sexta-feira, 27 de março de 2015

O CAMINHO DA PRUDÊNCIA



Em 14/03/2015; às 08:00 hs.

Enquanto aguardava a revisão da cirurgia para conhecer qual seria a etapa seguinte, rogava à Deus que a Espiritualidade continuasse orientando ao médico, e, guiasse-nos para que não fossemos levados por caminhos tortuosos que a imprudência bem sabe conduzir: "_ Senhor, dai-me discernimento para perceber o que pode e o que não pode ser mudado".

A prudência ensina que, muitas vezes, parar é sinal de maturidade espiritual. A sabedoria conduz para o bem, a mediocridade para a ruína. Nem sempre seguir em frente significa fé inabalável no Criador, mas, insensatez, arrogância e vaidade, frutos da nossa imperfeição. A fé deve seguir a razão. Não devemos confundir fé com presunção. A fé verdadeira leva-nos a crer nas mãos de Deus sobre todas as coisas. A presunção faz-nos acreditar senhor de todas as coisas.

Então, o médico recebeu-me com um largo sorriso de bem-aventurança, e confessou-me: "_ A formação do osso me surpreendeu, eu não acreditava!". Ele sempre brinca que o meu Anjo da Guarda é poderoso. Poderoso é somente Deus, que permite o auxílio dos Bons Espíritos nas aflições da vida, mostrando-nos que Jesus está conosco. "Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque sou teu Deus; eu te esforço e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça" (Isaías 40, 11). 

Não mais seguiremos com nova cirurgia, a colocação do "distrador ósseo" nesta região seria muito complicado. Eu não tenho o côndilo (articulação), não havendo mais necessidade alguma desse procedimento, pois que, já não seria mais funcional. Seria meramente estético, o que poderemos fazer mais adiante com a colocação de um "poréx" (prótese), se houver precisão, o que eu não acredito, pois, já não vejo uma "perfeição" estética como algo que irá mudar a minha vida. Eu sou muito mais do que um rosto bonito. Assim, o próximo passo é o implante dentário, este sim, um procedimento necessário para que eu volte a mastigação, o que será possível somente depois do prazo de recuperação.

Estou com algumas cicatrizes à mais no meu rosto. E, possivelmente, algumas à menos na minh'alma. Muitas vezes, para se curar uma ferida profunda é necessário abrir uma outra. Reconhecer em tudo o que recebo uma manifestação do amor de Deus, tem me feito sentir mais fortalecida para cumprir as minhas provas e expiação nesta existência terrena. E, tem me revelado um significado maior para o sofrimento - conhecer a prudência, mãe de todas as virtudes. "Sem a virtude da prudência não há nenhuma virtude" (São Tomás de Aquino)

O agir humano tem uma finalidade, é preciso determinar os meios, os passos para se chegar lá. Para São Tomás de Aquino,  "a virtude da prudência é aquela que dispõe os meios para se alcançar o fim". Segundo ele, prudência não é o mesmo que "cautela", ou "esperteza", como muitos pressupõem. A prudência é a virtude que põe as coisas em ordem.  Assim, prudência é "virtude da decisão certa".

São Tomás de Aquino mostra que a prudência pode ter três sentidos: falsa; imperfeita e perfeita.

A falsa tem uma finalidade errada. Se a finalidade for errada não é virtude, por exemplo: "eu quero se rico, ter muito dinheiro na vida". Ter dinheiro não é uma finalidade e, sim, um meio. O dinheiro é um meio para se obter algo. Na imperfeita, a finalidade é boa mais não última, é uma parte, uma secção. Ou seja, tem duas razões: um fim parcial e não demanda (determinação). Exemplo: decidir ser casto (celibato) para alcançar o céu. E a perfeita, é aquela que delibera, julga e comanda para vida toda. Segundo São Tomás de Aquino, a finalidade da vida terrena está na vida eterna.

Nossos maus instintos são decorrentes da imperfeição do nosso próprio Espírito, e não da nossa organização física. Caso contrário, o homem estaria livre de toda e qualquer responsabilidade sobre os seus atos. Por isso, depende do homem melhorar, já que este goza da plena liberdade de fazer suas escolhas. "Para fazer o bem, é sempre necessária a ação da vontade, mas para não fazer o mal, bastam frequentemente a inércia e a negligência" (E.S.E., cap. XV;10).

O reconhecimento da imprudência como causa dos nossos males físico e espiritual gera na alma a dor moral. A ação movida pelo egoísmo, vaidade e orgulho é um agir sem sabedoria. Por meio dos nossos vícios, seccionamos a nossa trajetória espiritual. Logo, somos os agentes do nosso próprio sofrimento. Senão encontramos as causas nesta vida, trata-se de uma expiação de uma existência passada. Conquanto, todo sofrimento tem um fim em si mesmo. Sofrer por sofrer seria um contra senso à Lei do Amor. Deus é inteligência suprema, nada fez ou permite que não seja com um fim. O sofrimento existe para que reconhecendo as nossas imperfeições, e, arrependidos, possamos retornar ao Pai Celeste, que nos aguarda em uma vida futura.

Quanto mais profundamente abalado estiver o Espírito, tanto mais sofre o corpo físico. É preciso dominar a rebeldia do Espírito para curvá-lo diante da vontade do Pai. Em tudo devemos submeter-nos a vontade de Deus. Tudo na Terra é herança de Deus. Resignação não significa não ter vontade própria, sonhos, desejos, mas, aceitar de bom coração os desígnios de Deus. Obediência é o consentimento pela razão; resignação é o consentimento do coração (E.S.E.). Ser obediente é ser manso e humilde de coração, como ensina Jesus. Ser resignado é esperar em Deus, senhor de todas as coisas no Céu e na Terra. É o sentimento do dever cumprido que dá ao Espírito a tranquilidade e a resignação. Que os meus projetos possam estar dentro dos propósitos de Deus. Que Assim Seja!

Luz e Amor!



"Bem-Aventurado o homem que me dá ouvidos, velando às minhas portas cada dia, esperando as ombreiras da minha entrada. Porque o que me achar, achará a vida, e alcançará o favor do Senhor  (...)" (Provérbios 9: 34-35).


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"(...) Quem se faz instrutor deve valorizar o ensino aplicando-o em si próprio" (Joanna de Ângelis.