Em 01/11/2014; às 09 hs.
Não há expressão mais verdadeira
do que esta: “só damos valor depois que
perdemos”. Por sermos seres ainda tão ingratos fruto do orgulho e vaidade
que habita em nós, levamos muito tempo para dar o devido valor ao que de fato
tem valor na vida, a própria vida, e, muitas vezes, quando damo-nos conta, já
não há mais tempo. Apegados às coisas tão pequenas, as faltas alheias, aos
defeitos, as imperfeições, e acreditando-se superior por conta da soberba e
arrogância próprias da imperfeição humana, deixamos de enxergar a flor que
brota do terreno árido.
Então, quando percebemos que já
não há mais tempo, nasce o desconsolo da alma, o desespero de nada mais poder
fazer. Perda significa esta privação de nada poder fazer. A pessoa sente esta
privação como a pior dor do mundo – o luto. O luto é o sentimento de tristeza
profunda pela perda. A dor nos desequilibra. No luto, como diz Freud, “é o mundo que se torna pobre e vazio; na
depressão é o próprio eu”. A dor da perda não pode ser avaliada. É preciso
antes se perder na dor, para depois poder se encontrar novamente no amor. “A
dor é o polimento da alma”.
O luto é uma emoção iminente ao
ser humano quando ele perde alguém, ou seja, assim que uma ruptura o distancia
do ente querido através da morte. Desta carência nasce um sentimento profundo
de tristeza ou compaixão, a qual se manifesta de natureza positiva ou negativa,
de mínima ou de maior intensidade.
O luto não se restringe somente a
morte, ele está presente também em outras privações, na separação conjugal,
divórcio; na perda de um emprego, promoção; na aposentadoria, a aposentadoria
trás para muitos o sentimento de morte; um fato da vida como mudar de cidade e
deixar os amigos. Muitos fatores trazem esse pesar.
Diante do luto, alguns se
perguntam incrédulos: “_ por que isso
aconteceu?”. Outros procuram manter a pessoa amada, passando a ver e ouviu
a sua voz, uma forma de negação. Alguns desenvolvem sentimentos de culpa: “_ por que eu não evitei isso?”.
Inicia-se um processo de sofrimento e desorganização que pode levar a
depressão.
Tentar negar ou evitar esse
sentimento pode acarretar danos maiores futuro. “A dor se torna suportável quando acreditamos que ela terá um fim e não
quando fingimos que ela não existe” (Allá Bozarth-Campbell). O processo
considerado “patológico” pelos especialistas tem duas reações opostas: fica-se
preso ao luto (por exemplo: a mãe que continua arrumando o quarto do filho), ou,
nem se quer entra nele (ficar indiferente, não chorar, agir como se nada
tivesse acontecido), neste caso, a dor fica guardada em algum lugar e, um dia,
ela se manifesta.
O vazio da morte existe porque
não pensamos na morte como parte do corpo. A morte não está separada do corpo.
Esse distanciamento da morte faz parecer que nada mais existe depois do corpo, que
não existe vida após a vida, só o vazio deixado pela pessoa querida, que leva
consigo parte do nosso sentimento. Assim, quando a morte acontece nos
amedronta, nos machuca a ponto de perdermos o sentido da vida, “a ponto da morte do outro nos matar”.
Jesus, com o Cristianismo, trás
uma nova proposta que oferece um novo sentido a vida, mudando a estrutura do
pensamento, centrado no amor. O ensinamento do Evangelho se resume no amor. “O amor é a síntese da sabedoria
universal”. Jesus voltou para nos mostrar à imortalidade da alma. A morte
não é aniquilamento, a morte é a revelação da vida.
O homem compõe-se de corpo e
Espírito: o Espírito é o ser principal, racional, inteligente; o corpo é o
invólucro material que reveste o Espírito temporariamente. Existem, portanto,
dois mundos: o corporal, composto de Espíritos encarnados; e o espiritual,
formado dos Espíritos desencarnados.
O Espírito é a alma das pessoas
que viveram na Terra. Depois da morte prosseguem exatamente iguais, não se
transformam nem em anjos, nem em demônios. Sobre o retorno da vida corpórea à
vida espiritual, Kardec pergunta aos Benfeitores Espirituais: “_ Em que se
torna a alma no instante da morte?”. Respondem-lhe os Espíritos: “_ Volta a ser
Espírito, quer dizer, retorna ao mundo dos Espíritos, que deixou
momentaneamente” (L. E. questão 149). A morte não interrompe o ciclo da
afetividade daqueles que verdadeiramente se amam, eles voltam para nos mostrar
isso.
O Espiritismo trás a consolação
na Lei de causa e efeito, mostrando que nada acontece por acaso, mas que em
todo efeito há uma causa. O temor da morte é um efeito da sabedoria da
Providência e uma conseqüência do instinto de conservação. À medida que o homem
compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui. O apego as coisas
terrenas também é uma das causas do medo da morte, lastima-se por elas a perda
dos gozos terrenos, como se não houvesse maiores gozos de uma vida futura. As
cerimônias fúnebres também contribuem para essa visão de que nada mais existe
além-túmulo, provocando mais terror do que trazendo esperança, reforça a
destruição do corpo e pouco contempla a sublimação do Espírito.
