e na escuridão do ser, e, por fim, consegui acender a chama da minha consciência. Compreendi que fui me deformando aos poucos e lentamente, dia a dia, abandonando o que acreditava: meus valores, meus sonhos, o que sou, até que me perdi de mim mesma.

A sombra é o nosso inconsciente, onde estão guardados os nossos medos, anseios, crenças e fracassos. A luz é a nossa consciência plena, a afirmação do eu interior, onde está registrado o conhecimento do que somos. O medo é mentira, alguém utilizou fazendo com que você acreditasse em algo que não existe e desacreditasse de si mesmo: " _ se você fizer isso, papai do céu castiga" , ou, "_ se você for ali, o bicho papão lhe pega", e você vai internalizando esses medos. 

O medo é uma energia negativa, mórbida, apesar de muitos afirmarem que é benéfico, porque funciona como um "freio". Na verdade, você deixa de fazer algo, de agir, de se mover, viver uma experiência, simplesmente, por medo. Sem perceber, estamos afirmando o negativo. O medo, assim, é a "certeza do negativo" (GASPARETTO: 2010).

Com isso, percebi que não me bastaria somente a reconstrução facial, porque a minha mutilação aconteceu antes na minha alma, provocada pelo profundo sentimento de rejeição sofrido, ainda embrião. O medo da rejeição causou-me tão sérias lesões no meu corpo energético, que, acabou por refletir no meu corpo físico. A minha energia fluídica estava bloqueada pela raiva de não poder manifestar o que verdadeiramente sou e para o que vim, por medo de não ser acolhida. Eu queria ser amada e, por isso, fui anulando tudo o que havia de verdadeiro em mim. Sem jamais conseguir me sentir acolhida, eu culpava, sem perceber, a minha genitora por todo meu sofrimento, sem entender que ninguém tem responsabilidade sobre mim, a não ser eu mesma.

Eu demorei para compreender que o medo da rejeição é fruto da minha vaidade. A vaidade é uma ilusão, a pessoa passa a agradar o outro para receber o que espera. A aceitação do outro está dentro da constituição do outro, e ninguém pode viver na constituição do outro. Esperando receber o que é do outro, desvalorizamo-nos e, passamos a negar o nosso talento, o nosso poder interior de realização, daí surge o sofrimento, a frustração, mágoa, porque o outro é o culpado. Somente podemos encontrar felicidade quando passamos a aceitar o nosso ser, aceitar as nossas responsabilidades. O que está dentro de nós é o mais importante, porque é o nosso ser. O que está fora é pura ilusão.

Eu desejava "ter" o amor dela, mas, somente agora, depois de tanta dor, é que pude compreender que só é meu aquilo que ninguém pode me tirar - o que sou: as minhas crenças, os meus sentimentos e  os meus conhecimentos. Assim, como eu sou eu, e o outro é o outro, hoje pude perceber que o amor que é meu, é aquele que eu sinto, esse ninguém pode me tirar. Quando você ama, você tem amor. O amor do outro é do outro, é o que ele sente, eu não posso ter para mim. O outro é dono dos seus próprios sentimentos, bem como, os meus sentimentos são meus. Desta forma, estou aprendendo a respeitar os sentimentos do outro e os meus próprios sentimentos.

Nós somos o que pensamos. Tudo o que pensamos lançamos no Universo e retorna para nós (Lei de Atração). É preciso, então, superar o medo (negativismo) para ajudar a vida. Trabalhar para criar um espaço dentro de si, de absoluta confiança no positivo. Assim, cria-se, com sua energia fluídica, situações benéficas e condições de aprendizado, e se sai da morbidez. 

Tudo tem uma função positiva na natureza - o progresso. "A cada nova existência o Espírito dá um passo no caminho do progresso; quando se despojou de todas as suas impurezas, não tem mais necessidades de provas da vida corporal" (L. E., questão 168). Tudo é ampliação da consciência do Espírito. Mesmo o que consideramos ruim está cumprindo também o seu caminho de evolução. Se assim não fosse, a Consciência Cósmica retiraria do Universo. É preciso estar preparado para passar pelas lições que se tem que passar. A dor já existia antes e sempre vai existir, porque "a Terra é uma escola que nunca vai fechar" (GASPARETTO: 2010). 