Allan Kardec pergunta aos
Benfeitores, Livro dos Espíritos, questão 961: “_ No momento da morte, qual é o
sentimento que domina a maioria dos homens: a dúvida, o medo ou a
esperança?”. No que eles respondem: “_ A
dúvida para os céticos endurecidos, o medo para os culpados e a esperança para
os homens de bem” (L. E., 962).
Segundo os Amigos Benfeitores, “morrer não dói”. Na questão 154, L.
E., os Benfeitores revelam a Kardec que “o
corpo sofre, frequentemente, mais durante a vida que no momento da morte; neste
a alma não toma parte. Na morte natural, que chega por esgotamento dos órgãos,
em conseqüência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber; é uma lâmpada
que se apaga por falta de alimentação”.
A lágrima que cai no instante da
morte (a última lágrima) é de causa física. A ciência explica que os
esfíncteres alargam e a lágrima cai. O Espírito mais evoluído, que compreende
que a morte não é o fim, alegra-se em livrar-se do invólucro corpóreo que o
prendia ao mundo terreno e sente-se feliz por novamente gozar da liberdade.
Alguns Espíritos, ainda com a perturbação da morte, assistem ao sepultamento do
seu próprio corpo, agradecendo-lhe a morada. “Na morte, o Espírito sai da escravidão; no nascimento, entra nela”
(L. E. questão 339).
Quando alguém querido morrer, não
lamente a sua partida. Agradeça a sua existência na Terra. Reviva os momentos
felizes e eles o alcançarão em pensamento e vibrações. Ore por ele, interceda
por ele, e quando chegar o momento da partida irá se encontrar com ele. Os
Espíritos ficam sensibilizados ao lembrarem-se deles os que amaram na Terra. Se
felizes, aumenta-lhes a felicidade; se infelizes, será para eles um alívio.
A prece não pode ter o efeito de
mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora experimenta alívio,
porque é um testemunho de interesse que lhe dá, e o infeliz é sempre aliviado
quando encontra almas caridosas que se compadecem de suas dores. Cristo disse
aos homens: ”Amai-vos uns aos outros”.
Essa recomendação encerra a de empregar todos os meios possíveis de seu
testemunho de afeição, sem entrar com isso em nenhum detalhe sobre a maneira de
alcançar esse objetivo (KARDEC, Livro dos Espíritos, questão 664-665).
O dia da comemoração dos mortos é
mais especial para os que ficaram, e querem manifestar que se pensa no Espírito
ausente. O túmulo representa apenas a imagem. Os Espíritos ali comparecem pelo
apelo do pensamento dos amigos ali presentes, o que faria em qualquer outro
dia, e não pela multidão indiferente. É a prece que santifica o ato de lembrar;
pouco importa o lugar, se ela é ditada pelo coração (L. E. questões 320-323).
Conforme Allan Kardec apresenta
no capítulo II, Penas, Gozos Futuros, “Crer
em Deus sem admitir a vida futura seria um contra-senso. O sentimento de uma
existência melhor está no foro íntimo de todos os homens. Deus não o colocou aí
em vão. A vida futura implica a conservação de nossa individualidade depois da
morte. Que nos importaria, com efeito, sobreviver ao nosso corpo se nossa
essência moral deveria se perder no oceano do infinito? As conseqüências para nós
seriam as mesmas que o nada” (L. E. questão 959).
A completa felicidade prende-se a
perfeição, isto é, a purificação do Espírito. Em virtude da lei do progresso
que dá a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta, como de
despojar-se do que tem de mau, conforme o esforço e vontade próprios têm que o
futuro é aberto a todas as criaturas. O bem e o mal que fazemos decorrem das
qualidades que possuímos. Dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo
da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer que se
encontre, sem necessidade de lugar circunscrito (KARDEC, O Céu e o Inferno,
cap. IV).
A vida nem sempre nos dá uma
segunda chance. Então, ame, ame muito! Faça ao outro tudo o que gostaria que se
fizesse por você, como ensinou o nosso Mestre Maior, Jesus Cristo, assim saberá
que está fazendo o bem. Abrace aquela pessoa a quem você ama e diga-lhe o
quanto ela é importante, não importa as ofensas. Se avaliar a própria consciência
verá que tem parte nisso. E se não tiver, o que importa? Um motivo a mais para
perdoar! O que importa estar certo? O melhor é ser e fazer feliz. Ame e viva
intensamente esse amor, no final, é tudo o que vai lhe restar. Valorize essa
oportunidade que a vida lhe dá de caminhar juntos, talvez seja esta a última
experiência de viver como companheiros, como pais ou filhos, como
irmãos ou amigos, não a desperdice com frivolidades. Como diz a letra da
canção: “Ame como senão houvesse amanhã”,
porque amar faz toda diferença!
Que Assim Seja!
Luz e Amor!
“Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, credes também em mim. Há muitas moradas na casa de meu pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos o lugar. E depois que eu me for, e vos aparelhar o lugar, virei outra vez e tomar-vos-ei para mim, para que lá onde estiver, estejais vós também” (João, XIV; 1-3).
(Há muitas moradas na
casa de meu Pai, cap. III; 1. O
Evangelho Segundo o Espiritismo)