Muitas vezes, ficamos presos ao passado, presos a símbolos, significados que nada de importância têm para nossa evolução. O ontem não mais existe, é passado. Portanto, é preciso soltar todas as situações de mágoas, ressentimentos, rancores, rivalidade, de não perdão. O amanhã ainda não aconteceu, logo, também não existe, é uma possibilidade de existir (acontecer). Só existe o hoje, o aqui e o agora. Portanto, é preciso confiar plenamente na vida. Libertar-se das ansiedades, dos medos e das perturbações. Agradecer porque você nasceu!

Aconteça o que acontecer, é preciso ter paz no coração e o pensamento de que se vai conseguir resolver qualquer situação. Deus nos deu esse poder e, por isso, deixa-nos livres para escolher. Não há o certo ou errado, o que há é o necessário para o nosso aprendizado. Se nos colocamos em determinada situação, por mais difícil que seja, é porque a necessitamos para evoluir. É intransferível. São estágios da evolução Espiritual, aos quais ninguém pode pular sob pena de ter que repetir tudo em outra reencarnação. Quem acredita em Deus,  mantém-se sereno diante de qualquer dificuldade. 

Não basta apenas descobrir as causas do sofrimento, é preciso ter uma atitude imediata para fazer mudanças, saber onde se tem que mudar e que caminho deverá seguir para se curar. "Deus não faz por você, faz com você" (GASPARETTO: 2010). Não raramente, deixamos nos conduzir, quando apenas deveríamos ser orientados. As escolhas são sempre nossas. Para o Inteligência Cósmica o que importa é que estamos aqui e a situação vai nos promover, nos desenvolver. A nossa missão na Terra somos nós mesmos! É o nosso desenvolvimento, o nosso progresso, o nosso potencial, a nossa aprendizagem.

Deus nos criou e nos deu o livre-arbítrio. Tudo o que passamos são resultados de nossas escolhas. Se o outro nos influenciou é porque nos deixamos influenciar. Se existem obsessores é porque não somos totalmente vítimas. "Os Espíritos imperfeitos são instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens de bem (...) Eles não podem te ajudar no mal senão quando queres o mal" (L. E., questão 466). Nós nos permitimos sintonizar com os nossos inimigos, através dos nossos pensamentos mesquinhos e levianos. Se tivéssemos somente bons sentimentos, o mal não nos alcançaria. Logo, é necessário para se curar, o autoconhecimento, abandonar o lugar de vítima e assumir responsabilidades sobre a própria vida.

Se estamos reencarnados numa família cheia de conflitos, ou rígida ou pobre é porque encontramos afinidades com estes Espíritos e os atraímos para o mesmo núcleo familiar. Se estamos numa sociedade violenta e corrupta é porque necessitamos destas relações sociais para progredir. São escolhas nossas!

Kardec pergunta aos Benfeitores Espirituais, na questão 258, O Livro dos Espíritos: "_ Quando no estado errante e antes de reencarnar, o Espírito tem a consciência e a previsão das coisas que lhe sucederão durante a vida?". Respondem-lhe os Espíritos: " _ Ele próprio escolhe o gênero de provas que quer suportar e é nisso que consiste o seu livre-arbítrio".

Nós recebemos as provas porque as necessitamos para mudar, as merecemos. Sair dessa situação depende do estágio evolutivo de cada Espírito. Odiar aquele que lhe rejeitou é uma condição do grau de evolução daquele Espírito. Perdoar a rejeição sofrida também é uma condição do estágio evolutivo. Em outras palavras, rejeitar ou acolher a um ser é uma condição do estágio evolutivo daquele Espírito. Uns irão aprender mais rapidamente, outros poderão reencarnar "n-vezes", até compreender a Lei do Amor que rege o Universo, e poder evoluir. Contudo, todos irão evoluir. Deus dá a cada um as condições necessárias para que isto aconteça.

A pessoa que pensa negativamente, mesmo antes de agir, só poderá colher maus frutos. Se a pessoa afirma o tempo todo para o Universo que ela é aquilo de negativo, então não vai mudar, porque está formando o negativo. É muito ruim não poder mudar. Ou seja, se a pessoa é negativista, ignora a sua própria luz, sua potencialidade, seu poder de transformação, inevitavelmente, o mal será sua companhia. Se é positiva, determinada, compreende que "estar" numa determinada situação é uma condição passageira, irá se posicionar com coragem frente as dificuldades de suas escolhas e irá encontrar a vitória, o sucesso, porque todos nascemos para vencer. Nascemos para brilhar!

"Ser" é um estado permanente (sou Espírito), "estar" é uma condição momentânea (estou encarnado), é um estado passageiro. Nós não somos pobres, estamos pobres; nós não somos feios, estamos feios; nós não somos doentes, estamos doentes; nós não somos maus, estamos maus, nós não somos carne; estamos encarnados, porque em algum momento de nossa existência pretérita ou atual, escolhemos "estar" nesta ou naquela condição, para aprimorar o que verdadeiramente somos - consciência (luz).

Quando acreditarmos que somos parte do Universo, e que podemos manipular a energia cósmica e transformar tudo à nossa volta, através do nosso pensamento, compreenderemos o que Jesus nos afirmou: "_ Vós sois deuses" (João 10: 34). " _Podeis fazer tudo o que faço e muito mais" (João 14: 12). Jesus nos mostra que como Ele, somos Espíritos imortais e, que, através da virtude que emana do nosso Espírito, podemos até mesmo curar. Com estas afirmativas, Jesus deixa para o homem a esperança de uma vida progressa.

Todos somos eflúvios divino. Comumente, não nos colocamos como filhos do Criador, nos referindo apenas a Jesus Cristo, como o "único Filho de Deus", como se não fossemos. "Somos seus filhos, uma vez que somos sua obra" (L. E., questão 77). Jesus mesmo afirma na oração que nos ensinou: "_ Pai Nosso...". Então, criamos uma distância do Divino, esquecendo desse poder de transformação que emana de nossa alma, uma vez que somos princípio inteligente. Se há pensamentos negativos é porque existem sentimentos negativos. É preciso se libertar deles e deixar o que de melhor existe em si fluir.

Transformando a ansiedade em serenidade, não importa em que situação você se encontre, a paz estará contigo, porque você é paz. Transformando a mágoa em perdão, não importa a situação que você se encontre, o amor estará contigo, porque você é amor. Transformando o medo das sombras em luz, não importa a situação em que você se encontre, a verdade estará contigo, porque você é consciência, e nasceu para brilhar. Que Assim Seja!

Luz e Amor!



"E Jesus lhe disse: Eu vim a este mundo para exercitar um juízo, a fim de que os que não vêem, veja, e os que vêem, se tornem cegos. E ouviram alguns dos fariseus que estavam com ele, e lhe disseram: Logo, também nós somos cegos? Respondeu-lhes Jesus: Se fosseis cegos, não teríeis culpa; mas como agora mesmo dizeis: Nós vemos, fica subsistindo o vosso pecado" (João, IX: 39-41).

(Muitos os Chamados e Poucos os Escolhidos, cap. XVIII; 11. O Evangelho Segundo o Espiritismo)

domingo, 12 de abril de 2015

REENCONTRO COM DEUS




Em 29/03/2015; às 11:00 hs.

Tenho me sentido como um ferro velho retorcido, depois de passar por todas essas cirurgias de reconstrução de face. A Espiritualidade, certa vez, disse-me que as minhas dores eram polimento para o Espírito, que hoje estou melhor, com menos ferrugem na alma. De fato, estou melhor! A Doutrina Espírita não elimina as nossas dores e sofrimentos, não ensina a ser masoquista e nem nos livra de nossas provas e expiações, mas, convida-nos através dos ensinamentos do Cristo, a perceber a outra face da dor - o amor.

Pensei que seria menos doído após a cirurgia, que acordaria da anestesia e despertaria, como por encantamento, para uma nova vida, sem sofrimento ou angústia. Finalmente, tudo seria diferente. Com o meu osso regenerado, eu estaria inteira para "encarar" a vida lá fora. No entanto, estou presa dentro de mim. Não compreendo o que está acontecendo, mas, vencer esta etapa ainda não me fez reencontrar comigo mesma, e, consequentemente, nem com a vida lá fora. Olho para o espelho e ainda não me vejo, volto-me para dentro de mim, e não me encontro. Sem me encontrar, não encontro forças para prosseguir.

Um irmão da Casa Espírita costumava dizer que somos todos imediatistas, bem não desejamos uma coisa e já queremos recebê-la de imediato. E logo conseguimos conquistar, já estamos insatisfeitos, querendo mais outra coisa... e outra. A nossa alegria é efêmera, proporcional as nossas conquistas. Mal conquistamos e a nossa alegria parece que já acabou!

Fico pensando que esta insatisfação é necessária para que continuamos a evoluir, é um movimento natural. Entendo que todos bens terrenos, os sonhos e os desejos, tudo são meios necessários para que possamos progredir material e moralmente. Se os sonhos acabassem a vida estacionaria. Se nos dessemos completamente por satisfeitos a cada conquista, possivelmente, estacionaríamos conformados, e, o propósito da reencarnação é a evolução do Espírito. Compreendo que para evoluir é preciso passar por transformações sucessivas. Por estarmos em movimentos constantes, creio que essa insatisfação seja produto desses movimentos, que contribuem para essas transformações. Quando ocorre a transformação, o trabalho já realizou, então, cessa está insatisfação. A alegria plena é para os Espíritos Evoluídos. No mundo de provas onde vivemos, a alegria é relativa.

Meu rosto já teve tantas formas, e, tantas deformações, que estou confusa. A cada cirurgia, já contam quinze, eu acredito que vou me reencontrar. Tinha um rosto bonito, um sorriso perfeito, depois, já não existiam mais. Reconstrói e desconstrói, essa é a minha passagem pela vida terrena, recomeçar... recomeçar e... recomeçar. E, de tantos recomeços, sinto-me sem saber onde chegar.

Contudo, eu não me sinto no direito de não estar bem. Estou agradecida ao senhor meu Deus, por me permitir, a cada dia, poder recomeçar. Não é falta de reconhecimento em Deus, disto eu estou certa. Mas, a percepção dos meus vários "eu" que me acompanha nesta existência, das múltiplas faces, coloca-me em conflito interno. Eu olho-me no espelho e não consigo mais perceber quem eu sou. Eu pareço me ver além do espelho. Estou presa a estas imagens, presa a essas percepções e, isto, muitas vezes, apavora-me, porque sei que eu preciso me reencontrar. Preciso saber quando foi que me perdi de mim mesma, e isso me causa dor.

Não foram somente os sonhos desfeitos inúmeras vezes, projetos escritos a lápis por saber que teria que apagá-los e reescrevê-los diversas vezes. Uma vida onde parece que nada construí de concreto, de edificante, parecendo que tudo foi tempo perdido. E não são somente de bens materiais a que me refiro não, mas, refiro-me ao meu "eu" interior esfacelado, retorcido, machucado. Reconstruir o corpo físico tem sido sofrido, demorado, revolvido de muitas alegrias e tristezas simultâneas, um misto de sonhos e frustrações constantes. Porém, reconstruir a minha alma mitigada pela dor, encontrar o que dela existe, está sendo uma tarefa muito, mas muito árdua.

Sei que estou, novamente, começando um novo recomeço, ainda existe uma longa estrada para percorrer. O osso foi reconstruído, mas, há um longo processo de reabilitação para o corpo e para o Espírito. É preciso respeitar os limites do corpo, vencer cada etapa. O organismo físico tem que se readaptar as novas mudanças, afinal, foram vários anos tendo que se moldar as várias cirurgias, incisões nos tecidos, implantes e retiradas de próteses, perda de massa muscular, atrofiamento nasal, deformação da arcada dentária, desgaste da articulação mandibular, colocação do "distrator ósseo", um procedimento que leva não só o tecido ósseo, mas também o tecido mole de uma região para outra da face, muito traumático. Não será de um dia para o outro, apesar de tudo ter corrido com maior sucesso, que tudo vai voltar ao seu eixo num único instante, ou, num "piscar de olhos". Mas, vai voltar.

Para quê pressa, se eu tenho esperança?

O corpo físico sofreu diversas mudanças para se adaptar as várias faces ou fases. O Espírito experimentou a dor da mutilação física, a alegria da reconstrução, novamente a dor da mutilação, e, outra vez a alegria da reconstrução, e, assim, sucessivamente. Bem como, conheceu a dor moral, a rejeição, o constrangimento, a discriminaçao e, até mesmo, a solidão. Mas, se beneficiou com a luz da esperança, raio do amor divino e conheceu a solidariedade da providência divina. 

Silenciar em mim mesma, dentro da minha própria dor, neste momento, parece-me necessário para me encontrar com o Deus interior, que habita em cada um de nós, e que não se cansa de aguardar por este reencontro. O encontro comigo mesma, com a minha própria essência, esse, provavelmente, seja o verdadeiro reencontro com Deus.

"_ Que é Deus?" (Livro dos Espíritos).

"_ Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas" (As Causas Primeiras. O livro dos Espíritos, cap. I).

Não há efeito sem causa. Vemos constantemente uma imensidade de efeitos, cuja causa não está na humanidade, pois que a Humanidade é impotente para produzi-los, ou, sequer, para explicá-los. A causa está acima da Humanidade. É a essa causa que se chama Deus.

A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem o confunde, frequentemente, com a criatura, da qual lhe atribui as imperfeições. Mas, à medida que o senso moral se desenvolve nele, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas, e dele faz uma ideia mais justa e mais conforme a sã razão, embora sempre incompleta (L.E.).

A Doutrina Espírita tem como princípios básicos: Deus; a imortalidade da alma; a comunicabilidade com os Espíritos; a reencarnação e; a evolução. Deus é o criador de tudo. Ele é onipotente (pode tudo), onisciente (sabe tudo) e onipresente (está em toda parte). Deus ainda é soberanamente justo e bom, porque dá a cada um segundo o seu merecimento, e, em Deus não existe o mal, visto que Ele é amor. É misericordioso, pois que, sofremos bem menos do que merecemos, por graça de sua misericórdia, que é o "analgésico" para nossa dor. O merecimento está atrelado a algo que se precisa, tem que haver um significado, uma serventia. Assim, merecer é você ter o que é necessário para o seu desenvolvimento, justo é ter o necessário (GUIMARÃES, A.: 2014).

A Doutrina Espírita esclarece que a dor não é um castigo de Deus, não vem para punir os pecadores, como reforça algumas religiões. A crença na existência de Deus, soberanamente justo e bom, leva-nos a perceber que o mal não existe, assim, a doença, também, não nos é dada por Deus, somos nós mesmos que a criamos. Segundo Anete Guimarães, em sua palestra "A Justiça Divina Segundo o Espiritismo":

"_ O que vos parece o mal, nada mais é que a ignorância do bem" (Anete Guimarães).

A ignorância não é um estado permanente, é transitório e vai passar, porque, segundo a Doutrina Espírita, estamos reencarnados para evoluir. Assim sendo, o mal nada mais é do que um processo natural de desenvolvimento humano. Todos iremos passar por este estágio de desenvolvimento. O que não tira a nossa responsabilidade sobre ele. "Você é responsável pelo mal que faz, mas também pelo bem que deixa de fazer" (L. E.).

Afirmar que o mal existe é negar a presença de Deus em todas as partes. Logo, Ele não seria onipresente, nem onisciente, e não seria todo-poderoso. "Deus não criou o mal; Ele estabeleceu leis, e estas são sempre boas, porque ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente, seria perfeitamente feliz; porém, os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempre as observam, e é dessa infração que provém o mal" (L. E.). Causamos o mal por desconhecer a Lei do Amor, ensinada por Jesus, o Cristo.

A dor, segundo estudiosos da área, é morte celular. É um sinal fisiológico e não patológico. A dor não é um aviso de doença, mas de prevenção contra a doença. Ela indica que algo está errado no organismo, como expõe muito claramente a Drª. Anete Guimarães (2010). Logo, a dor não é castigo de Deus, ela existe para nossa preservação. A dor avisa que o comportamento que se está tendo é prejudicial ao organismo. Sem a dor não mudaríamos este comportamento (GUIMARÃES, A.: 2010).

A dor moral (sentimento) também existe. Na dor moral a pessoa não sabe identificar onde dói. Dói tudo. Os médicos denominam de dor "difusa", a dor em todo o corpo. Isto acontece, segundo Anete Guimarães (2010), porque é liberado para o organismo, quando somos movidos pela raiva, medo, ansiedade: cortisona, adrenalina, entre outras substâncias tóxicas, que produzem morte em todas células do corpo. A dor moral avisa que estamos nos comportando de forma errada, prejudicial ao organismo e que precisamos mudar o nosso comportamento, para o nosso bem. Muitas doenças, hoje, são aceitas pela ciência como produtos da mágoa, do ciúme, da raiva, como: o câncer, doenças renais e a própria depressão obsessiva.

Francisco Xavier retrata bem está situação quando diz: "_ A evolução só se dá através da desidratação. Ou você aprende suando ou chorando". Em outras palavras, ou o Espírito evolui através do trabalho (suor), ou, através do sofrimento (lágrimas). Para eliminar a dor é preciso buscar a causa, seja no comportamento, seja no sentimento, ou no que se esteja fazendo naquele momento. Se não se consegue identificar, então, deve-se buscar a origem do problema. Como ensina a filosofia Espírita: "_ Conhece-te a ti mesmo".

Comumente, culpamos o outro por nossas angústias, dores e sofrimentos. Quando colocamos a culpa no outro, parecemos mais leve, porém, é só impressão. O melhor é olhar para si mesmo e buscar identificar a causa do mal estar. Ninguém tem culpa por nossa dor. Se está doendo é porque me comportei mal: por egoísmo, por orgulho, por vaidade, por avareza, ou, por ir de encontro com a vontade de Deus (rebeldia), causando prejuízo a minha saúde física ou espiritual. O que o outro faz é um problema só dele. Se me atinge é porque me comporto mal diante da atitude do outro. Ao invés de culpar o outro, modifique-se!

O rancor é a base da obsessão. O obsessor aguarda séculos a oportunidade para se vingar. Logo, para se curar da obsessão é preciso mudar a base, o sentimento. Mudar o pensamento para não entrar em sintonia com o mal. O Espírita tem ainda um motivo maior para a indulgência para com os inimigos. Pois que, tem conhecimento que a maldade não é o estado permanente do homem, mas decorre de uma imperfeição momentânea, e que da mesma maneira que a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom (E. S. E., cap. XII; 5).

Somente o amor transcende a morte. "O amor ama por causa do amor". Independente de ser dor física ou moral, a dor é causada pelo nosso mal comportamento. Mudando o nosso comportamento, podemos curar a nossa dor. Substituindo nossos vícios por virtudes: perdoando, praticando a caridade, sendo solidários, podemos aliviar a dor.

Este é o reencontro que devemos ter conosco mesmo: buscar Jesus e sair da infância espiritual - a ignorância, evoluir para reencontrar o amor que germina dentro de todo ser. Deixar o comportamento animal arqueológico (primitivo) e compreender que evoluímos para condição de homo-sapiens, já trazemos na consciência o sentido do bem. "Procurai a origem desses acessos de demência passageira, que vos assemelham aos brutos, fazendo-vos perder o sangue frio e a razão; procurai-a, e encontrareis quase sempre por base o orgulho ferido" (E. S. E.).

Somos feitos a imagem e semelhança de Deus. Somos feito da essência divina, do amor. Jesus está de braços abertos para nos libertar do sofrimento, basta segui-lo, como modelo e guia. "_ Vinde a mim, todos os que andais em sofrimento, e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mateus, XI: 28-30). Evoluir também é uma escolha. Que está seja a sua. Que Assim Seja!

Luz e Amor!


"E assim, tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles. Porque esta é a lei e os profetas" (Mateus, XXII: 334-40) 
(Amar o próximo como a si mesmo, cap. XI; 2. O Evangelho Segundo o Espiritismo)